O Brasil ganha novamente o alfinete de localização como o centro do debate climático e ambiental do mundo pelos próximos dois anos. As mudanças climáticas e o meio ambiente estarão na lista de prioridades do mandato brasileiro na presidência temporária do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo — função recém-assumida pelo país e que irá durar um ano — e será coroado com a organização da COP 30, em 2025, em Belém, no Pará.
A demonstração de uma robusta agenda internacional sobre o tema começou a ser exibida na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 28), que ocorre até a próxima terça-feira (12), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Os resultados positivos no combate ao desmatamento da Amazônia, com redução acima de 40% neste ano e a meta de uma redução sustentada até o final da década; o foco em ampliar a matriz energética com fontes renováveis; o Plano de Transformação Ecológica, além da revisão dos compromissos climáticos com o objetivo de reduzir as emissões brasileiras em 53% até 2030 foram os compromissos apresentados pela delegação do governo brasileiro na Conferência do Clima.
Dono da maior florestal tropical do mundo, a Amazônia, o Brasil tem o potencial de ser a referência para que países em desenvolvimento possam se inspirar pelo exemplo. A estratégia brasileira trabalha em marcha com a necessidade de ampliar os recursos para ações ambientais nos próximos anos. Se os planos estão postos, ainda há o limitador do dinheiro para implementá-los integralmente. Voltar a ser um player climático e ambiental, portanto, também é uma forma de ser visto como destino natural dos investimentos internacionais.
O desembarque da COP pela primeira vez na Amazônia, daqui a dois anos, é visto como a oportunidade de tornar o momento histórico na construção das soluções para as emergências climáticas. Além da cobrança por promessas não cumpridas – como o financiamento climático de US$ 100 bilhões anuais que não sai do papel – os temas sobre sistemas agroalimentares regenerativos, transição energética e redução dos desmatamentos também estão sendo tratados de forma mais firme. O Brasil trabalha para ampliar a ambição climática no que já vem sendo batizado como o documento Belém +10, a revisão obrigatória de metas climáticas do Acordo de Paris.
O IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) vem demonstrando que a solução para o equilíbrio climático tem um elemento em comum: valorizar, usar de forma sustentável e manter a floresta tropical. As conclusões apresentadas como resultados que podem ser alcançados são inúmeras: criar unidades de conservação auxilia na diminuição de queimadas na Amazônia; destinar terras públicas combate a grilagem; implementar mecanismos de agropecuária sustentável aumenta a produção sem precisar derrubar uma árvore; e o aumento da temperatura impacta no regime de chuvas e ameaça a produção, além de provocar insegurança alimentar.
As ausências na COP 28 dos presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da China, Xi Jinping, líderes das nações mais poluidoras do mundo, dá um sinal trocado para o sucesso das intenções brasileiras. Se os países continuarem empurrando para a frente os compromissos, a meta de limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais virará uma utopia. A consequência será um planeta mais aquecido, sujeito a cada vez mais tragédias ambientais como enchentes, secas e queimadas recorrentes, e com a ameaça real à sobrevivência humana.
O Brasil quer e tem condições de assumir o desejado protagonismo ambiental, mas precisará ter uma ação proativa sob o risco de virar uma ilha de intenções, que não encontra eco no mundo.