Morte sem pena

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Recordo, como se fosse hoje, que no ano de 1990, enquanto realizava estudos em Paris, vi estampada em um periódico francês a notícia sobre operações de guerra com mortes nos morros fluminenses. Até aí, nenhuma novidade. Então escrevi ao saudoso professor Dalmo Dallari a respeito do acontecimento, que tanto comprometia a imagem do país no exterior, e prontamente ele nos respondeu que se tratava de um sinal dos tempos, mas que o impacto poderia ser menor se o Estado combatesse a criminalidade pela raiz. Pus-me, então, a pensar se nada mais seria preciso fazer, já que, com o incremento do crime organizado, fomos solapados em nossa liberdade e nos tornamos alvos diários de assaltos de toda sorte.

Bem, o episódio histórico ocorrido em 28 de outubro, no Rio de Janeiro, marca um divisor de águas, pois há muito se tenta colocar um ponto final na macrocriminalidade. Chegou-se até a intervir com o Exército, sem êxito, e as organizações criminosas demonstraram resiliência, projetando acordos com o cenário internacional no transporte de drogas e em intercâmbios com cartéis das mais variadas espécies.

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Interpretando os fatos, não temos a pena de morte no Brasil, como há nos Estados Unidos e em alguns países asiáticos, porém, aqui se aplica a morte sem pena. Não estou a divagar, tampouco a julgar sob a ótica dos direitos humanos, mas, de antemão, é certo que a violência contra a violência jamais terá fim. Por isso, precisamos de organismos de inteligência e, principalmente, de um trabalho conjunto entre as polícias voltado à prevenção e repressão ao crime organizado.

Foram mais de cem mortes contabilizadas em poucas horas, resultado de uma brutal intimidação, com cerca de 2.500 homens da Polícia Civil que se acotovelavam sob o ataque de drones lançados pela organização criminosa, tentando sobreviver, enquanto muitos outros se renderam e foram presos.

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A grande pergunta que fica e não quer calar: será que o crime organizado foi atacado no seu coração e não terá mais forças para se reerguer e continuar sua missão criminosa no Rio e em outros estados da federação com participação no exterior?

Bem, as políticas públicas, todas elas, fracassaram. O governo, como um todo, mostrou sua fraqueza, tanto no âmbito federal quanto no estadual. A população ordeira, que vive e trabalha na região, permanece estupefata e sem saber quais garantias terá doravante.

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Que este triste episódio sirva de lição, para que jamais se repita, e para que o governo mantenha controle direto sobre as organizações criminosas, inclusive dentro dos presídios, com ampla fiscalização e eliminação das barreiras que fazem do cidadão de bem mais uma vítima das milhares de balas perdidas, anos a fio.