‘Nunca usei a expressão colocar tropas à disposição’, diz almirante Garnier, sobre plano golpista

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O almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha durante o governo de Jair Bolsonaro, afirmou em depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10/6) que nunca usou a expressão “colocar tropas à disposição” do ex-presidente para um golpe de estado. Garnier disse que estranhou quando o ex-chefe da Força Aérea Brasileira (FAB) Baptista Júnior citou que haveria 14 mil fuzileiros navais disponíveis e ficou até curioso de onde vinha o número.

De acordo com Garnier, o número de 14 mil é o primeiro que aparece em uma pesquisa simples no Google – dando a entender que Baptista Júnior usou a pesquisa e não o que realmente ocorreu dentro do Palácio do Alvorada no fim de 2022. Garnier contou que quando ele era comandante eram 17 mil homens e hoje são cerca de 15,5 mil. “Tem grandes equívocos aí”, afirmou.

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O almirante confirmou que houve a reunião dos comandantes das Forças Armadas com o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, no Palácio da Alvorada após as eleições de 2022. Segundo ele, foi apresentado um documento em uma projeção, sem nada em papel impresso.

Garnier contou que houve a apresentação de “alguns tópicos de considerações” que poderiam levar à decretação de uma GLO [Garantia da Lei e da Ordem], de necessidades adicionais, visando a segurança pública. Entre os “considerandos” estava a pressão popular das ruas, os acampamentos em portas de quartéis, a mobilização dos caminhoneiros e considerações sobre o processo eleitoral. “Tudo foi apresentado na tela do computador e não se aprofundou em nada. Era uma análise do cenário político e social do Brasil naquele momento”.

Segundo Garnier, na reunião dos comandantes com Bolsonaro “não houve deliberações”, e o “presidente não abriu a palavra para nós, ele fez as considerações dele, o que pareciam para mim mais preocupações e análise de possibilidades, do que propriamente uma ideia ou intenção de conduzir alguma coisa numa certa direção. A única que eu percebi que era tangível e importante era a preocupação com a segurança pública, com a qual a GLO é adequada dentro de certos parâmetros”.

O almirante também disse que achou surreal que tenha surgido nos autos a conversa para prender o presidente da República: “Achei surreal”.

Garnier fez críticas aos depoimento de Baptista Júnior e de Freire Gomes e deu a entender que os militares estão fazendo ilações sem provas. E que como comandante da Marinha, cumpria ordens.

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“A Marinha é extremamente hierarquizada e nós seguimos bem à risca o Estatuto dos Militares, que diz que a um subordinado é dado apenas o direito de receber por escrito uma ordem que ele receba e considere flagrantemente ilegal. Até que isso aconteça, para mim, ilações, discussões, ouvi aqui coisas como conversa de bar. Eu era o comandante da Marinha, não era assessor político do presidente. Eu me ative ao meu papel institucional”, disse.

Sobre o fato de não ter participado da cerimônia de transferência do comando do Setor Militar em 31 de dezembro de 2022, Garnier disse que havia um combinado de entregar o comando antes do fim do governo Bolsonaro. Moraes citou uma reportagem que associava a ausência de Garnier à necessidade do comandante não prestar continência ao novo presidente da República, Lula. O militar negou. Ele afirmou que estava “emocionalmente sobrecarregado e ao passar o comando, eu me desliguei completamente”. Sobre o 8 de janeiro, Garnier disse que “foi algo triste. A nação brasileira não precisava disso”.

Garnier foi o 3º réu a ser interrogado no Supremo Tribunal Federal.