Cid diz que Bolsonaro sabia de minuta: o primeiro dia de interrogatório no STF

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Na JOTA Principal de hoje, destacamos a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF e os interrogatórios de Mauro Cid e Alexandre Ramagem.

Também tratamos do choque de realidade entre o anúncio de medidas econômicas e os asteriscos e letras miúdas do acordo.

Boa leitura.


1. O ponto central: Apertado, Cid confirma

“Somente o senhor ficaria preso”, disse Mauro Cid a Alexandre de Moraes, ao confirmar que Jair Bolsonaro teve acesso à minuta golpista e fez emendas ao texto, retirando as prisões de outras autoridades e mantendo apenas a do ministro do STF.

O ex-ajudante de ordens afirmou que o general Braga Netto repassou dinheiro vivo em uma caixa de vinho para financiar a tentativa de golpe. Os valores viriam de “setores do agronegócio”, segundo Cid.

  • 💰“Não mexi. Sabia que era dinheiro, mas não sabia o valor.”

Por que importa: Mauro Cid confirmou os principais pontos trazidos nos depoimentos à Polícia Federal e ao Supremo — o que compromete, sobretudo, Bolsonaro e Braga Netto.

Cid afirmou que os militares só prosseguiriam com um golpe se recebessem ordens, e que se cogitou a troca de comandantes após a negativa de apoio.

  • Houve uma tentativa de comprovar fraudes nas urnas eletrônicas, mas que Bolsonaro tentou interferir no relatório das Forças Armadas, querendo uma conclusão mais dura.
  • O relatório final ficou em um “meio termo”, concluindo que as urnas não poderiam ser auditadas.

Pela frente: Os interrogatórios continuam nesta terça (10) às 9h, e o próximo será o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha.


2. Jair, o pacificador

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Mauro Cid e Bolsonaro se cumprimentam / Crédito: Ton Molina/STF

Com a Medalha do Pacificador na lapela do terno, o ex-presidente Jair Bolsonaro cumprimentou Mauro Cid e, em conversa com jornalistas, aproveitou da condição de réu para lembrar que continua no jogo político.

  • “Por enquanto o candidato sou eu.”

⚡ Choque de realidade: Bolsonaro sabe que são baixíssimas as chances de ser o candidato, mas pretende demonstrar o controle da situação, Flávia Maia escreve no JOTA.

  • 🗳️ Questionado se apoiaria Michelle Bolsonaro como candidata, ele destacou as qualidades dela, mas negou que estivesse agindo como cabo eleitoral.
  • ✍️ Em momentos específicos, o ex-presidente colocou os óculos e fez anotações. Um deles foi quando Moraes perguntou a Cid sobre o grupo mais radical que tentou convencer a fazer um golpe após a derrota em 2022.
  • 🥱 No depoimento de Ramagem, Bolsonaro bocejou e fez comentários com seu advogado, Celso Vilardi, no momento em que o ex-chefe da Abin afirmou que os documentos encontrados em sua casa com anotações sobre as urnas eletrônicas não foram entregues ao ex-presidente.

Pela frente: Desde o início da ação sobre a trama golpista, os prognósticos de condenação são reais. Mas Bolsonaro sabe que pode usar o rito judicial e transformar as dependências do STF em palanque político para se manter figura central nas eleições de 2026.


3. ‘Escritos particulares’

Ramagem assiste ao interrogatório de Cid / Crédito: Gustavo Moreno/STF

O deputado e ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem negou ter usado a agência para espionar autoridades. Ele também disse que nunca repassou a ninguém, nem a Bolsonaro, documentos apreendidos pela Polícia Federal 

Segundo ele, eram “escritos particulares”.

  • Moraes perguntou se Ramagem tinha o hábito de escrever cartas e não encaminhar ao presidente.
  • Ramagem respondeu que escreve para “concatenar” as ideias, mas não enviou nenhum dos documentos.

O que diz a PF: O documento intitulado ‘‘Presidente TSE informa.docx’’ foi criado em 10 de julho de 2021, com última modificação em 27 de julho de 2021 pelo usuário ‘’aramagem@yahoo.com’’, dois dias antes da live de Bolsonaro em que com ataques ao TSE e às urnas eletrônicas. 

O que diz a PGR: O documento com argumentos contra as urnas foi voltado a subsidiar falas públicas de Bolsonaro.

O que diz Ramagem:

  • “Era momento de pensamento. Pensamento particular meu. Não quer dizer que eu tenha passado, transmitido, encaminhado a qualquer pessoa.”

Segundo o parlamentar, as anotações foram feitas no contexto da PEC 135/2019, em que se discutia o retorno do voto impresso auditável. “Depois dessa derrota, não há nenhum momento que eu tenha tocado no assunto urnas eletrônicas.”


4. IOF: asteriscos e letras miúdas

Haddad e Motta em entrevista coletiva / Crédito: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

A medida provisória a ser enviada pelo governo não conta com o compromisso de aprovação pelos parlamentares, segundo Hugo Motta afirmou nesta segunda (9).

