A revolução do smart metering no setor elétrico

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A revolução dos medidores inteligentes está na vanguarda da transformação do setor elétrico, impulsionada pela inovação tecnológica e políticas regulatórias progressistas. Estes dispositivos, centrais para a mudança, melhoram a eficiência e oferecem controle inédito aos consumidores sobre seu consumo de energia.

Esta evolução reflete uma nova era de autonomia energética, transformando consumidores em “prosumidores” e destacando a importância de alinhar as inovações tecnológicas com as políticas regulatórias para criar um setor elétrico resiliente e adaptado ao futuro, equilibrando as demandas de um mundo em rápida mudança com a jornada rumo à sustentabilidade.

Popularização dos smart meters e seus motivadores

A liberalização do mercado de energia, notadamente nos segmentos de baixa tensão, sinaliza a necessidade imperativa dos medidores inteligentes, estabelecendo-os como ferramentas cruciais para fomentar a autonomia e a eficiência energética. Eles empoderam os consumidores com a capacidade de tomar decisões informadas, baseadas em insights precisos sobre o consumo e custos energéticos.

Os “Sandboxes Tarifários”, sustentados por um ambiente de políticas regulatórias progressistas, servem como arenas experimentais para a validação de tarifas dinâmicas e modelos de negócio inovadores, em um contexto que preserva a integridade da rede e protege os consumidores.

Esta inovação destaca a importância dos medidores inteligentes não apenas na função de medição, mas também como peças-chave na promoção de uma gestão energética mais refinada e eficaz.

Cobrança flexível, justa e equilíbrio da rede

A adoção de medidores inteligentes está revolucionando o sistema tarifário de energia, pela implementação de tarifas variáveis que estimulam um consumo mais consciente e racional. Esta inovadora tecnologia habilita ajustes automáticos no consumo energético, favorecendo um aproveitamento mais eficiente da energia e contribuindo para a diminuição do estresse na rede elétrica.

Graças à capacidade de identificar períodos com tarifas mais baixas, os consumidores têm a oportunidade de aprimorar sua gestão de consumo energético, alcançando economias substanciais. Esta estratégia não apenas favorece a economia doméstica, mas também encoraja a adoção de hábitos sustentáveis, realinhando o consumo de energia com princípios de sustentabilidade e responsabilidade ambiental.

Sandboxes Tarifários como catalisadores para adoção massiva de medidores inteligentes

Os Sandboxes Tarifários emergem como uma inovação estratégica vital no setor elétrico, estabelecendo-se como plataformas experimentais para a validação de novas tarifas e modelos de negócio, sob um quadro regulatório preciso e bem estruturado.

Esta iniciativa ganhou um impulso significativo com a publicação da Resolução Normativa 966, em 14 de dezembro de 2021, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que delineou as diretrizes para a formulação e implementação de projetos-piloto focados em sistemas de faturamento inovadores. Além disso, a promulgação do Despacho 1.291, em 17 de maio de 2022, representou um marco crucial no apoio à inovação e à experimentação regulatória, tendo a CPFL Paulista à frente de uma colaboração com o iABRADEE (Instituto Abradee de Energia) e um consórcio de mais de 30 distribuidoras.

Essa medida não apenas enfatiza o potencial revolucionário de novas estruturas tarifárias para ampliar a eficiência energética, mas também realça o papel crítico que os medidores inteligentes desempenham ao fornecer dados precisos e indispensáveis para a condução desses experimentos.

Graças à habilidade dos medidores inteligentes de oferecer uma análise minuciosa do consumo de energia em diferentes cenários, eles se tornam elementos essenciais para o êxito dos Sandboxes Tarifários, traçando um caminho para um desenvolvimento abrangente e inovador dentro do ecossistema energético.

Popularização dos medidores inteligentes: desafios e oportunidades

A trajetória de implementação de medidores inteligentes no setor de energia elétrica é marcada tanto por oportunidades significativas quanto por desafios complexos. Entre os principais obstáculos, destacam-se a necessidade de ampliar a infraestrutura de telecomunicações, a importância de estabelecer padrões universais que permitam a interoperabilidade entre diferentes marcas de medidores inteligentes e sistemas como a Medição de Dados Centralizados (MDC) e a Gestão de Dados de Medição (MDM), além do risco de dependência tecnológica de fornecedores específicos, o que pode restringir a liberdade operacional das distribuidoras de energia.

Neste contexto, a Aneel desempenha um papel crucial na supervisão e regulação efetiva dos fornecedores de tecnologia, com o objetivo de garantir a interoperabilidade entre os diferentes sistemas e promover um ambiente de mercado competitivo e inovador. Para isso, é essencial que a regulação esteja alinhada com os interesses dos consumidores e com as metas de eficiência energética, prevenindo situações de dependência exclusiva de determinados fornecedores (lock-in) e estimulando a contínua inovação tecnológica no setor.

