Doença Mpox: entenda quais são os riscos da emergência decretada pela OMS

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Pela segunda vez em dois anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou, na quarta-feira (14/8), a Mpox (vírus monkeypox) uma emergência sanitária de importância internacional (ESII). A doença voltou a preocupar autoridades sanitárias diante do avanço do vírus em países da África neste ano e o surgimento de uma subvariante mais letal do vírus, o clado 1b, na República Democrática do Congo em 2023.

Nesta quinta-feira (15/8), a Suécia confirmou o primeiro caso da variante clado 1b fora do continente africano. O paciente em questão teria sido infectado após uma viagem à região.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou a emergência global após a reunião do comitê emergencial, na qual especialistas alertaram que, além dos surtos no Congo e em outros países da África, há risco significativo de disseminação do vírus para além do continente africano, o que demanda uma “resposta internacional coordenada”.

A ESPII é o mais alto nível de alerta da OMS, acionado em casos em que uma doença apresenta risco à saúde pública global. A classificação possibilita à OMS mobilizar recursos e coordenar iniciativas de cooperação entre os países, como o compartilhamento de vacinas, tratamentos, testes de diagnóstico, entre outros.

Na mesma linha da OMS, a autoridade sanitária da União Africana, a Africa CDC, também declarou emergência de saúde pública na última terça-feira (13/8).

Em resposta à declaração de emergência, o Ministério da Saúde publicou nesta quinta-feira a Portaria 5.192/2024, reforçando o compromisso do Brasil com as obrigações internacionais como membro da OMS. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, declarou que “não há motivo de alarme, mas sim de alerta” em relação ao avanço do vírus em território nacional.

Trindade pontuou que medidas preventivas, como a compra de testes diagnósticos, elaboração de alertas para viajantes e atualização do plano contingencial, já estão em andamento pela pasta. Além disso, na última quarta-feira (14/8), a pasta anunciou que instalará um Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para monitorar a doença e coordenar as ações de resposta.

Em 2024, foram registrados 709 casos da Mpox no Brasil. Entre 2022 e 2024, mais de 12 mil casos foram confirmados no país.

O que é Mpox?

A Mpox é uma zoonose viral (vírus transmitido aos seres humanos a partir de animais) com sintomas semelhantes aos observados no passado em pacientes com varíola.

Apesar de originalmente transmitida de animais para humanos, a Mpox também circula entre pessoas através, principalmente, do contato direto com lesões, fluidos corporais ou secreções respiratórias de indivíduos infectados. A infecção também pode ocorrer pelo compartilhamento de objetos contaminados. Profissionais de saúde, familiares e parceiros íntimos de pessoas infectadas estão entre os grupos de maior risco.

Conhecida anteriormente como “varíola dos macacos”, a OMS mudou o nome da doença para Mpox, para evitar equívocos de que os macacos eram os principais transmissores do vírus aos humanos. O nome surgiu em razão da doença ter sido descoberta em colônias de macacos, na África Central, nos anos 1970.

Qual é a diferença entre as cepas?

O vírus da Mpox é classificado em duas cepas principais: os clados 1 e 2. O clado 2 é menos letal e foi o responsável pelo surto global em 2022, assim como os casos da doença registrados no Brasil.

Em setembro de 2023, a OMS identificou uma nova subvariante do clado 1, a 1b, na República Democrática do Congo, que pode chegar a ser 10 vezes mais letal, e tem se disseminado com maior velocidade através de relações sexuais.

Mpox no mundo

A preocupação global com a Mpox já vinha se intensificado desde a descoberta da subvariante clado 1b.

A OMS contabilizou, de janeiro de 2022 a junho de 2024, 99.176 casos confirmados de Mpox em 116 países, além de 208 mortes provocadas pela doença. Apenas em junho de 2024, 934 casos foram confirmados laboratorialmente e quatro mortes foram reportadas em 26 países, “sinalizando transmissão contínua da Mpox em todo o mundo”, segundo relatório divulgado última segunda-feira (12/8).

As regiões mais afetadas, de acordo com o número de casos confirmados em junho, são África (567 casos), América (175 casos), Europa (100 casos), Pacífico Ocidental (81 casos) e Sudeste Asiático (11 casos). No continente africano, 96% dos casos estão concentrados na República Democrática do Congo.

Quais os sintomas da doença?

Os sintomas apresentados por pessoas infectadas são febre, dor de cabeça, dores nas costas ou musculares, inflamações nos nódulos linfáticos, além de erupções cutâneas e lesões, que começam no rosto e se espalham pelo corpo, atingindo principalmente as mãos e os pés.

As lesões podem ser planas ou levemente elevadas, preenchidas com líquido claro ou amarelado, podendo formar crostas que secam e caem. O número de lesões em uma pessoa pode variar de algumas a milhares de lesões. O período de incubação do vírus pode variar de cinco a 13 dias e, segundo a OMS, os sintomas duram de 14 a 21 dias.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da Mpox é feito por meio de testes moleculares ou sequenciamento genético, feitos com amostra coletadas das lesões cutâneas. Até o momento, não há um tratamento específico a doença. O tratamento paliativo consiste em medidas de suporte clínico, que visam aliviar sintomas, prevenir e tratar complicações e evitar sequelas.

Prevenção da Mpox

A OMS aponta que existem, atualmente, duas vacinas em uso contra a doença. Nesta semana, a entidade solicitou às fabricantes dos imunizantes que submetam pedidos de análise para o seu uso emergencial, com informações sobre a segurança, eficácia e qualidade das vacinas.

Na última quarta-feira (14/8), a ministra Nísia Trindade observou que o país está “pronto” para fornecer vacinas, se necessário, além da realização de testes e diagnósticos.

Em 2023, o Ministério da Saúde distribuiu 47 mil doses da vacina no Brasil, com liberação provisória da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), devido ao aumento de casos em território nacional. Neste ano, a pasta informou que adotará as “ações necessárias”, “caso novas evidências demonstrem a necessidade de alterações no planejamento”.