Sem a população atualizada com base no Censo 2022, os dados da vacinação bivalente contra a Covid-19 no Brasil — estagnados em 16,36% até esta terça-feira (3/10) — mostram discrepâncias que diferem da realidade. Os reflexos se estendem a outras políticas públicas e ao repasse financeiro do Ministério da Saúde aos municípios, avalia a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente da pasta, Ethel Maciel.
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Em entrevista ao JOTA, a epidemiologista disse que o ministério articula a atualização populacional em todas as bases de dados da pasta com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e o presidente da instituição, Marcio Pochmann, fizeram a primeira reunião sobre o tema no início de setembro.
“O Censo não influencia apenas a vacinação, mas todos os nossos indicadores. Então, é muito importante que ele esteja o mais acurado possível. Vamos esperar a atualização das nossas bases. (…) Todo o nosso repasse financeiro é baseado em cálculo populacional, então impacta nas políticas públicas”, afirmou Maciel.
A desatualização dos números leva a efeitos, por exemplo, nos municípios. É o caso da campanha de vacinação bivalente em Severiano Melo, no Rio Grande do Norte: nos dados do LocalizaSUS, sistema da pasta, o município desponta na liderança, com 83,52% dos moradores imunizados.
Porém, a população a partir de 18 anos — idade mínima receber a dose bivalente, de acordo com a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) — saltou 140,3% desde o Censo anterior, em 2010. À época, havia 1.517 adultos, que passaram para 3.646 no ano passado, de acordo com o secretário municipal de Saúde, Francisco Sales Regis Bessa. Com isso, a taxa de vacinação em Severiano Melo cai para 34,75%.
Apesar disso, a taxa da cidade potiguar supera o dobro da média nacional. Bessa explicou que uma das estratégias é a busca ativa de pessoas que não foram se vacinar. “Dou muita prioridade em ir atrás daquelas pessoas que não foram ao dia D”, declarou ao JOTA.
No outro extremo das estatísticas, está São Félix do Xingu, no Pará. Dados do LocalizaSUS apontam que só 636 pessoas — ou 0,57% da população — da cidade, marcada pelo desmatamento e pelas queimadas, receberam uma dose bivalente.
O secretário municipal de Saúde, Raphael Antônio Souza, disse ao JOTA que a taxa de vacinação na cidade paraense é maior, mas não informou qual seria o número correto. Também não informou a população atualizada. A reportagem procurou a assessoria da pasta por e-mail, que não se pronunciou.
Para Ethel Maciel, os dados de vacinação no Brasil “certamente são melhores” que as estatísticas oficiais. Um dos motivos é que o Censo 2022 mostrou que o país tem 4,7 milhões de pessoas a menos do que o estimado.
A secretária avalia que o microplanejamento da vacinação — estratégia em que municípios decidem como operacionalizar a campanha de acordo com as realidades locais — reduz o impacto da não atualização dos dados. Outra medida passa por diminuir as barreiras de acesso, como ampliar o horário de vacinação nos postos de saúde e levar a imunização até as escolas.
Procurado pelo JOTA, o IBGE não informou os dados atualizados das populações de Severiano Melo (RN) e de São Félix do Xingu (PA) a partir de 18 anos. Segundo o instituto, ainda não houve divulgação populacional por faixa etária conforme o Censo 2022 e que o cronograma para isso ainda será definido.