Barroso nega influência de lobbies empresariais, mas sua agenda mostra o contrário

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Luís Roberto Barroso proferiu palestra no Guarujá, no último dia 7 de junho, na qual negou haver demasiada influência de lobbies empresariais junto a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), inclusive à sua própria pessoa, que recentemente foi filmada em animada festa na casa do principal executivo do iFood.

Contraditoriamente, a declaração foi feita em um evento organizado por “entidade civil” conhecida como Esfera Brasil, que vem a ser um think tank criado pelo baronato empresarial de São Paulo para incutir no judiciário o seu ideário liberal, antitrabalhador e antisindicato…

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E, mais paradoxal ainda, após negar que seja influenciado pelo empresariado (de quem se compadeceu, por ser “vítima de preconceito” – não ria leitor), Barroso proferiu veemente discurso contra a “indústria de ações trabalhistas”, ao estilo de um líder patronal reacionário, vocalizando ideias propaladas pelos mais retrógrados plutrocratas brasileiros, ideias que aliás não encontram respaldo na realidade dos fatos.

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Para rebater a percepção geral de que se reúne e atende frequentemente os ricos e poderosos do país, Barroso argumentou que “conversa com todo mundo”, inclusive “sindicatos e índios (sic)”.

Bem, diante desta novidade, fui dar uma olhada na agenda oficial do presidente do STF, disponibilizada no site da instituição, para o ano de 2025. Não encontrei ali indígenas, sindicatos ou líderes trabalhistas (exceto uma associação de servidores do judiciário, atendida duas vezes, por dever de ofício, evidentemente).

Em contrapartida, o presidente do STF recebeu ou se encontrou com líderes empresariais, ou ainda participou de eventos de interesse do empresariado nada menos do que 22 vezes! Tiveram o privilégio de serem recebidos no gabinete da presidência do STF, o CEO da Ambev, o presidente da Febraban, um representante da Indústria da Construção Civil, dentre outros.

Em viagem à Suíça no início do ano, Barroso arrumou tempo para se encontrar oficialmente com representantes das empresas Equinor e Google, ambas com muitos interesses econômicos no Brasil. Neste ano de 2025, o Senhor Barroso proferiu diversas conferências em eventos organizados para debater interesses empresariais, como a do último fim de semana no Guarujá, tendo, inclusive, no dia 26/02, falado no evento “BTG pactual CEO Conference”.

A propósito, pergunto ao leitor se acha normal o presidente da Suprema Corte proferir palestra exclusiva para uma empresa. Seria conveniente que o STF divulgasse se essa palestra foi remunerada ou não, bem como quem arcou com as despesas de transporte e hospedagem, uma vez que consta como compromisso oficial do presidente da Corte.

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A parte mais inacreditável do discurso de Barroso foi sua afirmação de que juízes decidem apenas de acordo com o direito, sem qualquer influência do empresariado. A declaração beira o non sense, exatamente porque saída da boca de um magistrado que já afirmou, em autos de processo, que “ouviu de um amigo empresário” que é muito difícil fazer negócios no Brasil com a atual legislação trabalhista. Isso para não falar daquela afirmação estapafúrdia de Barroso de que o Brasil possuiria 98% de ações trabalhistas do mundo, informação falsa que chegou ao ministro por outro “amigo empresário”. Mas, claro, esses lobbies empresariais não afetam em nada a opinião dos magistrados, pois sabemos que são Deuses do Olimpo indiferentes às paixões humanas.