Reforma ministerial está ‘adormecida’, diz líder do PT no Senado

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O senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder do partido na Casa, avaliou em entrevista ao JOTA que parte do problema enfrentado pelo atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva se dá porque “a maioria das lideranças que ocupam cargos do executivo do governo federal, não defende o governo nos estados”. Para ele, “no governo anterior, a maioria era 100% alinhada”, sendo essa uma reflexão que precisa ser feita pelo presidente.

O senador também disse que a discussão sobre uma reforma ministerial “está adormecida” e que Lula é apoiado pela “maioria absoluta” do Partido dos Trabalhadores para a eleição de 2026.

O petista comentou o episódio recente em que o líder do União Brasil na Câmara, deputado Pedro Lucas (MA), recusou o convite do governo para assumir o Ministério das Comunicações. Para ele, o comportamento demonstrou uma “infantilidade”, mas que não teria relação com a articulação política, comandada pela ex-presidente do PT e atual ministra Gleisi Hoffmann, e tampouco evidenciaria alguma fragilidade do governo.

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Carvalho falou ainda sobre a atual disputa interna para as eleições do PT, na qual apoia e vê favoritismo de Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara. Defendeu a reforma do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) com a taxação dos mais ricos. E vê possibilidade de avanço tanto nos temas da figura do devedor contumaz e da autonomia administrativa e financeira do Banco Central. Já sobre o projeto de anistia aos envolvidos na tentativa de golpe em janeiro de 2023, o líder não enxerga avanço.

Confira o ponto a ponto da entrevista:

Reforma ministerial e questão regional

“Eu não sei o que está na cabeça do presidente em termos de reforma ministerial. Isso é uma coisa muito do titular. Esse negócio de reforma, de certa forma, está adormecido”. Para ele, a ideia de reforma “ajuda um pouco, mas não é decisivo”. 

“O governo Lula não terceirizou a economia, tentou resgatar e tem tentado resgatar o controle sobre o orçamento, mas abriu mão de grandes espaços políticos. Então, parte do problema, no meu modo de ver, é que nos estados, aquele que deveria ser ‘o cara do governo’, não tem interesse de mostrar-se como ‘o cara do governo’”. 

“A maioria das lideranças que ocupam cargos do executivo do governo federal [ministérios], nos estados, não defendem o governo, não assumem as bandeiras do governo e não estão alinhados 100% com o governo. No caso do governo Bolsonaro, governo anterior, a maioria era 100% alinhada e defendia”.

“Essa é uma questão que o presidente Lula, e todos que estão na coordenação política, precisam refletir. É uma questão de concepção de como se monta um governo depois de oito anos de vacância de um executivo forte. O problema está na política. O governo Lula, na concepção clássica de um governo de coalizão, chama quem participa da coalizão para governar junto”. 

Reforma do IR

“Como um ser coletivo, a gente pode falar que todos querem [aprovar a reforma do IR]. No entanto, como querem compensar é que há divergências”. 

Em relação à proposta alternativa à compensação, apresentada pelo presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), que prevê o aumento de 5% da CSLL dos bancos com lucro superior a R$ 1 bilhão e a elevação de R$ 50 mil para R$ 150 mil na faixa de renda que terá uma alíquota mínima de IRPF, Carvalho diz: “tudo bem, eles vão aumentar a alíquota? Eles vão bancar isso para o andar de cima? Se eles bancarem, vai ter mais justiça tributária”. 

Ele afirmou, também, que não há risco de o governo aceitar que a reforma do imposto de renda seja feita sem uma medida compensatória. “Pela lei [de responsabilidade fiscal], você não pode desonerar sem ter receita para colocar no lugar”.

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Devedor contumaz

Sobre os dois projetos que tratam da caracterização do devedor contumaz, o PLP 125/2022 e o PLP 164/22, relatados respectivamente pelos senadores Efraim Filho (União Brasil-PB) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), Rogério Carvalho disse que os dois devem ser votados. 

“Um trata do mercado de combustíveis [PLP 164/22] e o outro trata de uma coisa mais ampla. Tira contradição entre um e outro e eles se complementam. Esse é um encaminhamento político que vai ser consolidado esta semana para sairmos do impasse.” 

