A COP 28 em Dubai reuniu mais de 100 mil pessoas representando governos, organizações, empresas e sociedade civil em torno da agenda climática. Foram 13 dias de discussões entre a comunidade global e mais de US$ 85 bilhões mobilizados em frentes como energia, financiamento e inclusão.
O ineditismo permeou a Conferência das Partes deste ano. A começar pela oficialização do Fundo de Perdas e Danos em 30 de novembro. Foi a primeira vez que uma COP aprovou uma decisão no 1º dia. A medida surpreendeu ao direcionar o principal resultado da COP 27, que ocorreu em Sharm El-Sheikh, no Egito, e uma das maiores tarefas que estavam reservadas para a edição de 2023.
A resolução final da COP 28 reconheceu, de forma pioneira desde que a Convenção do Clima das Nações Unidas foi estabelecida, há quase 30 anos, que a utilização de combustíveis fósseis deve ser reduzida para que possamos alcançar as metas do Acordo de Paris e a neutralidade de emissões de carbono até 2050.
Novidades também se apresentaram em contradições: ao mesmo tempo em que precisamos acelerar a descarbonização da atmosfera, o setor de combustíveis fósseis quadruplicou sua presença na conferência. Se fossem um país, as 2.400 pessoas formariam a segunda maior delegação — perdendo só para os Emirados Árabes Unidos. Nunca tantos agentes de petróleo e gás se colocaram para discutir respostas à emergência no clima.
Ainda que não tenham admitido o consenso em “eliminar” os combustíveis fósseis, termo em disputa nas negociações desde os rascunhos do Balanço Global do Acordo de Paris, os resultados da COP 28 são positivos e reforçam a centralidade do diálogo para encontrar saídas coletivas. Agora que temos o setor de fósseis à mesa, e com um objetivo comum definido, resta o desafio de definir como chegaremos à neutralidade de emissões em três décadas.
O clima depois da COP 28 é um misto de expectativa, esperança, preocupação, e, mais uma vez, de dever cumprido. Consolidando sua 22ª participação na conferência do clima, o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) integrou a organização e condução de cerca de 30 atividades na Zona Azul da COP 28. As contribuições de pesquisadores e diretores da instituição abordaram em torno de 18 temas complementares na pauta do clima.
Se entre 2019 e 2022 a sociedade civil brasileira teve como norte o Brazil Climate Action Hub, neste ano o IPAM se somou a debates em locais como os auditórios de side events; o Espaço Brasil, do governo federal; o Hub Amazônia, do Consórcio Interestadual da Amazônia Legal; o Pavilhão Indígena e o espaço do Centro de Pesquisa em Clima Woodwell, dos Estados Unidos, além da participação em painéis da África do Sul, Portugal e do Pacto Global.
As emissões de gases do efeito estufa na Amazônia e no Cerrado ecoaram nas discussões, bem como a vegetação nativa em terras indígenas da Amazônia, os pontos de inflexão da Terra, a justiça climática no Sul Global e povos e comunidades tradicionais no Brasil. A agricultura regenerativa ganhou espaço com o lançamento de um projeto de pesquisa para avaliar a relação entre agricultura e preservação da vegetação natural, além dos efeitos do clima na produção.
Sustentabilidade e economia nos sistemas agroalimentares subiram ao palco, evidenciando oportunidades no trabalho que promove alimentação e comércio global. Governança fundiária, descarbonização e pagamento por conservação estão entre os componentes de uma produção lado a lado com a natureza.
O financiamento climático foi uma das tônicas da conferência, tanto no âmbito local, para os estados da Amazônia, por exemplo, quanto no contexto internacional. Mesmo com o avanço no Fundo de Perdas e Danos, o recurso agregado até o momento representa 0,2% dos prejuízos anuais que países pobres têm devido aos efeitos das mudanças climáticas.
Em meio a discussões necessárias e urgentes, a COP 28 também voltou os olhares do mundo para a edição de 2025 no Brasil. A primeira na Amazônia — bioma que é lembrado em conversas sobre clima e meio ambiente em qualquer lugar do mundo.
O caminho para a COP 30, em Belém, destaca o papel da liderança brasileira na construção de um novo modelo de desenvolvimento econômico para a humanidade. De Dubai à capital paraense, a redução do desmatamento não deve se apresentar como um objetivo em si. Ao contrário, o fim do desmatamento deve ser visto como o início de uma jornada rumo à justiça social, ao desenvolvimento sustentável e à redução dos impactos das mudanças climáticas.
O IPAM calcula que a transição econômica da Amazônia pode custar até R$ 150 bilhões por ano durante a próxima década, com ações, políticas públicas e investimentos que envolveriam a intensificação da produção, a destinação e consolidação de áreas protegidas, a valorização e remuneração de serviços ambientais e a assistência técnica para toda a rede de produtos da floresta.
Amazônia e Cerrado concentram as regiões onde a agropecuária mais se expande no país. Cada vez mais, a ciência do IPAM e de outras organizações de pesquisa indica a premência de integrarmos ações de conservação e de produção agropecuária, lembrando que a economia rural é fortemente dependente dos serviços ambientais da natureza.
Garantir a proteção dos ecossistemas faz parte da resposta para a manutenção dos ciclos de vida. Afinal, para citar o muito que nos oferecem, é deles que nasce a água que bebemos, ou que cai na chuva todos os anos, são eles que limpam o ar que respiramos e que nutrem o alimento até os nossos pratos.
O clima depois da COP 28 ainda é quente — mais do que poderíamos suportar em inação. Algumas partes do Brasil passam pela terceira onda de calor do ano, com temperaturas acima dos 40°C. Em vários lugares do mundo a realidade não é diferente. Os eventos extremos de 2023 não deixaram mais dúvidas do que a Terra em colapso é capaz de fazer.
Não queremos mais vidas perdidas, nem extintas. Não podemos mais perder tempo. Temos que aumentar a ambição, sejamos países, empresas ou famílias. Todos têm que fazer mais. Apesar de alguns avanços importantes — como trazer o petróleo para a negociação, ou levantar o debate sobre segurança alimentar à luz da nova realidade climática — ainda estamos atrasados. Conseguiremos começar a reduzir as emissões planetárias daqui a dois anos, como recomendam cientistas do Painel Intergovernamental sobre a Mudança do Clima (IPCC)?
É certo, ainda estamos distantes do compromisso ideal. Lembrando a frase de Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos: “Somos a primeira geração a reconhecer o problema e a última que tem a obrigação de resolvê-lo”.
Sabemos o que temos que fazer. Chega a hora de deixar as posições duras e inflexíveis de lado e de trabalharmos juntos para construir um mundo em que as pessoas vivam em harmonia com o meio ambiente, onde tenhamos prosperidade e bons ambientes, principalmente o natural, para todas as pessoas, e para empreender por um mundo melhor.