O Comitê de Política Monetária (Copom) mostrou convicção pelo caminho de maior conservadorismo no curto prazo, ao elevar a taxa Selic para 15% ao ano, surpreendendo parte do mercado.
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Para além disso, o colegiado liderado por Gabriel Galípolo disse que o ciclo de alta será interrompido, mas não necessariamente chegou ao fim. Uma eventual retomada da alta dos juros não é nem de longe o cenário mais provável, mas a fala deve ser lida junto com a sinalização de juros altos por período prolongado. A lógica é evitar que o mercado se antecipe ao futuro ciclo de queda dos juros, passo que em algum momento será dado pelo Banco Central, quando o cenário inflacionário de médio prazo assim o permitir.
Múltiplas frentes de batalha
Ao tentar evitar que o mercado se anime com a possibilidade de um ciclo de queda em um futuro próximo, o BC faz ao menos três movimentos.
O primeiro é continuar operando um processo de valorização do real ante o dólar, em um contexto de maior risco geopolítico e no qual manter um diferencial de juros com moedas fortes é importante. O segundo é garantir um esfriamento da atividade econômica que segue teimando em surpreender mercado e governo, ainda que sinais de arrefecimento comecem a ficar mais claros e já estejam sendo notados pelo Copom.
O terceiro é no campo da política. O sentido é tentar garantir uma credibilidade junto ao mercado, sinalizando comprometimento com a meta de inflação de 3%, definida no governo passado e mantida na gestão de Fernando Haddad.
Não é a alta de 0,25 ponto em si que resolve tudo isso, mas com um juro real já acima de 10% e sem sinais de redução no curtíssimo prazo, o Copom de Galípolo tenta se provar para no futuro ganhar margem de manobra para operar de maneira mais flexível.
Sonho do governo é corte ainda neste ano
Com essas sinalizações todas, fica difícil imaginar a concretização do cenário de início dos cortes da taxa Selic ainda neste ano, como esperam setores do governo Lula. Mas se a estratégia de Galípolo e companhia surtir efeito e uma nova rodada de valorização cambial se materializar e a estagnação econômica projetada por governo, mercado e BC se confirmar nesse segundo semestre, o colegiado terá o caminho aberto para iniciar a flexibilização monetária tão sonhada pelo governo Lula ainda em 2025, com algum impacto na economia em 2026.
São muito senões até lá, mas fica evidente que Galípolo, depois da famigerada decisão dividida do Copom em maio do ano passado, resolveu não tomar mais riscos até que tenha maior controle da situação junto ao mercado. Mesmo que isso custe cobras e lagartos dos seus colegas de governo.