Métricas para quem precisa de métricas

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No mundo dos negócios temos testemunhado a avançada dissipação da cortina de fumaça das ilusões corporativas; da corrida, muitas vezes imprudente em direção unicamente ao lucro. O que vem à luz é uma verdade incômoda, uma realidade que, apesar de sua dureza, traz a chave libertadora que muitos líderes empresariais buscam: a sobrevivência e, acima disso, a relevância das organizações no cenário contemporâneo, ferozmente competitivo e socialmente mais consciente e exigente, demanda um olhar aguçado e incessante sobre os rastros que deixamos.

A era do consumismo irresponsável está cedendo espaço a um tempo de maior responsabilidade tanto por parte das corporações, como por parte dos consumidores. A Global Sustainable Investment Alliance[1] aponta um aumento de 15% nos investimentos globais em ações de sustentabilidade entre os anos de 2018 e 2020, o que representa 35,3 trilhões de dólares. Do lado dos consumidores, a Nielsen[2] informou em seu relatório de tendências de 2020 que 73% dos consumidores em todo o mundo têm buscado consumir de maneira mais consciente, alinhando prioridades financeiras, ambientais e, até mesmo de saúde.

A sociedade, agora mais vigilante e exigente, demanda responsabilidade e lidera uma mudança nas expectativas, pressionando por uma era renovada de honestidade e transparência. No coração desse movimento vigilante e desse apelo por mudança, encontra-se a imperativa mensuração de nossos impactos. Isso é mais do que uma obrigação humana; é uma estratégia crucial para quem deseja não apenas sobreviver, mas florescer em um cenário global que repudia o antiquado e abraça uma ética de sustentabilidade e convivência pacífica.

Esta mudança de paradigma é uma correção de curso exigida pela sociedade, a verdadeira avaliadora do impacto corporativo. As empresas agora são cobradas, não apenas como agentes econômicos, mas como contribuintes ativos da prosperidade ambiental e social, solicitadas a olhar além dos balanços financeiros e considerar o legado deixado, compreendendo que o lucro deve ser autenticado por parâmetros que beneficiem a todos. Dados de 2019, apresentados pela consultoria McKinsey[3] já demonstravam que mais de 80% dos investidores globais tinham as questões de ESG como núcleo do processo de tomada de decisão.

Essas transformações já não permitem que as marcas se escondam atrás de campanhas publicitárias ou promessas vazias e força que a contribuição para a sociedade seja mais tangível e autêntica, tornando-se um pilar ao lado da rentabilidade e redefinindo o conceito de sucesso no universo empresarial.

Como um dos epicentros dessas transformações globais, o Brasil se apresenta como um território de aprendizagem insuperável, um laboratório vivo. Em nossa realidade, onde a desigualdade grita e a exploração da natureza persiste, ignorar a importância de métricas tangíveis é flertar com o próprio desastre. Com um coeficiente de Gini de 53,4, destacando a grave desigualdade de renda, e um desmatamento recorde de 11.088 km² na Amazônia em 2020, o Brasil possuí desafios socioambientais críticos[4]. As métricas são a linguagem que pode traduzir boas intenções em práticas, o caminho para um diálogo entre o mundo corporativo e o cidadão comum, o elo perdido na cadeia de ações que podem promover transformações sustentáveis.

Centrais a esse debate, estão os Negócios de Impacto. Estes não são meros participantes do mercado; são os alquimistas que buscam converter capital em progresso social. Para tais entidades, as métricas de impacto são o sangue que corre em suas veias corporativas, demarcando a rota a ser seguida e validando cada passo dado em direção à uma meta audaciosa – unir lucro e propósito.

Confrontamo-nos, assim, com uma verdade inalienável: as métricas de avaliação de impacto não são uma escolha, mas um imperativo categórico. Nesse universo, a mensuração é a estrela-guia que orienta entidades corporativas fora do labirinto de práticas antiquadas e rumo a uma nova era de responsabilidade e transparência. No Brasil, essa jornada assume contornos de urgência nacional.

É imperativo que o Brasil mergulhe com afinco no universo das métricas de impacto. O caminho para uma atuação corporativa consciente e responsável exige que negócios, independentemente de seu porte, embarquem ou aprofundem suas jornadas em direção à sustentabilidade, fazendo uso de métricas ESG (ou no português ASG – governança social e ambiental) entre outras ferramentas vitais.

As Métricas de Impacto têm o poder de humanizar o mercado, de introduzir e escalar empatia e ética nas engrenagens de sistemas anteriormente voltados apenas para o lucro. Ao evidenciar impactos, sejam eles positivos ou negativos, as avaliações de indicadores de impacto obrigam uma reflexão crítica e um comprometimento com a mudança que transcende os balancetes, resgatando o cerne da nossa humanidade nas transações que definem nosso mundo.

A fim de medir corretamente nossos impactos, precisamos rever nosso propósito como pessoas e, certamente como líderes e gestores. Ao centralizar o fator humano na concepção de nossos empreendimentos, reconhecemos e validamos a teia de conexões e o impacto que cada decisão empresarial reverbera na sociedade e no meio ambiente.

Esta não é uma tendência passageira, mas uma reformulação fundamental de como o sucesso empresarial passa a ser entendido e medido. A pesquisa “CEO Survey”[5] da PwC destaca que 78% dos CEOs do mundo inteiro concordam que o crescimento futuro de suas empresas depende da capacidade de inovar em torno da sustentabilidade e, mais profundamente, no âmbito da valorização crescente de suas relações com a sociedade.

Para o Brasil, esta é uma oportunidade preciosa de liderança e inovação, uma chance de redefinir profundamente o ethos corporativo dentro de nossas fronteiras e projetar essa influência no cenário global. Nesta senda, não devemos buscar apenas sobreviver, mas almejar prosperar de maneira íntegra, estabelecendo um legado que ressoará por gerações futuras. O desafio está lançado, convocando cada ator do mercado a assumir seu papel nessa narrativa coletiva de redenção e crescimento sustentável.

[1] Ver: https://www.gsi-alliance.org/trends-report-2020/

[2] Ver: https://www.nielsen.com/pt/insights/type/article/ – Sustainable Shoppers Buy the Change They Wish to See in the World (2020)

[3] Ver: https://www.mckinsey.com/capabilities/sustainability/our-insights/more-than-values-the-value-based-sustainability-reporting-that-investors-want

[4] Ver: https://www.worldbank.org/en/country/brazil/overview

[5] Ver: https://www.pwc.com/gx/en/ceo-agenda/ceosurvey.html