Uma das doenças mais prevalentes do século 21, o diabetes tipo 2 afeta 1 a cada 10 pessoas no mundo[1]. São cerca de 537 milhões de adultos vivendo com a doença, dos quais pouco menos da metade, ou 240 milhões, nem sequer sabem. Apesar de tantos números expressivos, ainda não conseguimos frear o dado mais impactante de todos: a cada cinco segundos, uma pessoa morre por complicações associadas ao diabetes[2].
Tudo isso, fez com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) colocasse o diabetes no patamar de epidemia global, desde 2009[3],[4]. Mas diferentemente da Covid-19, que assustou, aos olhos de grande parte da população, parece que o diabetes ainda não é visto como uma real ameaça. Talvez por ser silencioso, ele segue avançando com velocidade que impressiona: até 2030, mais 106 milhões de pessoas irão desenvolver a doença[5]; e até 2050, as pessoas com diabetes somarão mais de 1,3 bilhão[6].
Esses números impressionantes são da International Diabetes Federation (IDF), uma instituição que é referência no mapeamento da doença. Contudo, é possível ainda que as projeções da IDF estejam subestimadas. Em 2019, a projeção era de 578 milhões de pessoas com diabetes até 2030, mas cinco anos depois já estamos em vias de superá-lo[5].
Mesmo que esses estudos sejam realizados por especialistas altamente capacitados e com uso de ferramentas eficientes, muitos pacientes não chegam a um consultório médico, seja pela falta de sintomas na fase inicial da doença ou pela falta de acesso à saúde. Quando chegam e são diagnosticados, ainda precisam vencer outra grande barreira que é a adesão ao tratamento.
Infelizmente, o diabetes ainda é visto como “só mais uma doença crônica”, leigamente considerada não tão grave à primeira vista, mas que age como um dos principais fatores de risco para condições potencialmente fatais como infarto, acidente vascular cerebral e falência renal, além de complicações irreversíveis como perda de visão e neuropatia[7].
Fato é que ainda não encontramos o “ponto de inflexão” que será capaz de transformar o cenário do diabetes no Brasil e no mundo. Talvez um olhar mais focado na prevenção e no diagnóstico precoce, com intervenção ainda na fase de pré-diabetes – em que a glicemia no sangue é elevada, mas abaixo do nível que caracteriza o diabetes tipo 2 –, considerando que, neste estágio, ainda é possível impedir o desenvolvimento de diabetes com mudanças no estilo de vida e tratamento medicamentoso[8].
No Brasil, atualmente 17 milhões de pessoas têm pré-diabetes[1], e metade delas desenvolverá diabetes nos próximos cinco anos[9]. Não faz sentido que não se olhe para o pré-diabetes com atenção e como uma grande oportunidade de intervenção precoce, considerando que existem medidas eficazes que impedem a progressão para diabetes e, principalmente, pelo fato de que já nessa fase podem ocorrer complicações como insuficiência renal e doenças do coração[8].
Iniciativas como a implementação de um CID (classificação internacional de doenças) para o pré-diabetes e a criação de novas políticas públicas na saúde têm gerado diversas reflexões e discussões entre especialistas, e podem ser a chave para otimizar o cuidado e frear a doença. Uma coisa é certa: precisamos de novos olhares e alternativas para combater a crescente prevalência do diabetes no mundo.
[1] International Diabetes Federation (IDF). IDF Diabetes Atlas 2021 (10th edition). P. 30.
[2] International Diabetes Federation (IDF). Key global findings 2021. Disponível em: https://diabetesatlas.org/#:~:text=537%20million%20adults%20(20%2D79,2021%20%2D%201%20every%205%20seconds. Acesso em maio de 2024.
[3] Standl, Eberhard et al. “The global epidemics of diabetes in the 21st century: Current situation and perspectives.” European journal of preventive cardiology vol. 26,2_suppl (2019): 7-14. doi:10.1177/2047487319881021. P. 1.
[4] Zimmet, P.Z. Diabetes and its drivers: the largest epidemic in human history?. Clin Diabetes Endocrinol 3, 1 (2017). https://doi.org/10.1186/s40842-016-0039-3
[5] International Diabetes Federation (IDF). IDF Diabetes Atlas 2021 (10th edition). P. 7.
[6] GBD 2021 Diabetes Collaborators. Global, regional, and national burden of diabetes from 1990 to 2021, with projections of prevalence to 2050: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2021 [published correction appears in Lancet. 2023 Sep 30;402(10408):1132]. Lancet. 2023;402(10397):203-234. doi:10.1016/S0140-6736(23)01301-6
[7] International Diabetes Federation (IDF). IDF Diabetes Atlas 2021 (10th edition). P. 12.
[8] Diretrizes Sociedade Brasileira de Diabetes. 2019-2020.
[9] Diabetes Prevention Program (DPP) Research Group. The Diabetes Prevention Program (DPP): description of lifestyle intervention. NIH external link Diabetes Care 2002;25(12):2165‒2171.