Uma nova energia para um novo Brasil

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O Brasil tem sua chance única de construir um futuro sustentável e próspero, mas essa oportunidade depende de que se amplie a discussão sobre a transição energética para além da própria indústria da energia. Ela deve ser o pilar central da transição da nossa sociedade para uma sociedade mais próspera e justa e o maior programa social do governo.

Nosso país possui vantagens estratégicas incontestáveis. O Brasil é uma democracia consolidada com instituições que funcionam, não vive conflitos internos, mantém boas relações externas, tem uma base mineral e agrícola robusta e está bem posicionado para acessar os mercados globais. Combinadas a uma energia barata e renovável, essas condições podem reposicionar o Brasil no cenário mundial enquanto contribuímos com questão climática planetária.

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O panorama energético global mudou. O Acordo de Paris gerou expectativas de uma colaboração internacional na agenda climática. Mas, na prática, os grandes blocos econômicos não assumiram a responsabilidade de apoiar os países em desenvolvimento nas suas transições. Passaram a fortalecer suas próprias economias e indústrias, e a guerra na Ucrânia e a pandemia reforçaram essa tendência, tornando a segurança energética e a resiliência das cadeias produtivas locais a grande prioridade nacional para muitos países.

Com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, essa tendência se intensifica. O compromisso climático, infelizmente já enfraquecido, deve perder ainda mais força por um tempo. O novo governo americano vai retirar subsídios às renováveis, que lá são mais caras, e incentivar os combustíveis fósseis, especialmente o gás natural, garantindo energia barata para sua indústria. 

O Brasil precisa compreender que sua vantagem não está apenas na baixa emissão da energia renovável, mas, sobretudo, na sua competitividade. Deve parar de estragar essa vantagem competitiva encarecendo com encargos, subsídios e ineficiências nossa energia, para produzir bens competitivos globalmente, impulsionando a criação de empregos, o crescimento econômico e promovendo a arrecadação para financiar nossas políticas públicas.

Nosso potencial é gigantesco. Um estudo conduzido pela PwC Strategy, encomendado pela ABRACE, aponta um impacto econômico de até R$ 100 trilhões no PIB brasileiro, beneficiando toda a sociedade, inclusive o setor elétrico, que precisaria ampliar sua capacidade em 10 GW para atender à nova demanda industrial. 

O Brasil tem concentrado sua estratégia energética na expansão da oferta, sem garantir a demanda que utilize essa energia de forma produtiva. Esse modelo gerou uma sobra de energia de baixa qualidade, prejudicando o setor e a economia. Precisamos mudar agora esse foco para o consumo. 

Há inúmeras oportunidades na eletrificação de processos industriais, na recuperação da capacidade ociosa em novas rotas tecnológicas e no adensamento de nossas cadeias produtivas, na inovação tecnológica e mesmo na utilização do gás natural na descarbonização industrial, enquanto o hidrogênio e outras alternativas se provam viáveis. 

Para isso, é essencial que Executivo e Congresso assumam o compromisso com uma política industrial energética moderna e eficiente. A manutenção dos vetos presidenciais ao projeto de lei das eólicas offshore, por exemplo, é fundamental para evitar distorções no mercado e garantir um ambiente de negócios saudável.

Mas não é suficiente! Precisamos desmontar as armadilhas legais e regulatórias atuais para transformar a energia renovável em um motor de crescimento, inclusão e inovação para o Brasil.

O momento é agora, no ano da COP brasileira. Temos tudo para liderar essa nova fase do desenvolvimento global. Mas, para isso, é preciso agir com visão estratégica, colocando o interesse nacional em primeiro lugar. Nossa maior riqueza não é a energia que temos, mas como escolhemos utilizá-la para um novo Brasil.