Qual é o futuro das relações governamentais? Para Gui Athia, ex-presidente do Instituto de Relações Governamentais (Irelgov), o profissional que trabalha na área tem o desafio de ajudar o presidente e os membros do conselho de administração da empresa a entender a importância do diálogo com clientes, funcionários e administradores públicos.
“Precisamos levar os CEOs e conselheiros a ter posicionamentos ativos ou reativos sobre temas que são importantes para os stakeholders”, disse Athia, um dos participantes do primeiro dia do III Congresso Internacional de Relações Governamentais do Irelgov.
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O executivo defendeu que o profissional de RelGov do futuro precisa ajudar as empresas a se posicionar em um contexto em que pautas ideológicas, ambientais e sociais ganharam maior relevância para a sociedade e os partidos.
Durante sua apresentação, ele citou a Disney como exemplo de como não agir. Em 2022, a empresa escolheu não se manifestar quando o estado americano da Flórida, onde seu principal parque está sediado, aprovou uma lei proibindo as escolas de abordarem temas como orientação sexual e gênero.
Para Athia, a companhia adotou uma postura antiga: como a lei não atingia diretamente nenhuma unidade de negócio da Disney, os executivos decidiram não se posicionar. Indignados, os funcionários da companhia protestaram contra a medida.
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Depois da pressão pública, a empresa fez um pronunciamento contra a nova lei. Em retaliação, o governo da Flórida conseguiu aprovar a revogação dos benefícios fiscais que a Disney tinha no estado. “O governador decidiu rever uma concessão dada ao maior empregador do estado, que atrai bilhões de dólares todos os anos, por conta de uma pauta social”, pontuou o executivo.
Kelly Aguilar, sócia da Artha Consultoria Estratégica, concorda que o caso da Disney é um excelente exemplo da importância do profissional de RelGov. Para ela, o desafio para a carreira ainda é e continuará sendo a defesa de interesses dos clientes de forma veemente, legal e ética.
“No passado, as empresas achavam que quanto mais distante do governo, melhor. Hoje, elas sabem que quanto mais próximo, melhor”, afirmou Fabio Rua, vice-presidente de políticas públicas, comunicações e ESG da General Motors (GM).
O executivo contou que no começo da sua carreira, a profissão era vista como um bom adicional para o negócio, mas hoje já foi alçada ao status de essencial. Segundo ele, na GM, a diretoria executiva não toma decisões sem consultar a área de RelGov.
Tecnologia e diversidade
Ao longo do evento, também foi discutida a importância da tecnologia para o futuro da profissão. Bruno Perman, sócio da Perman Advogados Associados, ressaltou que é fundamental entender como utilizar as novas ferramentas de inteligência artificial para facilitar o trabalho do dia a dia, colhendo informações e acompanhando o que está acontecendo no Congresso em tempo real.
Perman, no entanto, defende que a tecnologia não pode substituir as relações interpessoais. Ele conta que depois da pandemia percebeu uma demanda maior de deputados e senadores por interações presenciais, seja por meio de conversas nos gabinetes ou ida a eventos. “Precisamos aproveitar o que a tecnologia nos oferece e usar como diferencial nessas relações”, disse o advogado.
Helga Franco, head de relações governamentais federal da Vale, concorda que o profissional de RelGov do futuro é aquele que consegue trazer tecnologia para os processos e é capaz de ler os relacionamentos do mundo virtual tão bem quanto os do mundo físico.
No painel em que participou, a executiva destacou a importância de ter um time de relações governamentais plural, diverso e preparado para navegar em um mundo que está em constante mudança. “Sem isso, não é possível fazer uma boa gestão de reputação”, disse Franco.