 A fala indica uma provável desidratação de propostas, como o IR sobre produtos financeiros isentos, servindo apenas como necessidade contábil para ajustar o PLOA de 2026, escrevem Fabio Graner e Mariana Ribas no JOTA Pro Poder.

⚡ Choque de realidade: Apesar do discurso fiscalista, o Congresso impõe dificuldades em discussões relacionadas ao Fundeb e a emendas parlamentares, supersalários e previdência dos militares.

  • A reforma administrativa, com baixo impacto fiscal, é defendida, mas enfrenta desafios como privilégios no Judiciário e no próprio Congresso. Corte de benefícios fiscais no alvo.
  • Há convergência entre parlamentares e Haddad sobre cortes em benefícios fiscais, mas a incerteza é grande.  Simples, cesta básica e Zona Franca de Manaus já foram excluídos, reduzindo o escopo em R$ 200 bilhões.

Efraim Filho, líder do União Brasil no Senado e presidente da Comissão Mista de Orçamento, afirmou que o Congresso marcou uma posição na reunião, para o governo não apresentar gastos com programas de cunho eleitoral.

  • “Alavancar medidas como o Vale Gás e o Pé-de-Meia sem acompanhar o corte de gastos, esqueça. É algo que o Congresso e a CMO vão estar muito atentos”, disse ao JOTA.

No fim das contas, o recado é claro: o Congresso não dará com facilidade recursos que permitam ao governo fazer medidas que gerem dividendos eleitorais.


5. Fim da greve dos auditores

A sede da Receita em Brasília / Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Sindifisco Nacional suspendeu a greve dos auditores fiscais da Receita Federal após decisão do STJ, impactando diretamente o funcionamento do Carf e diversos serviços essenciais, Diane Bikel escreve no JOTA Pro Tributos.

Por que importa: A paralisação teve grande impacto no trabalho da Receita.

  • Suspensão dos relatórios mensais de arrecadação de 2025.
  • Paralisação da extração de relatórios gerenciais.
  • Atraso na liberação da declaração pré-preenchida do IR.
  • Não atualização do manual do PGD (Programa Gerador de Declaração).

Pela frente: Espera-se agora que a normalidade retome.

  • Retorno das sessões do Carf previsto para 23 de junho.
  • Recesso de três semanas em julho.

Choque de realidade: O Sindifisco ainda avalia medidas legais contra a decisão do STJ e existe também indefinição sobre formato das sessões do Carf, se acontecerão de forma virtual ou presencial.


6. Anvisa aprova Mounjaro

Uma dose do medicamento / Crédito: Lilly/Reprodução

A Anvisa aprovou nesta segunda (9) o uso da tizerpatida, o Mounjaro, da farmacêutica Eli Lilly, para o tratamento de perda de peso aos pacientes que convivem com obesidade ou sobrepeso.

  • Até então, o Mounjaro era permitido no Brasil apenas para tratamento de diabetes tipo 2.
  • Agora, a agência tomou como base os resultados do programa Surmont, responsável por reunir um conjunto de sete estudos clínicos de fase 3 e que recrutou mais de 20 mil pessoas ao redor do mundo. Os resultados demonstraram a eficácia e segurança para o tratamento da obesidade.

Aliás… O Mounjaro foi um importante cabo eleitoral de Davi Alcolumbre, no ano passado, quando ele buscava voltar à presidência do Senado. Ele presenteou colegas com caixas do medicamento, segundo O Globo publicou à época.


7. Jotinhas: CPI das Bets e mais

  • A senadora Soraya Thronicke, relatora da CPI das Bets, anunciou via assessoria de imprensa, que seu parecer final a ser apresentado nesta terça (10) trará o pedido de indiciamento de 16 investigados. O relatório, que precisa ser votado pelos colegas, apresenta 18 projetos de lei e um pacote com 21 propostas sobre o tema.
  • O presidente do TRT da 2ª Região, desembargador Valdir Florindo, manifesta preocupação com novas modalidades de contratação impulsionadas pelas tecnologias. Segundo ele, essas formas de trabalho não representam modernização, mas sim precarização das relações de trabalho. Leia mais.
  • O Tribunal de Ética e Disciplina da seccional de São Paulo da OAB criou uma coordenadoria para combater litigância predatória. “A litigância fraudulenta é um novo problema, um novo fenômeno. E para lidar com problemas novos, precisamos de novas soluções, não de antigas”, disse Daniela Magalhães, vice-presidente da OAB-SP. Leia mais.

8. Um passeio e um livro

A edição de 2024 d’A Feira do Livro, em São Paulo / Crédito: Associação Quatro Cinco Um/Divulgação

Os dois principais eventos para amantes de livros do Brasil começam nesta semana.

  • A Bienal do Livro, no Riocentro, vai de sexta (13) até o dia 22. Veja a programação.
  • A Feira do Livro, na praça Charles Miller — em frente ao estádio do Pacaembu —, vai de sábado (14) a 22 de junho. Veja a programação.

9. 📸 Despedida: Ó mar salgado, quanto do teu sal

O 10 de junho celebra o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Neste dia, em 1580, morria Luís de Camões.