No centro das discussões globais sobre o futuro do planeta, o Brasil se prepara para sediar, em novembro, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP30. O evento acontece em Belém, no Pará, e reunirá líderes, especialistas e investidores de todos os cantos do planeta com o objetivo de avançar nas negociações climáticas globais.
Diante da complexidade dos desafios ambientais globais e do papel estratégico que o país ocupa, é legítimo perguntar: será que o Brasil está pronto para liderar essa agenda?
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Nas últimas décadas, é preciso lembrar que o Brasil oscilou entre protagonismo e descrédito ambiental. Mais recentemente, no entanto, tem buscado retomar seu papel de destaque. No ano passado, o país foi um dos primeiros a apresentar uma Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) revisada e com metas mais ambiciosas de redução de emissões. Comprometeu-se a reduzir 37% das emissões até 2025 e 50% até 2030, além da tão sonhada neutralidade climática até 2050.
Além disso, reafirmou o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até o fim da atual década, reconhecendo a importância das florestas na regulação climática.
No setor de energia, o Brasil também desponta como exemplo. Com mais de 90% de sua matriz proveniente de fontes renováveis, o país possui uma vantagem comparativa que poucos têm. Isso lhe confere a chance de autoridade para “liderar pelo exemplo”, demonstrando a todo o globo que é possível aliar desenvolvimento e sustentabilidade. A própria COP30 em Belém, aliás, é a oportunidade ideal para apresentar e ressaltar essas credenciais e inspirar outras nações a elevar suas ambições.
Contudo, o Brasil ainda enfrenta gargalos estruturais e institucionais que desafiam sua transição para um modelo plenamente sustentável. A infraestrutura energética e logística, por exemplo, precisa ser modernizada para absorver o crescimento da geração solar e eólica. Setores como transporte público de baixo carbono e saneamento básico também demandam investimentos urgentes para reduzir as vulnerabilidades urbanas às mudanças climáticas.
Outro obstáculo é o financeiro-institucional. As já tradicionais elevadas taxas de juros e a baixa poupança interna limitam a capacidade de financiar a transição verde. Para atrair investimentos, será fundamental adotar mecanismos inovadores, como parcerias público-privadas, garantias e títulos verdes.
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Além disso, é preciso garantir estabilidade regulatória e continuidade institucional, o histórico de descontinuidade das políticas ambientais exige o fortalecimento de órgãos como o Ibama e o ICMBio, e a simplificação de processos sem prejuízo ao rigor socioambiental.
Apesar das dificuldades, o Brasil dispõe de um ativo inestimável: a Amazônia. Sediar a COP no coração da maior floresta tropical do mundo carrega um simbolismo poderoso. É a chance de mostrar ao mundo, in loco, iniciativas concretas de conservação, reflorestamento comunitário e inclusão social através de projetos de energia renovável. Esses exemplos reforçam a credibilidade brasileira e podem representar um importante sinal verde para o crescimento de nossa influência diplomática.
Portanto, é possível dizer que o Brasil se encontra em posição de exercer liderança na agenda climática global. No entanto, para que isso se confirme, é indispensável que todos os setores produtivos se engajem de forma intencional com os compromissos ambientais necessários. A COP30 precisa ser mais do que uma mera vitrine, sendo o evento que marque a virada de chave rumo a uma economia de baixo carbono. Que essa oportunidade histórica não se perca, até porque o mundo todo estará de olho.