BC não quer substituir cartão de crédito por Pix automático, diz Roberto Campos Neto

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O Pix automático não tem como objetivo, por parte do Banco Central, substituir o cartão de crédito, afirmou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento na Casa JOTA nesta terça-feira (5/12). “O que a gente percebe é que os próprios bancos passam a ter interesse em ter cada vez mais a possibilidade”, explica.

A fala tem relação com a recente discussão sobre os juros rotativos do cartão de crédito, quando no fim de novembro, em evento da Frente Parlamentar pelo Livre Mercado, Campos Neto comentou que via possibilidade de o parcelamento de compras sem juros estar inibindo o crescimento do Crédito Direto ao Consumidor (CDC) com juros mais baixos.

“A gente nunca disse que faria nada que atrapalhasse o consumo, ao contrário. Nossa preocupação é olhar para frente e pensar se esse sistema é o melhor sistema para amanhã. Se eu vejo o consumo crescendo, se eu vejo o crédito expandindo, e eu vejo que o CDC está parado, a gente se pergunta: será que é este o crescimento saudável que a gente quer daqui para frente? Acho que é uma pergunta legítima de se fazer e, se a gente chegar a conclusão que não, como é que a gente faz o endereçamento para ter uma forma mais sustentável lá na frente? Esse é o ponto”, afirmou.

Campos Neto falou na Casa JOTA em evento com patrocínio da Amazon e do Itaú, com o tema “Digitalização da Economia: Agenda de inovação do Banco Central do Brasil” e sob mediação de Bárbara Baião, analista de política do JOTA.

Ainda em relação aos juros do cartão de crédito e do Pix programável e parcelado, Campos reiterou que “não se trata de fazer qualquer tipo de medida contra o consumo, a gente entende a importância que o parcelado sem juros têm hoje, mas do mesmo jeito que quando a gente fez PIX foi olhando para frente, com a moeda digital (DREX) estamos olhando para frente, e agora precisamos nos perguntar: qual é o futuro do crédito ao consumidor daqui para frente?”.

O presidente do BC também fez sua avaliação sobre 2023 e perspectivas econômicas para o próximo ano. “Este foi um ano bom. Tivemos surpresas na parte de emprego, positivas; surpresas na parte do crescimento, positivas; e tivemos surpresas na parte de convergência de inflação, também positivas”, afirmou. “O Congresso trabalhou muito, aprovou reformas, teve o arcabouço fiscal, temos uma reforma tributária em curso. Em geral, o quadro foi positivo”.

Para 2024, Campos Neto prevê um cenário de desaceleração econômica global em decorrência dos juros mais altos em grande parte dos países. Cita como exemplo os gastos mensais dos Estados Unidos com pagamento de juros que foram em 2022 de cerca de US$20 bilhões para quase US$80 bilhões este ano, com previsão de chegar a US$120 bilhões em 2024.

“Os países de forma geral se endividaram muito na pandemia, então temos um desafio fiscal global que vai fazer com que 2024 tenha um foco muito importante no tema da liquidez, porque se grandes países têm muito mais dívidas com muito mais juros, vai ser preciso consumir muito mais recursos”, afirmou.

No evento, o presidente do BC também apresentou a agenda de inovação da instituição: “É um trabalho sequencial que o Banco Central vai fazer, com um cronograma longo pela frente”.

Ele dividiu essa agenda em quatro blocos: o Pix e a popularização da ferramenta no país, com possibilidades que viabiliza para o futuro do mercado financeiro e a inclusão financeira; a internacionalização do real;  os avanços do Open Finance, iniciativa para estabelecer um sistema digital que ofereça comparabilidade e portabilidade entre serviços finaceiros; e o Drex, a moeda digital do real.

“Aqui o que temos é sair do conceito de contas e ir para um conceito token, de tokenização, que a gente entende que é o futuro dos meios de pagamento”, disse ele em relação ao último ponto.

Assista ao evento completo: