Poderia-se pensar que, em meio ao frenesi por novas tecnologias e fontes de energia, as usinas hidrelétricas estariam perdendo espaço ou visibilidade. Aparentemente, elas estão de volta à “moda”. Contudo, a verdade é que nunca deixaram de ser importantes.
Sua relevância, aliás, está sendo reforçada pelos novos e gigantescos desafios impostos pela explosão da inteligência artificial. Elas se adaptaram ao longo dos anos para melhor servir ao Sistema Interligado Nacional (SIN), e hoje se mostram a solução ideal para os dilemas da energia global.
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O consumo de energia no mundo está sendo transformado pela corrida da IA. Gigantes de tecnologia dos EUA, como Google, Microsoft e Amazon, estão competindo para construir data centers cada vez maiores, e o consumo de eletricidade desses “hiperescalares” disparou.
Segundo Eric Schmidt, ex-CEO do Google, seriam necessários cerca de 90 gigawatts adicionais de capacidade elétrica nos EUA em apenas 3 a 5 anos — o equivalente à energia de 90 usinas nucleares. Essa demanda explosiva e aparentemente insaciável colide com os duros gargalos de infraestrutura: construir grandes usinas leva alguns anos e conectar novos data centers à rede existente pode demorar até 7 anos.
A grande contradição do cenário atual é a aposta total em fontes renováveis intermitentes (solar e eólica) para suprir essa demanda. No entanto, essas fontes, com sua disponibilidade limitada, são insuficientes para cargas 24/7 (vinte e quatro horas por 7 dias da semana), como as exigidas pelos data centers.
Para o setor elétrico, a resposta passa por uma base energética firme, com alta capacidade de adaptação, flexibilidade operacional e resposta instantânea à demanda, atributos fundamentais para atender cargas críticas e crescentes de forma rápida e localizada, que pode ser garantida com o armazenamento de energia em larga escala.
É aqui que o Brasil e suas hidrelétricas entram em jogo, posicionando-se como uma resposta estratégica a esse desafio global. Com um potencial hídrico ímpar, o país tem a oportunidade de usar a hidroeletricidade não apenas como fonte de geração, mas como uma solução de armazenamento em grande escala.
As Usinas Hidrelétricas Reversíveis (UHRs), por exemplo, funcionam como “giga baterias naturais”, capazes de armazenar o excedente de energia solar e eólica para ser utilizado quando necessário. Outra solução é a modernização e repotenciação das usinas existentes, que pode agregar até 11 GW de capacidade adicional ao sistema.
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Para que o Brasil capte essa nova grande oportunidade de negócio, tornando-se um hub de data centers e agregando valor à nossa energia, é imprescindível que o setor elétrico continue a se adaptar.
Isso inclui a implementação de políticas públicas que incentivem a inovação e o investimento em usinas reversíveis, a agilização do licenciamento ambiental e a valorização da flexibilidade e da potência que as grandes hidrelétricas podem oferecer de forma robusta, renovável e com vantagens importantes como ausência de emissões, longa vida útil, preço competitivo e múltiplos benefícios sistêmicos.
Dessa forma, podemos garantir que a corrida da IA não encontre no Brasil um gargalo de energia, mas sim uma solução estratégica, sustentável e economicamente viável para um futuro cada vez mais digital e descarbonizado.