Na JOTA Principal de hoje, contamos como o conflito entre Irã e Israel tem impactado todas as discussões globais, afetando até o discurso que Lula havia preparado para o encontro do G7 no Canadá.
Também tratamos dos recados que o Congresso manda ao governo e os interesses partidários em dominar as redes sociais.
Boa leitura!
1. O ponto central: 🗣️ O que Lula dirá
O presidente Lula chegou ao Canadá e já adiantou que buscará relacionar o impacto da guerra entre Israel e Irã com a discussão sobre segurança energética, tema principal do encontro do G7.
- “Em um momento em que o mundo está precisando de muito recurso para a transição energética, para combater a miséria no mundo, você ver dinheiro sendo gasto com conflito, obviamente me incomoda profundamente.”
Por que importa: Lula foi convidado pelo primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, para participar da cúpula que reúne os líderes das principais economias do mundo.
- Ele terá cerca de seis minutos distribuídos em duas intervenções.
- A ideia é calibrar as palavras que haviam sido preparadas antes do início do conflito entre Israel e Irã.
- Neste rápido discurso também deve deixar mensagens direcionadas a Donald Trump. Ele falará de transição energética, COP30 e da importância do multilateralismo.
- Lula tinha a expectativa de encontrar Trump e até convidá-lo para a COP30 em Belém, mas o presidente americano voltou a Washington (leia na nota a seguir).
Pela frente:
- Apesar do pouco tempo e desafios logísticos para ter encontros bilaterais, Lula se encontra com Carney, a pedido do próprio premiê canadense.
- Existe ainda um pedido do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e a intenção do brasileiro de encontrar-se com dois personagens recém-chegados: o novo chanceler alemão, Friedrich Merz, e o presidente sul-coreano, Lee Jae-myung.
Sim, mas… A escalada do conflito, apesar de afetar diretamente a discussão de segurança energética, acaba tirando o foco do tema e ainda coloca Lula na situação de ter que se posicionar, num campo minado diplomático.
2. Algo ‘muito maior’

Donald Trump deixou o encontro do G7 mais cedo e retornou a Washington, nesta terça (17), para participar de reuniões sobre a guerra entre Israel e Irã.
- Na chegada, ele disse a repórteres que não está trabalhando em um cessar-fogo, mas em algo “muito maior”, segundo o New York Times (sem paywall).
Panorama: Os Estados Unidos informaram a aliados no Oriente Médio, no domingo (15), que não irão se envolver no conflito a não ser que o Irã ataque cidadãos americanos, segundo reportagem do site Axios (sem paywall).
Pela frente: A ideia de um não envolvimento americano é cada vez menos provável. A própria diplomacia iraniana já afirmou que os Estados Unidos deveriam buscar ajudar a convencer Israel a cessar-fogo, em vez de apoiá-los.
Esse é exatamente o dilema que os Estados Unidos enfrentam no momento: seguir pelo caminho diplomático ou ir para a guerra, conforme análise do New York Times (sem paywall).
3. Acordo à vista

Há no governo brasileiro a expectativa de que o Canadá retome as conversas sobre acordo comercial com o Mercosul já nesta primeira reunião bilateral, Vivian Oswald escreve no JOTA Pro Poder.
- Uma fonte do governo disse, em condição de anonimato, que “se o Canadá quiser, acordo [com o Mercosul] sai rápido”.
- “Depois de superar parâmetros com a UE, isso acaba por balizar todos os outros acordos.”
Panorama:
- Os canadenses têm procurado o governo e estiveram em Brasília algumas vezes, antes mesmo da eleição de Mark Carney e da política do tarifaço de Trump, segundo fontes do governo.
- No passado recente, já houve várias rodadas de negociação com o Canadá, que as interrompeu ainda durante o governo Bolsonaro.
Pela frente: O Brasil está prestes a assumir a presidência pro tempore do Mercosul, e a agenda externa do bloco é prioridade de Lula.
Aliás… Os Fundos de Investimento Climático (CIF) convidaram o Brasil a preparar um plano de investimento no valor de US$ 250 milhões (R$ 1,3 bilhão) destinado ao programa brasileiro de Descarbonização da Indústria. Leia mais.
4. ‘Placas tectônicas’