PEC da autonomia do Banco Central

“Eu acho que esse ano sai. Isso é um debate que vai ser finalizado. Não estou entrando no mérito de como isso vai se dar, estou dizendo que tem um consenso de ter autonomia administrativa e financeira.”

“O Banco Central hoje opera uma série de produtos, por exemplo o PIX, milhões de operações por mês. Tem uma ação hoje mais ampla, além de regulação, fiscalização. Quem define as coisas é o Conselho Monetário Nacional. Ele define a meta da inflação, define o jeito de funcionamento do Banco Central. A autonomia é submetida a um conselho e o conselho não é de brincadeira.”

Eleições de 2026 – Tarcísio de Freitas

“Nós já tivemos políticos com uma trajetória muito maior e que não tiveram sucesso vindo de São Paulo. Não é porque eles estão vindo de São Paulo. Veja, o José Serra foi candidato, o Alckmin, duas vezes. Não estou falando de qualquer liderança ou quaisquer lideranças. Estou falando de pessoas que tinham trajetória política. Claro que hoje isso conta menos, mas vieram de São Paulo. Bem avaliados, inclusive.” 

“Nesses tempos, qualquer um pode ser uma ameaça. Um outsider pode ser uma ameaça. Não é disso que nós estamos falando. Não funciona assim, é uma coisa muito mais complexa para uma eleição presidencial. Na política, tudo é uma ameaça. Mas tudo também não é absoluto. E não tem adversário fraco nem adversário imbatível.”

Eleição interna do PT

“Vai ser uma eleição dura para quem for disputar. Eu sou candidato a presidente do meu estado e apoio o Edinho [Silva]. É uma eleição difícil, dura. É uma eleição onde a militância participa, onde tem debate, onde tem disputa.”

“O Lula ainda não entrou no jogo. Ele não está se metendo, mas ele é uma força. Aliás, é a força do PT. Nos próximos 30 dias, muita coisa vai se definir no PT, esse mês de maio é muito importante para a disputa interna porque é quando as coisas começam a se desenhar.”

Ministério das Comunicações e recusa de Pedro Lucas

“Isso aí é uma idiossincrasia do União Brasil. Não é uma coisa do governo com o União Brasil. O União Brasil precisa saber o que quer. Eles indicaram o nome ao Lula.”

“O governo é vítima de uma descortesia de um partido que apresenta o nome e depois tira. Parece coisa de colégio, de adolescente, de colegial. Não tem nada a ver com articulação política […] Para mim é uma infantilidade. A política não é para iniciantes e não cabe birra”. A fala ocorreu antes da negociação do novo indicado do partido ao cargo, Frederico Siqueira Filho, empresário e presidente da Telebras. 

Tarifaço de Trump

“A gente está vivendo na maior instabilidade de mercado de capitais dos últimos 50 anos, no mínimo. O que o Trump está fazendo é a coisa mais radical e destrutiva do pós-guerra. Que cenário vamos viver? Sabe o que será daqui 90 dias? Ele vai recuar ou ele vai querer conter a autoridade dele? Ninguém acredita mais nos Estados Unidos. O Trump quer ser o Putin. Eu nunca vi um capitalista querer imitar um líder do leste. O Trump, o presidente dos Estados Unidos que tem como imagem objetiva para ele, pessoalmente, o Putin.”

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PL da Anistia

“Acho que vai ser difícil avançar. Apesar de toda a movimentação que está acontecendo, há uma resistência grande daqueles que têm mais compromisso com a democracia, com a institucionalidade do país. Nós não podemos normalizar uma tentativa de golpe.”

“Eles [oposição] só têm uma intenção, salvar o Bolsonaro. Aliás, o Bolsonaro, ao longo da sua história, ele só busca a sua salvação. Ele larga todo mundo aos leões, às feras. Se ele pudesse dar a cabeça de todo mundo pra salvar a dele, mas ele daria sem nenhuma piedade.”

Ele afirmou, ainda, que a discussão não tem paralisado o funcionamento das atividades do governo. “Não paralisou a votação do orçamento, não paralisou o início do debate sobre, por exemplo, imposto de renda. Está caminhando, não paralisou nada.”