Brasil, conjuntura mundial e commodities

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O Brasil é um país abençoado por Deus. Isso, ao menos, é o que os profissionais do agronegócio fortemente acreditam. Temos uma vocação natural para a atividade agropecuária: clima propício e adequado o ano todo, recursos hidrológicos e minerais em abundância, terras férteis, disponibilidade extensa de áreas agricultáveis, posição geográfica privilegiada, mercado consumidor robusto, dentre tantas outras vantagens que nos tornam, naturalmente, aptos e extremamente competitivos em quase todas as frentes e cadeias de produção do agronegócio.

Não bastasse nossa vocação natural à atividade agropecuária, ainda temos elevada expertise na produção, fruto de décadas de pesquisas e desenvolvimento de mecanismos que conferiram ao longo do tempo maior produtividade e eficiência produtiva aos profissionais do campo.

Nesse contexto, ainda que sejamos um país com moeda instável e considerada fraca e mesmo em um ambiente altamente burocrático e que prejudica os negócios, afora nossa infraestrutura de escoamento da produção sofrível, ainda assim somos altamente competitivos no mercado internacional das commodities.

Nesse contexto, considerados os pontos fortes e as vulnerabilidades de nossa cadeia produtiva, algumas conclusões vêm à tona. A primeira delas diz respeito ao enorme potencial brasileiro para a produção agropecuária. Somos os maiores produtores mundiais de muitas soft commodities, como são chamados os produtos agrícolas plantados, cultivados e colhidos.

Nessa seara, o Brasil é o principal produtor e exportador mundial de soja (responsável por 2 em cada 5 grãos produzidos no planeta), suco de laranja (origem de 3 em cada 4 copos consumidos no mundo), açúcar (22% da produção mundial é brasileira) e café (quase dois quintos da produção do planeta advém dos cafezais brasileiros), além de importante player em outras culturas e segmentos, tais como milho, algodão e proteína animal.

Ademais, em relação às hard commodities, como são classificados os recursos naturais que podem ser minerados ou extraídos do solo, tais como ouro, petróleo e minério de ferro, é também o Brasil um importante produtor e exportador mundial.

Somos responsáveis por parcela importante do ouro disponibilizado ao mundo (em dados oficiais, o 13º maior produtor do planeta, com projeções de extração ilegal até três vezes superior a oficial), além do petróleo (nono maior produtor, com recordes de produção sendo constantemente obtidos e enorme potencial de crescimento) e, principalmente, do minério que abastece o planeta (cerca de 21% da produção mundial, ou o segundo maior fornecedor de minério de ferro do globo).

Os números da produção de ambos os segmentos – hard e soft commodities – fazem do Brasil inequivocamente um líder mundial na produção e exportação dessas matérias-primas e produtos que alimentam e atendem às necessidades mais basilares dos humanos e animais do planeta.

Nesse contexto, fica evidente que o Brasil tem enorme potencial e importância no xadrez geopolítico global, vez que se mostra um importante e confiável fornecedor para as mais variadas demandas da sociedade mundial. Considerados os elementos que compõem esse tabuleiro, seus desafios e necessidades, o Brasil é o país mais bem posicionado para suprir os desejos e demandas da crescente população global.

A junção de crescimento populacional (caminhamos para os 8 bilhões de habitantes no planeta em 2028), embora em ritmo mais reduzido, porém constante; urbanização crescente em países em desenvolvimento; ocidentalização dos hábitos de consumo, especialmente nos gigantes asiáticos; demanda crescente por proteína animal e alimentação mais rica nutritivamente em todo o planeta, notadamente com a melhoria das condições de vida; aumento da renda média da população mundial; e maior acesso aos mercados mundiais faz com que a busca por produtos agropecuários, não só para fins de alimentação como, também, para ração animal, produção de vestuário e bens de consumo e higiene, projete uma curva crescente de demanda por mercadorias produzidas no campo brasileiro.

Nesse cenário, o Brasil, relevante produtor de hard e soft commodities para consumo doméstico e, especialmente, para o mundo, obtém cada vez mais importância no cenário global, pois se coloca como um importante parceiro para fornecimento de bens e insumos voltados para o atendimento das necessidades das mais diversas nações.

Nada pode ser mais estratégico do que uma posição relevante de fornecimento de alimento para suprir a demanda crescente mundial, e nisso o soft power do Brasil vai aumentando, cada vez mais, abrindo portas para a comercialização e escoamento da produção nacional – o que nos permite continuar crescendo – e majorando nosso poder de barganha e influência perante o mundo. Se não temos o exército mais poderoso, se não somos os mais ricos, que sejamos o principal fornecedor dos bens e insumos mais básicos para as necessidades humana e animal. Isso é fonte de grande poder.

Se soubermos trabalhar bem esse poder de influência, teremos muitos dividendos a receber. Não apenas nossa balança comercial será fortalecida, com superávits e entrada de divisas maior do que a saída de capitais, como também poderemos gerar maior desenvolvimento socioeconômico para o Brasil, com geração de empregos, aumento da renda média do trabalhador e realização de políticas públicas que levem melhores condições de vida a todos os cidadãos brasileiros.

Esse é o ciclo virtuoso a que nosso potencial de produção de hard e soft commodities pode nos levar, como já tem feito ao longo dos tempos. Não fosse o agronegócio e a produção agropecuária e extrativista, a economia brasileira estaria em dificuldades. Os números demonstram isso a quem ainda possa duvidar.

Assim, pode-se concluir que, estratégica e politicamente, é inteligente fomentarmos a produção agropecuária responsável através da criação de um ambiente propício para produção e realização de negócios, com segurança jurídica e previsibilidade regulatória. Que se crie um ambiente cada vez mais propício para o desenvolvimento da produção de commodities, que são nossa especialidade e que representam aquilo que o mundo hoje mais nos demanda.

Somos bons para produzir e bons para vender nessa seara, e é através de mecanismos que fomentem e permitam a produção e extração de hard e soft commodities que iremos nos desenvolver e ser cada vez mais respeitados no mundo. Jogar contra o agronegócio, a segurança jurídica e nossa maior vocação de produção é um belíssimo de um tiro no pé.