Habilitando o setor elétrico para a transição

MVNOs, comunicação segura na distribuição de energia e capilaridade

A adoção das Operadoras Móveis Virtuais (MVNOs) pelo setor elétrico marca um desenvolvimento inovador, particularmente no que tange ao aprimoramento da comunicação com os medidores inteligentes. Esta estratégia transcende a simples melhoria na coleta e transmissão de dados; ela é fundamental para uma gestão de distribuição de energia ágil e precisa, capaz de responder efetivamente às variadas demandas do sistema.

O apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a essa iniciativa sublinha o reconhecimento do papel crucial que as MVNOs desempenham em potencializar a eficácia das redes elétricas inteligentes (smart grids). Ao facilitar a comunicação contínua e segura dentro dessas redes, as MVNOs contribuem significativamente para a modernização e a sustentabilidade do setor elétrico.

Essa colaboração entre os setores de energia e telecomunicações, fortalecida pelo suporte do BNDES, ressalta o valor da inovação tecnológica como um pilar para o avanço sustentável do setor elétrico. Ao integrar as MVNOs no ecossistema de distribuição de energia, o setor está se equipando não apenas para atender às exigências atuais, mas também para antecipar e responder às necessidades futuras, promovendo um sistema energético mais resiliente, eficiente e adaptável às mudanças.

Superando obstáculos em áreas rurais

Na busca por superar desafios de implementação de medidores inteligentes em áreas rurais, limitados pela cobertura insuficiente das redes celulares, a tecnologia LoRa (Long Range) surge como uma solução promissora.

Esta tecnologia, conhecida por seu amplo alcance e baixo consumo de energia, possibilita a extensão da conectividade a locais remotos, facilitando a coleta e transmissão de dados de consumo de energia. A LoRa tem o potencial de transformar a gestão da rede elétrica em áreas rurais, permitindo respostas mais rápidas a falhas, otimizando a distribuição de energia e implementando tarifas dinâmicas adequadas às necessidades específicas do consumo rural.

Modernização dos sistemas de coleta e faturamento

Diante da necessidade de modernizar os sistemas de faturamento em resposta ao aumento de dados gerados por medidores inteligentes, o setor elétrico pode aprender com o setor de telecomunicações, que já gerencia grandes volumes de dados e complexidades de cobrança. Esta modernização visa a implementação de tarifas dinâmicas e personalizadas, inspirando-se nos sistemas de mediação de telecomunicações para permitir a cobrança precisa e flexível.

A transição para sistemas avançados como Gestão de Dados de Medição (MDM) e Medição de Dados Centralizados (MDC) promete uma bilhetagem quase em tempo real, melhorando a eficiência, a transparência e a satisfação do consumidor.

Contudo, esse avanço requer investimentos significativos em tecnologia e infraestrutura, além de uma atenção especial à interoperabilidade e à segurança dos dados, para evitar dependências tecnológicas restritivas e proteger a privacidade dos usuários.

Desafios e diretrizes para a Aneel na era dos medidores inteligentes

A adoção dos medidores inteligentes desafia o setor elétrico a se adaptar rapidamente às inovações tecnológicas e às expectativas dos consumidores. Neste contexto, a Aneel ocupa uma posição estratégica, orientando a transição para assegurar que os benefícios da digitalização sejam maximizados enquanto se mitigam os riscos regulatórios e tecnológicos.

Fundamental para o sucesso dessa transição é a implementação de padrões abertos e interoperáveis pela Aneel. Isso permite que os sistemas de medidores inteligentes se comuniquem eficientemente com as infraestruturas de distribuição existentes, otimizando a operacionalidade do sistema elétrico e promovendo uma integração tecnológica eficaz.

A Aneel deve promover um ambiente regulatório que estimule a diversidade e a flexibilidade das tecnologias de medição. Regulamentações que incentivem a competição no fornecimento dessas tecnologias garantirão soluções de alta qualidade e custo-benefício, beneficiando consumidores e estimulando inovações no setor.

A transformação em curso transcende aspectos puramente técnicos, sublinhando a necessidade de uma colaboração robusta entre os setores de energia e telecomunicações. Sob a liderança da Aneel, essa cooperação intersectorial é vital para uma transição suave para um setor elétrico mais sustentável, justo e eficiente.

A jornada para um sistema energético mais inteligente e sustentável exige não apenas a adaptação tecnológica, mas também uma governança regulatória ágil e visionária. A Aneel, ao desempenhar seu papel de facilitadora da inovação e da eficiência energética, é peça-chave para garantir que essa transição beneficie todos os brasileiros, estabelecendo as bases para uma nova era na gestão da energia elétrica.

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