Vieira mostra otimismo após reunião com Rubio e aponta início efetivo de negociações

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Após pouco mais de uma hora de reunião com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, anunciou o início do processo de negociação para os próximos dias. Os dois se disseram otimistas com o encontro, embora não tenham dado detalhes sobre os temas abordados, nem datas precisas sobre as próximas etapas.

Basicamente, foi um encontro para estabelecer o roteiro das próximas conversas, que devem culminar em uma reunião maior entre os presidentes Lula e Donald Trump, “o mais breve possível”, segundo nota do Departamento de Estado. Os dois lados querem aproveitar o momentum da “química” entre os dois chefes de Estado, embora até agora nada tenha acontecido para aliviar a pressão tarifária sobre o Brasil.

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Participaram da reunião ainda outros integrantes do governo americano, entre eles o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, que também assinou a nota. Na véspera, ele havia atacado o Brasil, justificando o tarifaço como retaliação a episódios não citados de censura e violação de direitos no país.

Primeiro, Vieira teve 20 minutos a sós com Rubio, que foi designado como o interlocutor do governo brasileiro pelo presidente Donald Trump após o encontro com o presidente Lula na reunião da ONU no mês passado. Em seguida, os demais representantes dos dois governos entraram, incluindo um do departamento de Defesa americano, o que indica a possibilidade de futuros entendimentos também nessa área —e até conversas sobre a Venezuela.

“Aspectos práticos” e pauta desenhada na mesa

“No encontro, prevaleceu a atitude construtiva e voltada a aspectos práticos, da retomada das negociações entre os dois países, em sintonia com a boa química e o que foi precedido, sobretudo, no telefonema, recente telefonema da semana passada entre o presidente Lula e o presidente Trump”, disse Vieira em Washington, após o encontro.

Fontes confirmaram a percepção transmitida pelo chanceler em declaração à imprensa, na qual ele respondeu apenas duas perguntas. O sinal é de que os dois lados terão uma agenda baseada em diversos temas que estão na mesa, o que inclui não só a revogação do tarifaço, mas também temas como a regulação de big techs e as exportações de soja para a China.

Caminho para negociação

O chanceler brasileiro disse que “foi um início, um princípio auspicioso de um processo negociador no qual trabalharemos para normalizar e abrir novos caminhos para as relações bilaterais”. Ele destacou o clima muito positivo da conversa, indicando que seguirá aberto o canal de diálogo e negociação.

Segundo Vieira, foi reiterada a posição de Lula sobre a necessidade de reversão do adicional de 40% de tarifa imposta ao país desde julho, que, explicou, ainda vai demandar novas negociações nos próximos dias.

“Nós já estamos trabalhando na montagem de uma agenda de reuniões, e manterei contatos diretos com o secretário Rubio nos próximos dias para monitorar o avanço e estabelecer prazos para o nosso encontro”, disse o chanceler.

Há um esforço para um encontro pessoal entre os dois presidentes, segundo Vieira, o que ele admite que pode ocorrer até na Malásia, em reunião da Asean (consórcio de países asiáticos) ainda este mês (dia 26). O esforço é para que seja logo.

Uma fonte destacou que a situação é bem melhor do que há dois meses, mas que está longe da normalidade. Permanece o desequilíbrio criado pelo lado americano, que vai requerer muito empenho e energia dos negociadores brasileiros para conduzir a relação bilateral ao seu leito natural.

Do ponto de vista político, a reunião manteve os dois governos em situação relativamente confortável. Se render frutos e as conversas passarem para uma nova fase, marca pontos para Lula e a diplomacia brasileira. Se não render, o governo vai colocar a culpa em Eduardo Bolsonaro e seu entorno, que, segundo fontes, mantiveram reuniões com pessoas do departamento de Estado americano nos mesmo dias em que Vieira esteve em Washington. E isso também tem rendido pontos para Lula.

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Para os americanos, pouco mudou, e a agenda econômica e política de Trump segue em curso, mas agora demonstrando alguma boa vontade para negociar com o Brasil, o que tende a reduzir pressões mais agressivas.

A avaliação dentro do governo é de que ainda é cedo para ter a visão completa, mas o impacto das próprias medidas americanas teria sido em grande medida absorvido localmente, com exceção de alguns setores, como móveis e máquinas.

Na reunião anual do FMI, realizada esta semana em Washington, o tema do tarifaço segue sendo colocado como um fator que escala a incerteza global, e houve cobranças para a retirada de medidas unilaterais de comércio.

Ainda que não haja um cronograma claro, a leitura no governo brasileiro é que o importante é não perder o momentum. Não à toa, Vieira, em sua fala, destacou que manterá contatos com Rubio nos próximos dias. “Dá tempo em uma reunião de alto nível de preparar um cardápio, se for o caso de não conseguir resolver em nível técnico, de temas que precisam ser levados aos chefes de Estado”, disse um interlocutor.

Resta saber se o aparente otimismo do governo brasileiro não será quebrado por recuos e gestos espalhafatosos de Trump, como o feito na semana passada contra a China e que derrubou os mercados no mundo inteiro.