O que dizem os candidatos às prefeituras sobre a gestão de pessoas

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Muito se fala que a transformação da Administração Pública no Brasil passa por uma boa gestão de pessoas, seja na atração e seleção, seja na motivação e engajamento, na representatividade, na avaliação de desempenho ou no fortalecimento de lideranças. 

Sendo assim, a República.org analisou planos de governo das eleições de 2024 para entender como os candidatos estão atentos a essa temática e pretendem implantar ações dessa natureza na sua possível gestão.

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Foram avaliados planos de candidatos ao cargo de chefe do Poder Executivo municipal das cinco regiões do país, priorizando a escolha entre as 11 capitais com maior colégio eleitoral do país. Todos os planos acessados estavam disponíveis e foram extraídos da plataforma do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A análise se deu por 10 categorias: atração e seleção; desenvolvimento; gestão de lideranças; gestão do desempenho; contratação temporária; engajamento; reformas de carreiras; people analytics; clima organizacional e valorização; e promoção de equidade.

Em cada uma das categorias foi atribuída uma nota de 0 a 4, em que 0 representa que o tema não foi abordado, 1 o plano apenas discorre sobre o problema, 2 são dadas sugestões e melhorias de maneira pouco estruturada, 3 propõe ações, projetos ou programas para categorias específicas e 4 propõe ações, projetos ou programas para servidores em geral.

Após a atribuição das notas foi gerado um indicador médio de Gestão de Pessoas no Setor Público (GPSP) nos planos de governo. Esse indicador tinha uma escala de 0 a 1, em que 0 representava que a gestão de pessoas não é tema abordado nos planos e 1 a maioria dos planos tende a apresentar propostas relacionadas as categorias elencadas.

Após as leituras, a República.org apurou que o indicador médio de GPSP é de 0,22, o que representa, na escala adotada, que a maioria dos planos tende a apresentar propostas relacionadas a desenvolvimento; reforma de carreiras; atração e seleção; e clima organizacional, demonstrando que há uma tendência na focalização dessas categorias. Dos 35 planos, 17 apresentavam propostas nesses temas.

Além disso, outras avaliações nos chamaram a atenção: dos 35 planos, 6 não tiveram nenhum dos 10 temas de GPSP abordados, e candidatos na faixa etária de 41 a 50 anos tiveram em média um indicador mais elevado (0,35), nos levando à hipótese de que os candidatos de meia-idade são aqueles mais atentos ao tema. Outro aspecto interessante que pode ser observado é que candidatos à reeleição tiveram em média um indicador mais baixo que os demais (0,17).

Na média, temas como contratação de temporários, gestão do desempenho, clima organizacional, atração e seleção e reformas de carreiras são mencionados de maneira superficial, já que são temas mais polêmicos ou que envolvem mudanças estruturais institucionais ou de legislações vigentes.

Já o tema do desenvolvimento obteve o melhor desempenho, recebendo em média a nota 3, ou seja, são apresentadas ações, projetos ou programas para setores específicos como educação, segurança, saúde etc.

Quando se compara as regiões do país analisadas, o Sul se destaca, em seguida o Nordeste. A região com o menor nota foi o Norte, com 0,18. Entre os partidos, o PDT ficou com a melhor nota, seguido por Cidadania e União Brasil empatados em segundo lugar. Já o Republicanos e o PSB ficaram com destaque negativo em relação ao tema de gestão de pessoas nos planos de governo.

Ressalta-se que 4 categorias não foram abordadas em nenhum dos planos analisados, o que nos leva a acender um sinal de alerta em relação aos seguintes temas: engajamento, people analytics, gestão de lideranças e promoção da equidade. Isso demonstra ou desconhecimento ou desinteresse por essas temáticas que são essenciais para uma boa gestão pública.

Cumpre destacar que há certas limitações quanto a temas como a contratação temporária, tendo em vista que os municípios não têm competências para legislar sobre, e que planos de governo não são os melhores instrumentos para tratar de assuntos tão técnicos. 

Na categoria desenvolvimento, a República.org considerou nota máxima apenas àqueles planos que levavam em consideração a criação ou fortalecimento de escolas de governo. Quando menciona apenas qualificação para públicos específicos a nota fica limitada a 3, já que não há uma proposta de mudança sistêmica.

Outra observação importante é que, quando um eixo apresenta evidências de uma nota que pode variar entre uma categoria e outra, prevalecerá a análise de maior nota. Por exemplo: o plano menciona superficialmente “valorização do servidor com remuneração justa, formação continuada e ambiente motivador”.

Na categoria desenvolvimento, ele poderia receber a nota 2 por abordar superficialmente tal temática. Mas ao complementar sua proposta com ações de capacitação e formação específicas para áreas como saúde e educação, receberá a nota 3.

Nesse sentido, o que podemos concluir é que, mesmo que a temática já esteja aparecendo nas propostas de candidatos, a nota de 0,22 é baixa em relação à importância da gestão de pessoas para a transformação pública. Esse tema deveria ser prioridade na agenda de candidatos e permear os debates públicos sobre o assunto.

Atualmente o que se vê são propostas mais ligadas a alguma determinada categoria, ou que propõem mudanças no curto prazo, sem levar em consideração mudanças estruturais necessárias. Temas como a promoção da equidade, deveriam compor qualquer plano de governo, independente da região ou partido que o propõe.

Afinal, pessoas fazem a diferença! 

Ainda há muito que avançar na gestão pública do país. É importante a gestão de pessoas aparecer como prioridade durante a agenda eleitoral, o que pode favorecer mecanismos de cobrança sobre os eleitos durante os seus mandatos, fazendo com que o tema não se perca entre as ações de governo já em curso.

Por fim, o fomento à discussão do tema durante as eleições faz com que haja um maior conhecimento da relevância para a administração pública brasileira. O entendimento geral da população gera enriquecimento do debate, quebra de preconceitos, e incentivo a adoção de medidas estruturais.