A Polícia Federal concluiu o inquérito que investiga o uso ilegal Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e pediu o indiciamento de mais de 30 pessoas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). O caso, que ficou conhecido como ‘Abin paralela’, apura a existência de uma organização criminosa voltada ao monitoramento ilegal de autoridades públicas e à produção de notícias falsas, utilizando-se de sistemas da agência.
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O relatório, segundo informou a PF, foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e o procedimento segue em tramitação sob sigilo. O caso tramita no âmbito da Petição (PET) 12.732, que investiga o uso indevido do sistema de inteligência First Mile, da Abin, por delegados, agentes e servidores públicos. O sistema, fornecido pela empresa “COGNYTE BRASIL S.A.”, seria capaz de indicar a localização de qualquer celular monitorado.
De acordo com a investigação, a PF identificou uma organização criminosa com intuito de monitorar ilegalmente pessoas e autoridades públicas, invadindo aparelhos e computadores, além da infraestrutura de telefonia, entre os anos de 2019 e 2022.
Para a PF, Ramagem estruturou o esquema de espionagem ilegal de opositores do ex-presidente quando ocupou o posto de diretor da Abin, na gestão de Jair Bolsonaro. Já Carlos Bolsonaro é apontado como chefe do gabinete do ódio que usava as informações recebidas via espionagem para atacar os alvos em redes sociais. As investigações apontam que Bolsonaro sabia do esquema e se beneficiava das informações.
No relatório da Polícia Federal tornado público em julho do ano passado, na Operação Última Milha, a polícia relatou que o grupo atuava para elaborar dossiês contra ministros, parlamentares e outras pessoas de interesse a fim de divulgar narrativas falsas e incitar uma tentativa de golpe de estado e enfraquecimento das instituições democráticas.
Monitoramentos
Segundo investigações da Polícia Federal, as ações de monitoramento eram, no geral, direcionadas contra opositores do núcleo político, que seria o único beneficiário da desinformação produzida pelo núcleo de estrutura paralela. A PF encontrou alvos de monitoramento no Executivo, Legislativo, Judiciário e na imprensa. Na Justiça, os alvos foram os ministros do STF Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux.
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Na Câmara, foram os deputados federais Arthur Lira (PP-AL), então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (PSDB-RJ), então presidente da Câmara dos Deputados, Kim Kataguiri (União-SP), o ex-deputado Jean Wyllys a ex-deputada Joice Hasselmann. No Senado, os senadores Alessandro Vieira (MDB-SE), Omar Aziz (PSD-AM), Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (PT-AP).
No Executivo, os alvos foram o ex-governador de São Paulo João Doria; os servidores do Ibama Hugo Ferreira Netto Loss e Roberto Cabral Borges; os auditores da Receita Federal Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homen da Silva e José Pereira de Barros Neto.
Na imprensa, foram monitorados os jornalistas Mônica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista.
A Polícia Federal destacou alguns episódios que evidenciam a atuação da organização. Um deles foi quando o gestor do Sistema First Mile, Paulo Magno, teria sido flagrado pilotando um drone nas proximidades da residência do então Governador do Ceará Camilo Santana.
Outro episódio destacado foi o caso em que os policiais federais utilizaram ferramentas e serviços da agência para interferir em diversas investigações da PF, como, por exemplo, para tentar produzir provas a favor de Renan Bolsonaro, filho do então presidente Jair Messias Bolsonaro.
Igualmente, em relação às investigações relacionadas ao senador Flávio Bolsonaro, a PF trouxe informações que mostram que a Abin foi utilizada para monitorar os auditores da Receita responsáveis pelo relatório que deu origem à investigação sobre o caso da “rachadinha” de parte dos salários dos funcionários da Alerj.
Ainda segundo as investigações, a Abin teria sido utilizada para monitorar a promotora de Justiça do Rio de Janeiro e coordenadora da força-tarefa sobre os homicídios da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Reações
Nas redes sociais, o vereador Carlos Bolsonaro afirmou que a conclusão do relatório tem conotação política. “Alguém tinha alguma dúvida que a PF do Lula faria isso comigo? Justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não! É só coincidência!”, escreveu.
O advogado de Carlos Bolsonaro, Antônio Carlos Fonseca, não confirmou o indiciamento e disse que não teve acesso ao documento vazado para a imprensa. O advogado de Jair Bolsonaro, Celso Vilardi, também informou que não sabia do relatório da PF. O advogado de Ramagem, Paulo Renato Pinto, ainda não respondeu e o espaço segue aberto.