Reforma tributária, reconfiguração do Brasil produtivo e diáspora econômica

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O Brasil está prestes a viver uma das transformações mais profundas de sua geografia econômica desde a abertura comercial dos anos 1990. A reforma tributária (EC 132/2023) não se limita a simplificar impostos — ela redefine os critérios usados por empresas e investidores para escolher onde instalar seus negócios no país. Estamos diante de uma revolução silenciosa, que, aos poucos, substituirá os antigos paradigmas de atratividade regional.

O que antes era resolvido com incentivos fiscais pontuais, agora exigirá vantagens competitivas reais e sustentáveis. A diáspora empresarial que se anuncia não seguirá mais o mapa dos benefícios tributários, mas será guiada pela lógica da eficiência logística, da qualidade da infraestrutura e da integração produtiva. Aeroportos, portos e corredores multimodais deixam de ser meros ativos de transporte e passam a ser elementos estratégicos no novo cenário econômico.

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O sistema tributário que emerge oferece oportunidades inéditas. A imunidade para exportações e serviços correlatos coloca o Brasil em uma posição privilegiada nas cadeias globais de valor. O crédito integral para bens de capital traz novo impulso à modernização industrial, criando um ambiente mais favorável para o avanço tecnológico e a competitividade.

No entanto, os desafios dessa transição são igualmente grandes. Projetos que dependiam de regimes especiais de ICMS precisarão ser adaptados ou reformulados. Municípios que construíram suas economias em torno de nichos fiscais terão que buscar novas vocações.

Polos industriais tradicionais podem perder importância, enquanto novas regiões surgem como centros produtivos, especialmente aquelas que investirem em conectividade, qualificação de pessoas e logística integrada. Nesse novo contexto, os aeroportos terão papel fundamental como indutores de desenvolvimento regional, desde que o ambiente regulatório e contratual seja mantido e respeitado.

O timing dessa transformação é decisivo. As empresas que conseguirem entender as novas regras do jogo com agilidade terão uma vantagem competitiva significativa. Reavaliar localizações, otimizar estruturas de custos e repensar modelos operacionais deixou de ser uma questão estratégica — tornou-se uma questão de sobrevivência. Da mesma forma, os entes federativos mais rápidos em se adaptar a essa nova lógica se tornarão destinos preferenciais para investimentos.

Enfim, estamos diante de uma oportunidade histórica rara para corrigir distorções e alinhar o desenvolvimento industrial brasileiro às melhores práticas globais. O Brasil que surgirá dessa reforma será, sem dúvida, diferente — e o sucesso dependerá de como as incertezas do novo modelo serão resolvidas. Não podemos deixar que essa oportunidade, crucial para o futuro econômico do país, seja perdida.

As escolhas feitas nos próximos meses, o respeito à segurança jurídica e a adaptação a esse novo cenário determinarão quem será capaz de transformar essa mudança em uma alavanca de crescimento, e a incerteza em uma base sólida para a confiança.