Ligação entre Lula e Trump aprofunda isolamento dos ‘eduardistas’ nas redes

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Eduardo Bolsonaro demorou mais de seis horas para cantar vitória nas redes sobre o telefonema entre os presidentes Lula e Donald Trump. Foram horas muito negativas para ele nas redes abertas e mesmo nos grupos bolsonaristas no WhatsApp e Telegram.

E o post em que o deputado celebrou a escolha de Marco Rubio como o interlocutor americano para as autoridades brasileiras não mudou o humor na direita bolsonarista e contribuiu para uma nova divergência no racha crescente entre os “eduardistas” e o grosso dos apoiadores de Jair Bolsonaro.

Nas redes abertas, mais de 75% dos posts sobre a conversa dos dois presidentes foi positiva ou informativa, com contribuição do centro e de perfis não politizados, de acordo com uma amostra do JOTA no Twitter/X, Instagram e Threads.

As primeiras horas foram marcadas por silêncio sobre o tema nos grupos bolsonaristas. É o comportamento comum adotado pela direita quando não há uma linha clara de reação a uma notícia positiva para o governo ou negativa para o ex-presidente.

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A única linha discursiva que teve alguma tração desde o início da tarde de segunda-feira (6/10) foi exatamente a definição de que o secretário de Estado americano será um problema para os planos do governo. Ex-senador pela Flórida, Rubio fez carreira política aliando-se à diáspora cubana nos EUA, fortemente anticomunista.

Rubio tem defendido linha-dura contra governos de esquerda na América Latina, em especial contra o regime de Maduro, na Venezuela. E criticou a “caça às bruxas” do Supremo brasileiro nos processos contra Bolsonaro e outros políticos e ativistas de direita.

Foi esta a mensagem passada no Twitter/X às 13:15 por Paulo Figueiredo, parceiro de Eduardo na ofensiva para estimular sanções americanas ao Brasil e a autoridades do STF e do governo Lula: “Acordei embasbacado vendo a imprensa comemorando porque Trump colocou MARCO RÚBIO para NEGOCIAR com o Brasil. Zero de avanço! O grau de desconexão com a realidade é patológico. Como disse: a luz no fim do túnel é um trem”.

No vídeo mais compartilhado nos grupos, o vereador gaúcho Rony Gabriel, influencer bolsonarista de alcance crescente, disse que o presidente americano “engoliu” Lula ao escolher Rubio para estar à frente das negociações, no lugar de designar o secretário do Tesouro, Scott Bessent, ou o secretário de Comércio, Howard Lutnick.

Para o vereador, o convite para um encontro seria uma armadilha: “O Trump é mestre em criar uma ‘química’ com ditadorzinho e com político corrupto pra depois desmascará-los ao vivo”.

No Instagram, o vídeo teve quase meio milhão de visualizações em seis horas. O alcance mais restrito à direita contribuiu para mais de 80% de comentários de apoio à interpretação do autor.

Nem a posterior publicação de Trump na Truth Social mudou essa leitura entre os apoiadores de Eduardo. O presidente americano classificou a conversa como “muito boa” e focada na economia e comércio. Ele também disse que novas discussões acontecerão em breve, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos e que os dois países “se darão muito bem juntos!”.

A mensagem de Trump teve recepção diferente entre bolsonaristas não alinhados ao “filho 03”. Para alguns deles, o deputado corre o risco de ficar isolado e prejudicar o pai se Lula “entregar o Brasil” para aplacar o presidente americano. Os “eduardistas” reagiram nos grupos como têm feito nas últimas semanas: acusando de covardia quem defende qualquer recuo ou qualquer composição para solução que envolva uma alternativa “moderada” para 2026.

Foi só depois de todo esse desenvolvimento que Eduardo Bolsonaro foi às redes colocar em dúvida o sucesso da conversa entre Lula e Trump. A sequência de posts foca no histórico de Rubio:

“O Secretário Rubio @SecRubio conhece bem a América Latina. Sabe muito bem como funciona os regimes totalitários de esquerda na região. Sabe como o Judiciário foi instrumentalizado como ferramenta de perseguição política. Ele não cairá nesse papo furado do regime, de independência de um judiciário aparelhado. A escolha do Presidente @realDonaldTrump só complica o regime de exceção. Golaço!”.

Os grupos pouco reagiram. Nas redes abertas, a vantagem da esquerda nas respostas continuou.

E no panorama geral das redes o silêncio de influencers como Nikolas Ferreira ampliou a percepção de isolamento da posição dos “eduardistas” no campo bolsonarista.

A proibição judicial de posts nas contas de Jair Bolsonaro e o silêncio da ex-primeira-dama Michelle sobre temas polêmicos contribuem para a falta de direcionamento para grande parte dos apoiadores. Enquanto Carlos Bolsonaro, que administrava as redes do pai, concentra-se no embate interno da extrema-direita, com indiretas aos que tentam convencer o pai a apoiar uma alternativa política fora da família para 2026.