A catástrofe climática que atinge o Rio Grande do Sul trará mais um desafio para a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Ao longo dos últimos dias, as chuvas e enchentes que prejudicam o estado provocaram sérios estragos em pelo menos 18 hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, há registros de danos em ao menos 300 Unidades Básicas de Saúde.
As condições de atendimento de saúde se deterioraram num momento em que é esperado o aumento da demanda. A onda de frio, as condições precárias em abrigos, sem falar no abalo emocional provocado pelas perdas, aumentam riscos de adoecimento e agravamento da saúde. Diante das condições do estado, cirurgias programadas foram adiadas. Mas nenhum procedimento, mesmo que eletivo, é dispensável. Situações controladas podem se agravar.
A perspectiva é a de agravamento das condições na saúde. Mas, a exemplo do que ocorre em toda a Esplanada, há receio de que falhas ou dificuldades no acesso, mesmo as de competência de estados e municípios, acabem caindo na conta do governo federal.
A criação do ministério extraordinário para coordenar as ações de reconstrução do Rio Grande do Sul é um esforço para tentar neutralizar esse movimento e, nas palavras de integrantes do governo, “dar visibilidade” às medidas de socorro ao estado.
No caso do Ministério da Saúde, por exemplo, foram enviados até o último domingo (12) kits de emergência suficientes para atender cerca de 300 mil pessoas. Mas a percepção é a de que as medidas feitas até agora não sensibilizaram a população gaúcha.
O discurso de que as ações da saúde não ecoam entre a população não é de hoje. Integrantes da equipe de Nísia asseguram que ao longo do ano passado houve uma redução, embora discreta, do tempo de fila para cirurgias eletivas, uma ampliação de médicos que atendem na atenção primária e uma redução das preocupantes taxas de atraso vacinal. Nada disso, contudo, foi suficiente para melhorar a imagem da pasta.
No início do mês, quando as enchentes começaram a provocar os primeiros estragos no Rio Grande do Sul, uma pesquisa preparada pela Quaest mostrou que saúde era a principal preocupação para 19% dos entrevistados. O descontentamento está aumentando. Em dezembro de 2023, esse percentual era de 14%. A área da saúde só perde para a economia: em maio, 23% disseram que essa era a sua maior preocupação.
Os dados da pesquisa deixam Nísia numa situação pouco confortável. O Ministério da Saúde é alvo de eterna cobiça de integrantes do centrão, independentemente do ritmo de liberação de emendas. Esse fato, por si só, não a fragiliza. Mas, combinado ao descontentamento da população, a situação muda.
A ministra já recebeu o apoio público do presidente Lula no ano passado e novamente neste ano, depois do mal-estar em março, durante uma reunião interministerial. Embora tenha dado mais um crédito a Nísia, Lula deixou claro, também, que a permanência no cargo está condicionada às entregas.
O não dito, mas sabido, é que essas entregas não são mensuradas por números coletados no próprio ministério, mas em melhora de popularidade.
Embora a equipe de Nísia procure mostrar resultados, o que adversários — e mesmo pessoas próximas — afirmam é que se esperava mais. Entre as falhas apontadas está a condução das negociações para a vacina contra a dengue e a forma como foram manejadas as poucas doses compradas do imunizante.
Sabia-se desde o início que a quantia adquirida não seria suficiente para ter um impacto nos rumos da epidemia. Mas a estratégia da campanha, que reservou doses para crianças e adolescentes (grupo sempre mais resistente às ações de saúde), trouxe resultados decepcionantes. A iniciativa não convenceu, doses demoraram a ser usadas, obrigando remanejamentos e mudanças na estrutura da campanha. Uma medida que poderia ser usada para engajar acabou rendendo dor de cabeça e frustração.
Para ampliar a aprovação, o Ministério da Saúde sabe quais pontos precisa trabalhar melhor: população jovem, mulheres, grupos de mais alta renda e evangélicos. A ideia é criar ações voltadas para esses grupos, divulgar mais as iniciativas e não deixar dúvidas de que elas partiram do governo federal. Na teoria, o caminho está traçado. Resta saber como será colocar isso em prática. O Rio Grande do Sul será um desafio, mas, para os mais otimistas, pode ser um caminho de aprendizado.