Por que a segurança pública será o principal tema de embates entre Lula e governadores

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O assassinato de Ruy Ferraz, ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, deverá intensificar o embate político entre os governadores cotados para concorrer ao Planalto e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para além das questões envolvendo a disputa ideológica entre direita e esquerda, há um consenso de que o tema da segurança pública será prioritário na agenda eleitoral do ano que vem.

Nestes quase três anos de mandato, Lula foi alvo dos governadores, que escolheram a segurança como bandeira de pré-campanha e viram na agenda um flanco para fustigar o presidente e a esquerda, historicamente identificada com a defesa dos direitos humanos em detrimento da “linha dura” contra os “bandidos”.

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Segundo avaliação de assessores diretos de Lula, a segurança pública, que sempre foi associada a um problema dos Estados, passou também a ser percebida por parte da população como uma questão do Executivo federal. Pesquisa recente feita pelo instituto Datafolha, por exemplo, diz que, na segurança, o petista é apontado como pior do que seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), por 46% dos entrevistados. Apenas 29% avaliam que Lula como melhor nessa área, e 22% enxergam um empate.

Junto aos números, a percepção no mundo político, à direita e à esquerda, é de que a oposição ao governo federal, com a ajuda de governadores e das redes sociais, vinha conseguindo até aqui empurrar as mazelas da segurança pública para Lula e o Judiciário, apontado como o Poder que devolve os criminosos para as ruas ou que é moroso na hora de julgar e de condenar.

A operação Carbono Oculto, que uniu o Ministério Público de São Paulo, a Polícia Federal e a Receita Federal, para investigar fraudes e lavagem de dinheiro do crime organizado, tirou o governo Lula das cordas no debate da segurança pública. Nesta semana, o assassinato de Rui Ferraz mobilizou o país por conta de suspeita de ter sido executado pela facção criminosa PCC.

Em reação ao crime, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) endureceu ainda mais o discurso de combate à violência, mas foi acusado pelo PT paulista de descuidar da segurança para se empenhar na anistia a Bolsonaro, seu padrinho político condenado pelo Supremo.

Um aliado de Tarcísio chegou a comentar, em privado, que o governador “deu sorte” por ter desmarcado, ainda pela manhã, uma viagem a Brasília na segunda-feira passada (15/09), dia do assassinato, ocorrido à noite, para articular a anistia. Por essa avaliação, teria sido ruim para o governador estar fora de seu posto enquanto o crime era cometido contra um agente público.

Ricardo Lewandowski, à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública, prontamente colocou a Polícia Federal à disposição do governo de São Paulo, que recusou a oferta e declarou ser uma prioridade a prisão dos assassinados e a elucidação do assassinato. A recusa foi considerada um movimento de alto risco e sinal de que as duas esferas governamentais buscam protagonismo nesse debate.

Tarcísio, Ronaldo Caiado (DEM-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Jr. (PSD-PR), todos cotados para disputar o Planalto, fazem discursos pela linha dura na segurança pública, com críticas ao PT, apoio às Polícias Militares e rejeição a políticas públicas como o uso das câmeras corporais, uma bandeira de pré-campanha.

Mais do que discursos linha dura e críticas ao governo federal, Tarcísio, Caiado e Ratinho Jr. têm à frente da pasta da Segurança oficiais oriundos das PMs. Zema mantém no cargo o ex-procurador Rogério Greco, considerado “bolsonarista” e que já associou o governo Lula a “narcopresidentes”. Nesta semana, o governador do Paraná anunciou R$ 116 milhões em investimentos em helicópteros, viaturas, fuzis e tecnologia de ponta para as forças de segurança.

Há ainda o embate dos governadores com o Ministério da Justiça em torno da PEC 18/25, que atribui à União a competência para estabelecer a política e o plano nacional de segurança pública e defesa social. Caiado, Ratinho Jr. e Zema têm se posicionado contra o texto. Tarcísio já criticou a PEC. O governo federal espera que ela seja votada ainda este ano.