Brics: Lula defende soberania digital e dos Estados em discurso cuidadoso

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Na segunda e última semana do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso forte, mas cuidadoso, com palavras escolhidas a dedo para não acirrar os ânimos políticos. Tampouco deixou de dar recados aos Estados Unidos, sem citar o país ou Donald Trump nominalmente. Foi a mesma fórmula usada no pronunciamento de 7 de setembro, segundo fontes do governo ouvidas pelo JOTA. A ideia é fugir de provocações em dias cruciais com altivez.

Lula disse que, quando o princípio da igualdade soberana dos Estados deixa de ser observado, a ingerência em assuntos internos se torna prática comum. “A solução pacífica de controvérsias dá lugar a condutas belicosas”, afirmou.

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Na videoconferência, sem mencionar os EUA diretamente, o presidente ainda falou em normalização da chantagem tarifária como instrumento para conquista de mercados e para interferir em questões domésticas. 

Não deixou de fazer referência implícita à Lei Magnitsky, imposta aos americanos pelo governo Trump a Alexandre de Moraes. “A imposição de medidas extraterritoriais ameaça nossas instituições”. Existe no governo a expectativa de que a sanção seja estendida nesta semana a outros indivíduos, a depender do andamento do julgamento de Bolsonaro. Os rumores mais fortes apontam para a esposa de Moraes.

Sobre economia digital, outro ponto sensível na relação em crise com os EUA, Lula afirmou que “sem soberania digital, seremos vulneráveis à manipulação estrangeira”. Mas salientou que “isso não significa fomentar um ambiente de isolacionismo tecnológico, mas fomentar a cooperação a partir de ecossistemas de base nacional, independentes e regulados”.

Lula ainda falou que “a presença de forças armadas da maior potência do mundo no Mar do Caribe é fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região”.

Agenda ambiental

O presidente também falou sobre a COP30 e sobre a reunião da Assembleia Geral da ONU, que acontece daqui a duas semanas. Lula ressaltou que “será oportunidade para falarmos com uma só voz em defesa de um multilateralismo revigorado”.

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“O Brasil convida seus parceiros do BRICS a considerar a criação de um Conselho de Mudança do Clima da ONU, que articule diferentes atores, processos e mecanismos que hoje se encontram fragmentados”.

Chamou a atenção para o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que queremos lançar na COP30, com o objetivo de remunerar os serviços ecossistêmicos prestados ao planeta.

Participantes da conferência virtual

Participaram da cúpula virtual os líderes de China, Egito, Indonésia, Irã, Rússia, África do Sul, além do príncipe herdeiro dos Emirados Árabes Unidos, do chanceler da Índia e do vice-ministro das Relações Exteriores da Etiópia. 

Narendra Modi, da Índia, segundo fontes, teria preferido não participar para evitar mais estresse com a Casa Branca após semana de gestos políticos de impacto ao sair na foto de mãos dadas com Xi Jinping e Vladimir Putin na China.