O uso de inteligência artificial tem limites

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Notícias dos últimos meses reportam que adolescentes utilizaram ferramentas de inteligência artificial para criar nudes de colegas em tradicionais escolas no Recife e no Rio de Janeiro, expondo covardemente meninas nas redes sociais. Estudantes utilizam indiscriminadamente o Chat GPT para a produção de trabalhos e artigos acadêmicos, muitas vezes sem sequer ter o cuidado de ler e revisar o texto produzido. Trago aqui apenas dois exemplos que ilustram a imediata necessidade de educar para o uso responsável da Inteligência Artificial – IA no ambiente escolar.

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Pois bem, o desenvolvimento e uso da IA, para além dos filmes de ficção científica, não é um fenômeno novo. Já em 1943, Warren McCullhoc e Walter Pitts publicaram um artigo que tratou do tema redes neurais, estruturas de raciocínio artificiais em forma de modelo matemático que imita o sistema nervoso humano. Em 1956, na Conferência de Dartmounth, a inteligência artificial ganha nome. De lá para cá, com o avanço tecnológico, especialmente da internet, a inteligência artificial passa a estar presente em nosso dia a dia, atuando em sistemas como os de navegação e indexação na rede. Tivemos, em 1997, o campeão de xadrez russo Garry Kasparov sendo derrotado pelo Deep Blue, da IBM. Evoluímos para a inserção de robôs em diversas áreas. A Alexa liga e desliga uma casa. Conversamos com máquinas como se humanos fossem. E, até carros autônomos já temos pelas ruas.

Mas, então, o que há de novo? E, por que, esse alvoroço em 2023?

Esse ano representou um marco na democratização do acesso a ferramentas de Inteligência Artificial Generativa. Ou seja, mais e mais pessoas passaram a se beneficiar de ferramentas capazes de criar conteúdo a partir de processos de machine learning (treinamento da máquina com base em dados). O ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI, atingiu os 100 milhões de usuários em 2023, segundo dados dilvugados pela companhia. Caminhando lado a lado com o ChatGPT tem-se ferramentas como: DALL-E, Bing, Midjourney, Copilot…

Entre os milhões de usuários por todo o mundo estão os estudantes brasileiros. Crianças, adolescentes e jovens com pleno acesso a internet que veem nessas novas ferramentas oportunidades de apoio aos estudos e criação de conteúdo, mas também uma porta aberta para um mundo que ainda não têm capacidade para avaliar riscos e consequências.

Utilizar o ChatGPT para gerar um trabalho, em detrimento de uma pesquisa que leva ao pensamento crítico e melhor compreensão de um determinado tema. E, ainda mais grave, por atentar contra os direitos à privacidade e à dignidade humana, utilizar ferramentas de geração de imagens para criar falsos nudes de outras pessoas.

O acesso e utilização da Inteligência Artificial Generativa pode ser fato novo, mas a boa educação e necessidade de orientação de pessoas em fase de formação de personalidade não o é. Assim, a sociedade, a família e as instituições de ensino devem exercer o seu papel de protagonismo na condução de crianças, adolescentes e jovens à utilização responsável da IA.

Às famílias cabe a inserção e prática de valores éticos e morais, bem como a permanente atenção e vigilância sobre seus filhos. Às instituições de ensino cabe a educação formal e o estabelecer de regras claras sobre a utilização da IA em seu ambiente, além da exposição de seus riscos e consequências. À sociedade cabe a análise sobre o que é desenvolvimento e uso ético e responsável da IA, bem como, sobre a necessidade da edição de regras e medidas norteadoras. Como exemplo, temos a aprovação no último dia 07/12/2023, pela Câmara dos Deputados do PL5859/2023, que criminaliza o uso da IA para a criação de nudes, além da discussão no Congresso Nacional do PL 2338/2023 que dispõe sobre o uso da IA.

É urgente a ação para que crianças, adolescentes e jovens entendam a extensão de seus atos e consequências quando da utilização de ferramentas de Inteligência Artificial. Não podemos perder o timing para o aculturamento ético desses humanos que cada vez mais terão nos robôs os seus parceiros de jornada, seja pessoal, seja profissional. Devemos trabalhar os limites, para que não se fira o direito e a liberdade do outro. Enfim, precisamos ensinar que o uso da Inteligência Artificial tem limites.