Com injeção de R$ 36,9 bilhões, governo estimula setor imobiliário e afaga classe média

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Embora seja um programa de caráter estrutural, com um processo de implementação ao longo de 10 anos, o novo modelo de crédito imobiliário lançado na sexta-feira (10/10) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em São Paulo terá também impactos de curto e médio prazos, mirando especialmente a população de classe média alta.

A liberação imediata de parte dos depósitos compulsórios sobre a poupança vai injetar R$ 36,9 bilhões em recursos para empréstimos imobiliários, sendo a maior parte dentro do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que atende pessoas com renda entre R$ 12 e R$ 20 mil. E isso na semana que marcou um ano de distância da eleição presidencial.

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Esse volume financeiro é para a primeira etapa preparatória para o processo de transição de modelo que, ao fim de dez anos, acabará com o direcionamento dos recursos da caderneta de poupança. O novo programa também elevou o teto de imóvel que pode ser adquirido com recurso do FGTS para R$ 2,25 milhões — era R$ 1,5 milhão.

Criticado por juros altos, Galípolo é aplaudido por solução com compulsório

Alvo de crescentes reclamações por estar mantendo a taxa Selic em 15%, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, destacou os aspectos técnicos da proposta, salientando que ela, ao tirar o direcionamento obrigatório, deve ampliar a potência da política monetária.

O discurso é inteligente, mas não consegue mitigar o fato de que a curto prazo ele está promovendo uma injeção de liquidez não desprezível e que é mais uma ajuda para consolidar o processo de recuperação da popularidade de Lula. Escancarou esse efeito o pedido de aplausos do ministro das Cidades, Jader Filho, ressaltando que o tema não andava antes de Galípolo comandar o BC.

Os financiamentos imobiliários para a classe média estavam virtualmente parados pela falta de funding. Ainda que o universo a ser atingido com essa primeira liberação seja, considerando só a Caixa, de cerca de 80 mil pessoas, é mais uma medida para tentar reforçar a competitividade de Lula na disputa pela reeleição.

Ainda no front imobiliário, o governo lançou programa para financiar reformas de imóveis, nesse caso mirando a classe média baixa, com renda de até R$ 9,6 mil mensais. São linhas de créditos entre R$ 5 e R$ 30 mil e juros de 1,17% a 1,95% ao mês, relativamente baixos.

A oferta maior de crédito é uma estratégia também para estimular o nível de atividade econômica sem utilização de gasto público direto, no qual há maior restrição por conta das regras fiscais.

Há uma crescente preocupação do governo com a desaceleração em curso no ritmo da produção do país e, embora esses programas já estivessem sendo estudados há um tempo, o momento de anúncio também leva em consideração o fato de que a atividade está perdendo fôlego.

Como o JOTA tem apontado, o chamado parafiscal, marcado por estímulos ao crédito, é um caminho que tende a se intensificar com a aproximação das eleições. É uma fórmula clássica do petismo, agora em cenário no qual a percepção é de que o juro básico vai demorar a cair.