Objetivos para o trabalho sustentável

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Sustentabilidade deixou de ser mera palavra de ordem para se tornar ser um imperativo no mundo dos negócios. Para entender esse movimento, é importante relembrar o marco estabelecido pelo Protocolo de Quioto. Formulado em 1997 e em vigor desde 2005, o documento consolidou o compromisso dos países desenvolvidos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Esse esforço foi complementado pelo Acordo de Paris, firmado em dezembro de 2015, tendo como meta principal manter o aumento médio da temperatura global abaixo de 2ºC em relação aos níveis pré-industriais.

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Os tratados trouxeram à tona a urgência da transição para uma economia de baixo carbono, com necessidade de priorizar fontes de energia renováveis e limpas, tecnologias sustentáveis e práticas empresariais mais conscientes. É em tal contexto que o comércio de bens e serviços enfrenta a necessidade de se adaptar, sob risco de perder relevância em um mercado cada vez mais atento aos impactos ambientais.

Não se trata apenas de cumprir metas ambientais, mas de responder a um consumidor que, diante dos impactos visíveis das mudanças climáticas, exige compromisso das marcas e das empresas com as quais se relaciona.

Assim, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU surgem como uma espécie de guia para o desenvolvimento de negócios mais sustentáveis, destacando o ODS 8 (Trabalho Decente e Crescimento Econômico) e o ODS 13 (Ação Contra a Mudança Global do Clima). Tais metas não apenas promovem a responsabilidade ambiental, como trazem um foco importante para a criação de novas oportunidades de trabalho. Em última análise, podem beneficiar tanto os trabalhadores de alta qualificação quanto aqueles em posições mais vulneráveis.

Para o Brasil, no entanto, implementar esses princípios representa um grande desafio. Após a reforma de 2017, que flexibilizou diversos aspectos das relações de trabalho, cresceu a preocupação com a precarização das condições. Além da própria legislação, há questões ainda mais graves, pois o país segue tendo casos de trabalho infantil ou análogo ao escravo. Logo, a sustentabilidade precisa ir além do discurso corporativo e alcançar um verdadeiro respeito à dignidade humana.

O contexto de precarização afeta diretamente a execução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente no que tange ao ODS 8, o qual visa não apenas à geração de empregos, mas à promoção de trabalho decente e crescimento econômico sustentado. A ideia de trabalho decente implica na proteção de direitos trabalhistas, condições adequadas de trabalho e promoção da igualdade. Em outras palavras, não basta gerar empregos; é preciso garantir que esses empregos sejam justos e contribuam para a erradicação da pobreza.

Empresários que atuam no comércio de bens e serviços devem reconhecer que o desenvolvimento econômico sustentável de longo prazo está diretamente relacionado à valorização do trabalhador. Um colaborador bem remunerado e motivado tende a reinvestir sua renda no consumo de bens e serviços, fortalecendo toda a cadeia produtiva. Portanto, a falsa dicotomia entre “menos direitos e mais empregos” é insustentável e contraditória com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

É necessário pensar no futuro do trabalho e na relação entre tecnologia e mão de obra. A revolução digital reformula a maneira como nos conectamos e trabalhamos, tornando cada vez mais comum o trabalho remoto e a automação de processos. Tal panorama exige que novas normas, tanto autônomas quanto heterônomas, sejam implementadas para proteger todos os envolvidos e garantir que os avanços não levem ao aumento da desigualdade ou à exclusão de certos grupos de trabalhadores.

Por tudo isso, o impacto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no comércio de bens e serviços vai muito além de uma simples adaptação a normas ambientais. É a oportunidade de reposicionar o setor, tornando-o mais resiliente e alinhado com as expectativas de um mercado em transformação. A adoção de práticas sustentáveis, a proteção dos trabalhadores e a promoção de um comércio justo são pilares que, se bem implementados, não apenas contribuirão para a proteção do meio ambiente, mas também para a construção de uma sociedade mais equilibrada e próspera.