Papa Leão XIV deve enfatizar direitos dos trabalhadores, como Leão XIII e Francisco

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Habemus papam! A escolha do cardeal americano Robert Prevost para suceder o papa Francisco foi recebida com surpresa pelo mundo católico. O agora papa Leão XIV não constava dentre os favoritos dos vaticanistas e ainda menos nas bolsas de apostas. Sendo pouco conhecido, é natural que os fiéis católicos e mesmo os analistas políticos procurem na simbologia e nos ritos milenares da tradição papal alguns indícios dos caminhos que o Santo Padre indicará aos milhões de fiéis da Igreja Católica ao redor do mundo.

Como é do conhecimento geral, o nome eclesiástico escolhido pelo novo papa é um dos primeiros indicativos a serem perscrutados pelos fiéis, observadores e curiosos. O americano de Chicago e peruano naturalizado escolheu consagrar-se como Leão XIV, ou seja, declara-se como sucessor, em algum sentido, do legado papa Leão XII, bispo de Roma no conturbado período entre 1878 e 1903.

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E o que a trajetória de Leão XIII poderia nos indicar sobre o porvir de Leão XIV?  Leão XIII viveu em um tempo de grande tumulto político e social. Embora a unificação da Itália tivesse sido proclamada em 1861, somente em 1871 Roma seria incorporada ao novo Estado, com a consequente formalização do acordo diplomático que permitiu a existência do Vaticano como ente soberano dentro da nova nação italiana.

Esse arranjo despertou em muitos radicais nacionalistas italianos a ira contra a Igreja, e Leão XIII foi extremamente hábil em pacificar as relações do Vaticano com o então Reino da Itália. Ele também demonstrou grandes habilidades diplomáticas para lidar com tensionamentos com a Igreja Anglicana da Inglaterra e para estruturar a hierarquia católica em um mundo colonial expandido, como na Índia. Esse histórico talvez possa indicar que Leão XIV talvez cogite um papel mais ativo para si e para a Igreja em face dos conflitos que assombram o mundo, notadamente a guerra entre Rússia e Ucrânia.

No aspecto social, Leão XIII testemunhou, sem eximir-se de assumir papel ativo, as terríveis condições de trabalho impostas à classe trabalhadora pela aceleração da Revolução Industrial no último quartel do século 19. Na famosa encíclica Rerum Novarum (1891), condenou as situações deploráveis a que o capitalismo industrial submetia os operários, recomendando uma intervenção do Estado para limitar os abusos do poder econômico, mediante ações de concerto social.

É bem verdade que a assim chamada “doutrina social da Igreja” continha elementos de conservadorismo político, já que o Papa Leão XIII agia para não perder o seu rebanho para uma outra religião, de natureza civil e revolucionária: o comunismo.

A doutrina social da Igreja foi de enorme importância para a formação do Direito do Trabalho, especialmente nos países conservadores da América Latina, bastando lembrar que, em nosso país, diversos formuladores da CLT como Oliveira Vianna e Arnaldo Sussekind, teóricos muito longe de ideias socialistas, sempre fundavam suas propostas legislativas na Rerum Novarum.

As iniciativas de Leão XIII neste campo desencadearam inclusive ações políticas no âmbito pastoral, como a formação de círculos católicos operários, que seriam o gérmen dos futuros partidos europeus de orientação democrata-cristã.

Não de somenos importância é lembrar que Leão XIII elaborou uma encíclica papal especificamente destinada ao Brasil, condenando de forma veemente a manutenção do sistema escravista em nosso Império. Curiosamente, essa encíclica – In Plurimis – foi editada em 5 de maio de 1888, oito dias antes da abolição oficial da escravatura.

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O cardeal Prevost certamente não escolheu seu nome eclesiástico sem um propósito. Sendo agora conhecida sua vida missionária nos confins do Peru em favor das classes subalternas e sendo ele um filho da heroica cidade de Chicago, berço de lutas sindicais americanas e onde surgiu o Primeiro de Maio depois do terrível Massacre de Haymarket, deverá Leão XIV continuar a linha apostólica de Francisco em defesa dos direitos sociais dos trabalhadores, especialmente neste contexto do século 21 em que o sistema capitalista impõe, por meios tecnológicos revolucionários, a precarização, humilhação e exclusão de quem vende sua força de trabalho.

E, para nossa realidade brasileira, que seja esse um sinal alvissareiro de que o Santo Padre possa iluminar e inspirar os ministros do STF, especialmente aqueles que têm proferido decisões de vilipêndio aos direitos dos trabalhadores, as quais jamais poderiam ser classificadas como cristãs.