Como previsto, em discurso por videoconferência na cúpula do BRICS, o presidente Lula reforçou o aspecto econômico do bloco e ressaltou que o grupo deve ser resposta às instituições de Breton Woods (o FMI e o Banco Mundial), cuja fundação marcava há 80 anos a criação do emergente sistema financeiro internacional forjado após a Segunda Guerra Mundial. Com o aniversário redondo neste ano, fica ainda mais forte a demanda por reformas que vem sendo reiterada pelo líder petista.
Presidente temporário do G20 até o final do ano e prestes a assumir as presidências do BRICS e da COP30, o Brasil quer dar um sinal político forte e consistente. Não que isso signifique mudanças radicais, nem para já. Mas lembrou que os fluxos financeiros continuam seguindo para nações ricas, um “Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes e em desenvolvimento financiam o mundo desenvolvido”.
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Ao reforçar o viés econômico do BRICS que ganhou novos sócios controversos este ano, Lula tenta mostrar que o grupo não é polo anti-Ocidente, como tem sido percebido cada vez mais. Ao ressaltar que 30% das importações brasileiras vêm dos integrantes do grupo para quem o Brasil exportou 12 vezes mais em 20 anos, foi como se insistisse na importância econômica que o Brasil confere a mais esta plataforma internacional. Esta terá sido outra mensagem ao Ocidente, assim como a parte da fala em que destaca a necessidade de negociações de paz para resolver os conflitos globais, tema sabidamente incômodo para o dono da casa, Vladimir Putin.
Lula falou em esforço de paz entre Rússia e Ucrânia e, sobre a crise no Oriente Médio, falou em insensatez e repetiu as palavras do turco Erdogan na Assembleia Geral da ONU, que havia dito que Gaza se tornou “o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo”.
O presidente brasileiro ainda jogou luz para a importância do BRICS para a COP30 por se tratar de “ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima”. Ele sabe que, sem os integrantes do bloco, não há como reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Lula ainda afirmou que, em Belém, que será a sede da cúpula em novembro de 2025, “vamos juntos mostrar que é possível conciliar maior ambição em nossas Contribuições Nacionalmente Determinadas com o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas”.
Sobre a agenda em discussão em Kazan até esta quinta-feira (23/10), mencionou que “é chegada a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países”. “Não se trata de substituir nossas moedas”, prosseguiu. “Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional”, concluiu.
Como antecipado pelo JOTA, o Brasil avalia impacto e possíveis modelos que atendam os interesses do país no que diz respeito às discussões sobre medidas para reduzir a dependência do dólar no comércio entre os países do grupo. O tema, que é música para os ouvidos de russos e chineses, estará no comunicado, mas ainda está “verde”. Apesar dos sinais políticos que serão emitidos, não é algo para o curto prazo. “Requer tempo e muito trabalho”, segundo negociadores brasileiros.