Em rápido discurso na abertura da Cúpula de Líderes da COP30, o presidente Lula falou em um cenário de insegurança e desconfiança mútua, em que “interesses egoístas imediatos preponderam sobre o bem comum de longo prazo”, e prometeu avançar em dois temas que devem ser os maiores nós dos próximos dias: o afastamento dos combustíveis fósseis e o financiamento de US$ 1,3 trilhão por ano, a partir de 2035, para o combate à mudança do clima.
A capacidade de o Brasil avançar nessas duas searas dará a medida do sucesso desta COP30. Mas não está claro como isso será feito. A ideia é reforçar a importância de ambos em documentos que devem ser publicados ao final da cúpula de líderes. Um deles seria um “chamado à ação” (“Call to Action”, no jargão diplomático). Isso não significa, contudo, que serão resolvidos no âmbito da COP30 propriamente dita, que só começa no dia 10 de novembro.
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Nenhum dos dois temas está nas negociações em si. Por isso, Lula quer ao menos mensagens políticas fortes dos chefes de Estado e de governo presentes na reunião em Belém. Isso já seria visto como uma vitória considerável, embora as resistências sejam muitas.
Discurso
Lula disse que Belém honrará os legados das COPs 28 e 29, que trouxeram ambos os temas para a pauta, mas admitiu as contradições que os envolvem e que vêm emperrando as discussões nos últimos anos. Enquanto a demanda por combustíveis fósseis ainda é alta, ninguém quer abrir mão dos recursos que ganha com o petróleo nem deixar de consumi-lo. Resolver como isso será feito continua sendo um dos maiores desafios desta e de todas as outras COPs, junto com a questão do dinheiro, como afirmam negociadores que acompanham os dois temas há anos.
“Estou convencido de que, apesar das nossas dificuldades e contradições, precisamos de mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos.”
Como mostrou o JOTA, este será o pano de fundo de uma verdadeira guerra de bastidores nas negociações, que acontecem à sombra dos EUA, um dos principais emissores do mundo, país que vem lutando abertamente contra o multilateralismo e as energias sustentáveis.
No mesmo discurso, Lula afirmou que, embora a humanidade esteja ciente do impacto da mudança do clima há mais de 35 anos, desde a publicação do primeiro relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), foram necessárias 28 conferências para que se reconhecesse pela primeira vez, em Dubai, a necessidade de se afastar dos combustíveis fósseis e de parar e reverter o desmatamento, além de mais um ano adicional para que se admitisse, em Baku, a perspectiva de ampliar o financiamento climático para um trilhão e trezentos bilhões de dólares.
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Lula afirmou que, para avançar, será preciso superar dois descompassos: a desconexão entre os salões diplomáticos e o mundo real e o que chamou de descasamento entre o contexto geopolítico e a urgência climática.
“Forças extremistas fabricam inverdades para obter ganhos eleitorais e aprisionar as gerações futuras a um modelo ultrapassado, que perpetua disparidades sociais e econômicas e a degradação ambiental”, disse.
O presidente afirmou ainda que rivalidades estratégicas e conflitos armados desviam a atenção e drenam os recursos que deveriam ser canalizados para o enfrentamento do aquecimento global. “Enquanto isso, a janela de oportunidade que temos para agir está se fechando rapidamente”, completou.