Ata mostra aumento da preocupação do BC com a trajetória da taxa de câmbio

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As menções à taxa de câmbio na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) da reunião realizada semana passada dobraram em relação à de novembro, evidenciando a preocupação do Banco Central com o atual quadro de estresse financeiro e o aumento de riscos para a inflação. Já as menções ao fiscal, em termos quantitativos, diminuíram, mas pelo tom do texto fica claro que isso ocorreu porque o risco que se via em novembro de os investidores se frustrarem com o anúncio do pacote fiscal, na prática, se materializou.

“A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. De fato, as expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, elevaram-se em todos os prazos, indicando desancoragem adicional”, diz a ata do colegiado que explica a decisão de se dar um choque de juros de três pontos porcentuais.

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Na questão cambial, o comitê lembra que o repasse do câmbio para os preços aumenta quando a demanda está mais forte, as expectativas estão desancoradas ou o movimento cambial é considerado mais persistente. “Desse modo, o Comitê deve acompanhar de forma mais detida como se dará a transmissão da taxa de câmbio e das condições financeiras para preços e atividade”, diz o texto.

Ainda que os fatores técnicos de maior fluxo de saída no fim do ano sejam a principal motivação do BC para reforçar as intervenções no mercado nos últimos anos, o tom da ata evidencia uma preocupação mais forte da autoridade monetária com a trajetória da taxa de câmbio. Vale mencionar ainda que a venda de dólares das reservas, tem como efeito colateral positivo reduzir a dívida pública, enxugando parte do estrago nas contas que o choque de juros trará.

É claro que, passado esse período de fluxo negativo mais intenso (também motivado pelas incertezas tributárias, derivadas da possibilidade não só de taxação de dividendos, pelo imposto mínimo, mas também das remessas de dividendos ao exterior), será possível ter mais clareza sobre qual a tendência da relação dólar/real em um ambiente de juros bem mais altos e de um fiscal que tende a ser menos expansionista.

Não parece fazer muito sentido o câmbio não responder ao choque de juros. Mesmo considerando que o BC anunciou a elevação da sua taxa neutra de 4,75% para 5% em termos reais, a prescrição da Selic está clara que está bem contracionista e bastante atraente para padrões internacionais. Mesmo assim, o capital não está vindo e poucos estão apostando em favor do real.

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É o clima de incerteza, que impera enquanto o Congresso não conclui a tarefa de aprovar o pacote de gastos — que, mesmo insuficiente para conter a dívida, é um passo importante — e porque o governo segue coordenando mal as expectativas fiscais. Enquanto tenta explicar o pacote a um mercado financeiro cada vez mais cético, que não acredita que haja intenção efetiva de moderar o fiscal, de outro o governo busca evitar que o assunto corte de gastos ganhe tração na sociedade com o medo dos impactos negativos na popularidade. E essa dicotomia só reforça as incertezas.