Toda a tensão fez o dólar mergulhar para seu menor valor desde 7 de outubro, comparado à moeda brasileira, fechando abaixo de R$ 5,50.
Por que importa: A fraqueza do dólar é um reflexo das desconfianças dos investidores às incertezas provocadas pela política comercial de Trump e seu impacto numa possível desaceleração econômica global, somada aos conflitos no Oriente Médio.
Neste contexto, o Brasil e outros países emergentes passam a ser mais atrativos.
🗣️ O que estão dizendo: É exatamente o que pensa a gestora Ashmore, especializada em mercados emergentes, conforme entrevista de seu estrategista-chefe de macro global, Gustavo Medeiros, ao Brazil Journal (sem paywall):
- “Os Estados Unidos devem passar por uma consolidação fiscal, enquanto Alemanha, China e outros países que têm algum espaço no orçamento tendem a ir na direção oposta — espero que não o Brasil.”
- “Quem ignorar essas placas tectônicas se mexendo provavelmente vai perder a maior história macro da nossa geração — com exceção da inteligência artificial.”
5. Lula ainda favorito
As últimas pesquisas indicaram que Lula é um candidato menos competitivo do que antes, mas ainda é o favorito para 2026.
Por que importa: O presidente tem hoje 39% de aprovação no agregador de pesquisas do JOTA (gráfico acima) — um nível que, neste momento, o coloca abaixo da faixa de 50% de probabilidade de reeleição.
Sim, mas… Embora a queda de apoio a Lula seja o diagnóstico do momento, é importante lembrar que, do outro lado da disputa, também não há nada definido, Daniel Marcelino analisa no JOTA Pro Poder.
O que isso significa para 2026?
- O desgaste atual não elimina o favoritismo de Lula.
- Apesar do momento negativo, sua base de apoio e liderança na saída da esquerda mantêm alta sua competitividade.
- Mas o cenário é instável: a queda de 2 pontos na probabilidade de vitória indica que essa vantagem não está assegurada.
6. Mensagem para você

O recado veio. Com 346 votos favoráveis e 97 contrários, a Câmara aprovou nesta segunda (16) a urgência do projeto de decreto legislativo que susta os efeitos do aumento do IOF.
🌡️ Apesar de não ter efeito prático imediato, o avanço do PDL é um termômetro da insatisfação no Legislativo.
💸 O discurso usado pelos parlamentares foi de incômodo com a agenda de aumento de impostos do governo.
Pela frente: A ofensiva, no entanto, não para por aí:
- A bancada ruralista está se organizando para derrubar um dos principais vetos do governo ao PLP 68/2024, Mariana Ribas escreve no JOTA.
- Este é o primeiro projeto de regulamentação da reforma tributária, que trata dos dispositivos que previam os Fiagros e os FIIs como não contribuintes do IBS e da CBS.
- Fontes da bancada afirmam que, em relação à reforma tributária, o governo descumpriu o acordo que havia feito.
7. PT e big techs

Enquanto o PL promoveu seminários e divulgou entre seus filiados manuais de boas práticas das principais redes sociais, o PT rechaçou qualquer treinamento que partisse de big techs.
Mas isso deve mudar, Grasielle Castro relata no JOTA.
A novidade: O partido agora indica interesse em fazer treinamentos “com todas as plataformas”, mas a decisão ficará para a próxima gestão.
Nos bastidores:
- Os motivos para a recusa passam por falta de interesse, desorganização e também por críticas de alas da sigla.
- O PT também está incomodado com a percepção de que há uma aproximação entre big techs e partidos à direita.
- O partido defende posicionamentos do governo que vão contra os interesses das empresas, como a necessidade de ampliar a responsabilização de plataformas digitais.
🗣️ O que estão dizendo:
- “Como faremos a briga? (…) Precisamos conhecer os recursos que elas [plataformas] têm. E nós temos que nos preparar cada vez mais sobre isso. E nós estamos nos preparando” — Gleisi Hoffmann, em entrevista na semana passada.
- “Vamos deixar a próxima direção do PT cuidar disso. Mas não vai ser só com a Meta. Vamos ter cursos com os chineses também” — Jilmar Tatto, secretário de Comunicação do PT, em entrevista ao Estadão (com paywall).
- A Meta informou que treinamentos com partidos com presença no Congresso são parte do trabalho da empresa há muitos anos: “Oferecemos esses encontros para capacitar suas equipes sobre boas práticas em nossas plataformas”.
8. 📸 Despedida: Setentão

Suderj informa: o Maracanã, templo maior do futebol brasileiro, completou 75 anos nesta segunda (16). Aqui ele aparece em sua versão olímpica, em 2016, dias antes do início dos jogos.