Menos gestão financeira, mais transformação digital: os desafios do legal ops em 2024

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Planejamento, definição de metas, gestão de recursos e otimização de processos. Segundo Mary O’Carroll, ex-diretora de operações jurídicas do Google e fundadora do Corporate Legal Operations Consortium (CLOC), essas são algumas das atividades que as equipes de legal operations devem promover dentro das empresas. Para a executiva, o trabalho da área hoje em dia vai muito além da mera gestão financeira do departamento jurídico. “Tenho visto muitas contratações de pessoas focadas em gestão de projetos, análise de dados e transformação digital”, disse O’Carroll.

A executiva foi uma das palestrantes no evento de lançamento do CLOC Brasil na última quinta-feira (18/1). Falando para uma plateia de cerca de 200 pessoas, ela contou um pouco da sua experiência de 13 anos à frente da equipe de legal ops do Google, onde trabalhou até 2021, e falou sobre as tendências que observa no mercado atualmente.

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Segundo O’Carroll, a ambição de uma equipe de legal ops no longo prazo deve ser a de ajudar a companhia a atingir suas metas, mas a jornada até esse ponto não é simples.

“No começo, a equipe de legal ops trabalha para melhorar o dia a dia do departamento jurídico, estabelecendo processos e coletando dados”, diz a executiva.

É só quando esses processos estão bem consolidados que os profissionais conseguem avançar e olhar para o restante da empresa, usando análise de dados para criar soluções que sirvam a todos.

A especialista citou como exemplo um caso envolvendo a empresa americana DoorDash, de entrega de comida. No começo da pandemia de Covid-19, a companhia foi inundada com pedidos de restaurantes que queriam se inscrever no aplicativo. Sem conseguir dar conta da demanda, a diretoria pediu que o time de operações jurídicas ajudasse na contratação de mais pessoas para as equipes de vendas e de contratos, mas, em vez disso, recebeu uma sugestão que mudou o jogo.

A equipe de legal ops propôs um sistema de gerenciamento que permitiu que os restaurantes preenchessem um formulário com as suas informações e assinassem um contrato padrão com o aplicativo. Com isso, centenas de restaurantes conseguiram entrar na plataforma sem precisar da ajuda da equipe de venda e do jurídico. ““Essa história de sucesso só aconteceu porque alguém de legal ops pensou fora da caixa”, disse a palestrante.

O’Carroll afirmou que a transformação digital pode permitir que o jurídico deixe de ser “só um centro de custos” e se torne um “parceiro de negócios” dentro da companhia.

Para isso, ela dá quatro dicas para as equipes de legal ops: evitar repetir no mundo digital processos analógicos; encontrar bons parceiros fornecedores de tecnologia; abraçar a política de “faça você mesmo”; e focar em tecnologias que sejam fáceis de usar.

Inteligência artificial

Um assunto foi recorrente ao longo do evento do CLOC Brasil: as crescentes possibilidades de uso da inteligência artificial (IA) para a área de legal operations. Para os palestrantes, é consenso de que o uso de IA no meio jurídico só vai crescer nos próximos anos, desde a facilitação da leitura de documentos até a redação de contratos inteiros.

Victor Cabral, vice-presidente de inovação no escritório Baptista Luz Advogados e um dos fundadores do CLOC Brasil, recomendou que as equipes de legal ops comecem a usar IA em processos cotidianos que não são necessariamente jurídicos, como a redação de e-mails, relatórios e comunicados. “A tecnologia é melhor para esse tipo de documento hoje, ela consegue ser mais precisa porque são trabalhos mais simples”, disse Cabral.

O vice-presidente de inovação do Baptista Luz também reforçou como é importante trabalhar com as equipes de segurança de informação antes de adotar aplicações de IA generativa, como o Chat GPT. Na visão dele, é melhor investir em ferramentas próprias para garantir a segurança da informação. “Nós lidamos com informações sensíveis todos os dias, não podemos subir tudo de forma aberta”, afirmou.

Já Rafael Soriano, gerente jurídico sênior da Globo, defendeu a importância de realizar testes antes de adotar a IA generativa no dia a dia da operação. Para ele, apesar da euforia em torno da nova tecnologia, é preciso escolher os projetos certos. “Já fizemos alguns testes para a redação de contratos e de respostas de e-mail, mas é preciso ter calma”, disse Soriano.

Para aqueles que ainda estão tentando entender mais sobre o universo de inteligência artificial no Direito, Mike Haven, head de Legal Ops na Intel, recomendou a leitura do livro “IA para Advogados”, de Noah Waisberg, que foi lançado antes do Chat GPT.

“Inteligência artificial é muito mais do que IA generativa e eu acredito que as pessoas precisam entender o quanto antes o que as várias formas de IA podem fazer”, disse o executivo.