Na terra do agro, o projeto Paisagens Sustentáveis e Inteligentes para o Clima no Oeste de Mato Grosso está ajudando a inovar as ações de sustentabilidade na região. Liderado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), em colaboração com Produzindo Certo, Proforest e Instituto PCI, a iniciativa visa otimizar o uso de recursos naturais que possam contribuir com a sustentabilidade territorial.
A iniciativa tem atuação em seis municípios da região: Tangará da Serra, Campo Novo do Parecis, Campos de Júlio, Sapezal, Diamantino e Alto Paraguai, que possuem juntos uma extensão territorial de mais de 5 milhões de hectares. Quase 40% desse território é ocupado por cadeias de commodities como soja, algodão, milho e gado. Cerca de 60% representam áreas com vegetação nativa, sendo a maior parte delas pertencentes a aproximadamente 1,37 milhão de hectares de Territórios Indígenas. No total, são quase 550 mil hectares de ativos florestais.
Neste cenário, a iniciativa visa gerar impactos positivos na paisagem dos municípios através do levantamento de dados e a sistematização e organização de informações de qualidade que busquem contribuir para promover o desenvolvimento sustentável. Ademais, busca integrar governo, setor privado e sociedade civil, por meio dos grupos de governança, em uma estratégia unificada, além de promover uma escuta ativa com os atores locais para que demandem ações complementares focadas no fortalecimento do desenvolvimento local.
A iniciativa é pioneira no país pois possui como eixo central a promoção de uma cultura de produção sustentável na região oeste do estado, com a implementação de ações de preservação ao meio ambiente na rotina agrícola, com garantia de melhorias na produtividade, conformidade legal e acesso a mercados, ao mesmo tempo em que promove inclusão social e fortalece a economia.
Para a transformação no uso da terra, a iniciativa estimula práticas agrícolas regenerativas, recuperação de áreas degradadas pelo uso inadequado do solo e restauração com a implantação de sistemas agroflorestais, além da participação de produtores rurais locais nas decisões.
A equipe e parceiros vêm conduzindo um esforço coordenado para engajar produtores de pequenas, médias e grandes propriedades na implementação de práticas sustentáveis na produção buscando alcançar, além de melhorias na propriedade e aumento da produtividade, a conformidade legal e aptidão para acessar mercados.
Junto aos pequenos produtores, a assistência técnica está sendo direcionada para as ações de restauração de aproximadamente 135 hectares através de SAFs (Sistemas Agroflorestais) e outras metodologias. O objetivo é restaurar áreas produtivas, margens de rios e nascentes (APPs – Áreas de Preservação Permanente), além de gerar renda para os produtores com a comercialização das espécies plantadas.
Para apoiar a restauração de duas bacias hidrográficas degradadas, que são fontes de abastecimento de um dos municípios, está prevista a restauração de áreas como contrapartida a um programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) em andamento. Além disso, está sendo realizada uma avaliação das responsabilidades de cada município em relação ao Código Florestal (passivos e ativos ambientais, CAR – Cadastro Ambiental Rural) para desenvolver uma estratégia regional conjunta de restauração, evidenciando a infraestrutura existente e suas lacunas para apoiar a cadeia do restauro, garantindo que as atividades sejam sustentáveis a longo prazo.
Desde o início da implementação, a iniciativa reuniu mais de 60 lideranças locais para discutir e planejar estratégias alinhadas às diretrizes e metas estaduais nos seis municípios de atuação. Isso reforça o compromisso multissetorial e mapeia as principais demandas, gargalos e oportunidades para ampliar os investimentos no território.
Entre as demandas observadas pelos atores locais estão: recuperação de áreas degradadas para regularização ambiental e produção de água; implementação e melhoria de projetos de PSA e incentivos econômicos para a manutenção da floresta; mapeamento das cadeias produtivas e implementação de Planos Municipais de Agricultura Familiar; assistência técnica para regularização e conformidade legal para acesso a certificações nas cadeias de commodities; validação do CAR e regularização ambiental e fundiária em assentamentos rurais.
Como estratégia de longo prazo, o projeto está desenvolvendo um plano de redução de emissões de gases do efeito estufa baseada no potencial de oferta de carbono das atividades executadas, incluindo restauração, assistência técnica para agricultura inteligente e regenerativa, emissões evitadas e conservação. A ideia é promover diferentes mecanismos de redução das emissões, considerando os desafios e oportunidades do mercado, por meio do engajamento e diálogo com os atores locais.
Compreender a complexidade de uma paisagem dessa magnitude não é uma tarefa simples, mas representa um avanço inicial na construção de um território potencialmente promissor para a geração de impactos positivos. O projeto busca associar produção de alimentos, tecnologia para alta produtividade agrícola e sustentabilidade, contribuindo para a agenda climática e solidificando um espaço estratégico para investimentos.
A estratégia tem representado um esforço coletivo e permanente para atrair novos parceiros, projetos e iniciativas que consigam contribuir para promover a transformação da paisagem.