As defesas dos militares e do policial federal indiciados na trama golpista pela Procuradoria-Geral da República (PGR) levaram à tribuna do Supremo Tribunal Federal (STF) estratégias diversas para tentar convencer os ministros da inocência de seus clientes. De elogios aos ministros, ao destaque às honrarias militares, passando pela memória do jurista Rui Barbosa e citações bíblicas.
A 1ª Turma do STF iniciou nesta terça-feira (20/5) o julgamento que pode tornar réus mais 12 acusados por tentativa de golpe no Brasil em 2022– dessa vez, os ministros vão julgar o que a Procuradoria-Geral da República (PGR) chamou de núcleo militar, que seriam os responsáveis por operacionalizar o plano golpista, como sequestro e morte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice, Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes. Dos réus, 11 são militares da reserva e da ativa e o único civil é um policial federal que participou da segurança de Lula.
O advogado do tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo, Jeffrey Chiquini da Costa, elogiou o ministro Luiz Fux – que tem sido visto por bolsonaristas como uma tábua de salvação no julgamento da 1ª Turma por discordar em certos tópicos do relator, ministro Alexandre de Moraes. Disse o advogado: “Ministro Fux, sou muito fã do senhor” e lembrou que o magistrado é faixa coral de Jiu-Jitsu, a penúltima graduação na arte marcial. E pediu: “Não deixe um caveira preso injustamente”. Chiquini da Costa também elogiou o presidente da 1ª Turma, Cristiano Zanin, por sua atuação resiliente como advogado da Lava-Jato.
Chiquini da Costa afirmou que seu cliente estava em Goiânia (GO) comemorando seu aniversário no dia 15 de dezembro de 2022 – data em que os kids pretos teriam ficado a postos para prender ou executar o ministro Alexandre de Moraes.
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Luciano Pereira Alves de Souza, advogado do tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, também aproveitou a tribuna para elogiar a ministra Cármen Lúcia com os adjetivos “belíssima” e “honrosa”. O defensor começou a sua fala fazendo citações bíblicas – estratégia que já apareceu em outras sustentações orais na trama golpista. A passagem escolhida foi o livro de Isaías, capítulo 59, versículos 14 a 17. Neste trecho, diz-se de uma crise moral e espiritual em que a justiça é afastada e a verdade ignorada.
Os advogados destacaram as honrarias militares, em uma tentativa de melhorar a imagem de seus clientes, o que os afastaria de condutas criminosas. Marcelo César Cordeiro, advogado do coronel Fabrício Moreira de Bastos, descreveu a atuação do militar no resgate de brasileiros em Israel quando ocorreram ataques do Hamas. Lembrou que o coronel foi condecorado pelo presidente Lula – uma das supostas vítimas do plano golpista.
Cléber Lopes de Oliveira, advogado do general Nilton Diniz Rodrigues, narrou que seu cliente foi promovido a general de brigada e, em abril de 2023, designado para uma importante missão na Amazônia, ou seja, depois da suposta tentativa de golpe. O advogado também aproveitou para dizer que nas Forças Armadas sabem quem era golpista ou não: “Nas Forças Armadas as pessoas sabem quem era quem”.
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Oliveira foi um dos advogados que evocou a memória de Rui Barbosa, advogado, político, escritor e diplomata e um dos responsáveis pela Constituição de 1891. Rafael Favetti, advogado do coronel Márcio Nunes de Resende Júnior, também citou o jurista histórico e fez referência ao seu busto presente no prédio do STF.
O advogado do tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros, Igor Laboissiere Vasconcelos Lima, preferiu usar o clássico grego da Odisseia, de Homero, para dizer que é preciso cuidado com o canto das sereias. Na epopeia grega, os marinheiros eram seduzidos pelo belíssimo canto das sereias, descuidavam da embarcação e naufragavam.
Outro ponto trazido de forma recorrente à tribuna foi a tentativa de minimizar a reunião do dia 28 de novembro de 2022 a uma “conversa de bar”. O termo foi usado pelo ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, em sua delação. A tática apareceu nas falas dos advogados dos militares Nilton Diniz Rodrigues, Fabrício Moreira de Bastos, Bernardo Romão Corrêa Netto e Márcio Nunes de Resende Júnior.
Segundo a denúncia da PGR, para assegurar o êxito da ação golpista, os “Kids Pretos” decidiram organizar reunião nesta data para desenvolver estratégias de pressão sobre os Comandantes renitentes.
De uma forma geral, os advogados tentaram afastar seus clientes dos crimes imputados pela Polícia Federal e PGR; criticaram a delação do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro Mauro Cid e as provas trazidas aos autos; e tentaram comprovar que os militares não estavam presentes nos atos golpistas, como reuniões. Também disseram que seus clientes não participaram do plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice, Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.