Em 2020, pouco antes da explosão da pandemia, assumi a liderança da Comissão de Relações Institucionais e Governamentais (CRIG) da Abrasca (Associação Brasileira das Empresas de Capital Aberto), entidade que reúne 85% do valor de mercado da B3.
Nesse período, além de acompanhar de perto o crescimento vertiginoso da organização, que saltou de pouco mais de 300 associados para quase 500, aprendi com exemplos práticos qual é o impacto das grandes empresas e como elas podem ajudar o país a se desenvolver.
Amplamente reconhecidas pelo seu valor de mercado, as empresas de capital aberto no Brasil geram bem mais riqueza à sociedade do que o mero valor de suas ações. A fim de mensurar qual é o verdadeiro impacto, a Fundação Getulio Vargas desenvolveu um estudo para aprofundar uma análise mais justa e abrangente do papel socioeconômico das grandes corporações.
Para alcançar este objetivo, foi construído um novo índice de valor adicionado para a sociedade, consolidando dados de salários, impostos e pagamentos a fornecedores. Este novo indicador traduz, em termos quantitativos, o impacto direto das empresas sobre o bem-estar coletivo.
Em 2024, um pequeno conjunto de 270 grandes empresas gerou uma fração expressiva da riqueza do país, cerca de 17,1% do PIB. Essas empresas, sozinhas, foram responsáveis por 23% de toda a arrecadação empresarial do Brasil, ou seja, R$ 1 em cada R$ 4 arrecadados de um universo de mais de 21,6 milhões de CNPJs ativos.
O volume de tributos por elas gerado permite o financiamento de políticas públicas em saúde, educação e segurança. A riqueza transferida pelos grandes grupos empresariais ao setor público não pode ser vista apenas como um ônus fiscal, mas como uma das principais manifestações de seu papel social e institucional.
Se olharmos apenas para as 15 empresas de capital aberto que mais geram riqueza para o país, o valor gerado por elas à sociedade é suficiente para financiar 15 edições do Bolsa Família. Para citar um exemplo particular, uma única empresa do setor de bebidas arrecadou em 2024 cerca de R$ 42 bilhões, o suficiente para financiar sozinha mais de três edições do Programa Pé-de-Meia.
Em relação à mão de obra, grandes empresas geram empregos mais qualificados e, em média, remuneram seus colaboradores diretos com um valor três vezes maior do que uma empresa comum. Esse diferencial pode ser explicado pelo perfil técnico, pelo maior grau de complexidade das atividades exercidas e pela exigência de maior qualificação nos quadros funcionais, gerando inovação e produtividade.
Para que o país cresça, a Abrasca acredita ser fundamental fortalecermos nosso mercado de capitais e avançarmos com as melhores práticas de governança corporativa. No entanto, chama atenção o fato que, nos últimos anos, o Brasil viu uma redução significativa no número de empresas listadas. Enquanto em 1990 elas eram 579, hoje não passam de 331. Com juros elevadíssimos, há mais de três anos o país está sem nenhum IPO e, somente em 2025, mais de 16 empresas fecharam capital.
De acordo com dados do Banco Mundial, existem mais de 47 mil empresas listadas em bolsas de valores no mundo, sendo 11 mil na China, 4.000 nos Estados Unidos, 3.900 no Japão e 2.600 na Índia. É fato que o tamanho da economia brasileira comportaria um número muito superior de grandes empresas. Com mais companhias listadas em bolsa, estimularíamos o crescimento econômico, elevaríamos a produtividade, aumentaríamos o investimento, a inovação e o empreendedorismo. Tudo isso se reverte em emprego e renda.
Empresas de grande porte com capital aberto tendem a ter governança corporativa mais desenvolvida, não apenas por motivos regulatórios, como práticas de divulgação periódica de suas informações financeiras e estratégicas. Os dados evidenciam que empresas com governança mais robusta tendem a apresentar desempenho financeiro superior, medido por indicadores como retorno sobre ativos (ROA), retorno sobre o patrimônio (ROE) e valor de mercado.
Não existe nenhum plano comercial mais eficiente, para nenhuma empresa, do que o crescimento do Brasil. Se o país cresce, todos crescem. Este é o nosso propósito. Somos o fórum onde as grandes empresas se encontram e dialogam para pavimentar este caminho. Precisamos fortalecer nosso ambiente de negócios. Que sigamos firmes nessa luta, crescendo junto com o Brasil na construção de um país mais competitivo.