Tarifaço: em conversa com Trump, Lula pede a retirada da sobretaxa de 40%

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou por 30 minutos, nesta segunda-feira (6/10), com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em meio à escalada das tensões comerciais entre os dois países. No telefonema, Lula pediu a retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos nacionais e das medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras. Trump, então, designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para conduzir as tratativas.

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Em nota, o Palácio do Planalto informou que a conversa ocorreu em “tom amistoso” e teve como foco o destravamento dos impasses comerciais e a “restauração das relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente”.

Lula ressaltou que o Brasil é um dos três países do G20 com os quais os Estados Unidos mantêm superávit na balança de bens e serviços, argumento usado para contestar as justificativas econômicas apresentadas por Washington para o aumento das tarifas.

Os dois presidentes também concordaram em se encontrar pessoalmente em breve. O presidente brasileiro sugeriu uma reunião durante a Cúpula da Asean, na Malásia, e reiterou o convite para que Trump participe da COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém. Lula também se dispôs a viajar aos Estados Unidos em visita oficial.

Os líderes ainda trocaram números de telefone, com o objetivo de manter um canal direto de comunicação entre as duas Presidências — gesto considerado incomum na diplomacia bilateral recente.

Por parte dos EUA, Marco Rubio será responsável pelas negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda Fernando Haddad. O objetivo, segundo os governos, é construir um plano de redução gradual das tarifas e restabelecer a cooperação comercial entre os países. Alckmin, Vieria, Haddad, o ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira e o assessor especial Celso Amorim participaram da conversa.

Rubio tem sido uma espécie de porta-voz das ações do governo norte-americano contra o Brasil. Foi ele quem anunciou em 18 de julho a revogação do visto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator da ação penal à qual Bolsonaro foi condenado a 27 anos de prisão.

“A caça às bruxas política do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, contra Jair Bolsonaro criou um complexo de perseguição e censura tão abrangente que não só viola direitos básicos dos brasileiros, mas também se estende além das fronteiras do Brasil e atinge os americanos”, disse em julho.

O governo norte-americano tratou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe em 2022 como uma “caça às bruxas”. O mesmo termo foi usado em 9 de julho pelo presidente Donald Trump para justificar a imposição de tarifas de 50% a produtos brasileiros. À época, o governo de Trump afirmou que há “perseguição política, intimidação, assédio, censura e processos judiciais movidos pelo Governo do Brasil contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e milhares de seus apoiadores”, e citou o ministro Alexandre de Moraes como responsável por “ameaçar, perseguir e intimidar milhares de opositores políticos”.

Reaproximação após encontro na ONU

A conversa desta segunda-feira foi fruto de um entendimento preliminar entre Lula e Trump nos bastidores da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York, no fim de setembro. Na ocasião, os dois presidentes trocaram cumprimentos e decidiram manter um canal de diálogo para tratar da questão tarifária.

O próprio Trump afirmou, após o encontro, ter sentido “boa química” com o brasileiro. Lula, por sua vez, declarou que “aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível e aconteceu”, referindo-se ao diálogo com o republicano. Na nota do Planalto desta segunda, o presidente Lula disse que ambos “relembraram a boa química que tiveram em Nova York”.