Eis o problema: o grande desengajamento das alunas e alunos de graduação. Celulares na mão, olhares de tédio, a risada ocasional diante de uma piada. Menos interesse nas aulas, menos matrículas na graduação e na pós. A universidade disputa o mesmo bem escasso que as redes sociais – a atenção. O grande Luis Fernando Schuartz dizia que “universidade não é circo”, mas hoje o professor, para ser efetivo, além do básico bem feito, pode buscar alternativas fora da caixa (de marfim?).
Em 2018, eu e um grupo de alunas e alunos de pós-graduação, inspirados por iniciativas semelhantes em outras disciplinas, tivemos a ideia de criar uma Olimpíada de Direito Administrativo. O primeiro evento ocorreu apenas entre universidades situadas no estado do Rio; era um evento-teste. Ajustados alguns ponteiros, no ano seguinte partimos para a primeira competição envolvendo universidades de todo o país. A Olimpíada, que agora chega à sua quarta edição nacional, é um sucesso. Cada edição conta com mais participantes. Há diversidade regional (mas não tanto quanto gostaríamos), e, embora isso não seja objetivo, tivemos até diversidade de ganhadores: sagraram-se campeãs, pela ordem, a UERJ, a USP e a UFMG.
O sucesso é fácil de explicar. A competição, além de evidentemente aprimorar a exposição do interessado ao conteúdo canônico do Direito Administrativo, testa o aluno de várias formas. Há questões orais, elaboração de pareceres, redação de contratos administrativos, acordos substitutivos, editais. É atividade que exige – e daí aprimora – uma série de habilidades, que, úteis na prática, nem sempre são trabalhadas nos bancos escolares. Como abrange o Brasil inteiro, permite integração nacional entre docentes e discentes.
Mas nem tudo são flores, ou, no caso, louros olímpicos. Todo jogo seleciona perfis mais competitivos; é importante ressaltar o caráter lúdico, pedagógico, de integração. Às vezes é preciso lembrar que estamos falando do que é, na sua raiz, uma gincana escolar valendo medalhas de lata pintada. (Não é só isso, mas me permitam o exagero.) Além disso, a Olimpíada não quer ser acusada de contribuir para o fenômeno que alguns chamam de “everything but classes” – o suposto interesse cada vez menor dos graduandos pelas salas de aula, e um crescente interesse por tudo que os afaste dali. Ora: aulas são a base da graduação. Sem aulas, podemos ter um clube da conversa ou uma colônia de férias cult, jamais uma universidade.
E há os desafios de sempre: há os custos de se trazer alunos para a fase presencial. Há dificuldade de se conseguir professores e professoras para as bancas – estamos falando de uma grande doação de tempo e de energia em pleno final de semana. A logística é, no geral, uma coisa complicada, ainda mais quando se tem a pretensão de nacionalizar cada vez mais o evento.
Com êxito crescente, mas enfrentando riscos e desafios, o projeto segue. Pois bem: forme sua equipe e venha participar! O edital está aqui.