A terceira via será a quinta-coluna contra o Brasil nas eleições de 2026?

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As movimentações político-partidárias para 2026 seguem a todo vapor e, tal como nas últimas eleições presidenciais, há uma insistência exagerada para a formação de uma terceira via que seja liberal na economia, conservadora nos costumes e — espera-se — respeitadora da democracia em termos eleitorais e direitos sociais básicos, como saúde e educação.

Eduardo Leite, governador gaúcho que acaba de migrar do cada vez mais defunto PSDB para o PSD de Gilberto Kassab, voltou a ter o nome aventado para o Planalto. Embora negue, Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo pelo Republicanos, parece querer alçar voo independentemente do campo bolsonarista que o criou.

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Nessas movimentações, repete-se um velho vício da política brasileira: debater mais personagens que os projetos que eles representam. Se em comparação a um eventual quarto governo Lula a terceira via buscaria um ajuste fiscal em detrimento de políticas de transferência de renda e teria bandeiras alinhadas ao lado conservador na pauta de costumes, não está nada claro o direcionamento a ser tomado em termos de política externa, tema crucial para qualquer governo, sobretudo numa era de intensa competição geopolítica entre grandes potências, detentoras de armas nucleares.

Em fevereiro, fiz um exercício de futurologia ao discorrer neste espaço sobre como uma direita não capturada pelo bolsonarismo exerceria a política externa brasileira caso chegue ao Planalto após o atual ciclo lulista no poder. Conforme escrevi, “diferentemente do que se passa nos EUA e na Europa, o nacionalismo da extrema direita brasileira é ambíguo: arvora-se numa defesa de uma identidade ocidental-cristã, mas ignora noções de soberania econômica, o que pode abrir as portas para a relativização do controle de partes do território nacional ricas em recursos naturais”. Em abril, perguntei se a elite faria o T de Trump, que é o mesmo de traíra e Tarcísio.

Ou seja, para imprimir pragmatismo às relações internacionais brasileiras, quanto mais afastada estiver do bolsonarismo, melhor para essa direita que se vende como terceira via não ser considerada uma quinta-coluna. A expressão remete aos tempos da Guerra Civil Espanhola (1936-39) e da Segunda Guerra Mundial (1939-45) e indica traidores presentes em determinado lado de um conflito armado. Hoje, ser quinta-coluna é negar a soberania nacional.

Portanto, quintas-colunas também poderiam existir (e de fato existem) dentre aqueles simpáticos ao modelo chinês. A diferença em relação aos bolsonaristas, que apoiam incondicionalmente o presidente americano Donald Trump, é que os que se enamoram da autocracia de Pequim não manifestaram por ora predisposições golpistas, para ser elegante em relação aos atos de 8 de janeiro de 2023 e maquinações que os antecederam e incluíam até mesmo o assassinato do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.

Hoje, aliás, o posicionamento em relação à possibilidade de Moraes ser sancionado pelo regime trumpista por sua atuação em defesa da ordem constitucional, seja contra o bolsonarismo, seja contra as big techs, é um termômetro para saber quem é quinta-coluna na direita.

Pode-se criticar Moraes ou qualquer outro de seus pares, mas apoiar sanções contra ele é ir contra a soberania nacional a favor de interesses externos que fogem à nossa capacidade de manter o devido controle democrático, com base nos princípios de accountability, legitimidade e transparência.

Não é, portanto, sem nexo jurídico e democrático que a Procuradoria-Geral da República pediu ao STF a abertura de inquérito para investigar a atuação do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho 03 de Jair Bolsonaro (PL), o golpista Porcina — aquele que atentou contra as instituições sem jamais ter sido bem-sucedido. Em terras yankees, Eduardo conspira contra a Constituição num papel vergonhoso que faz jus à alcunha de “Bananinha”, imposta pelo general Hamilton Mourão, vice-presidente no governo de seu pai.

Bananinha quer fazer do Brasil uma república de bananas e terminar o serviço sujo que seu pai não teve competência para concluir. Independentemente do posicionamento no espectro político, aperfeiçoemos as instituições sem anteparos externos. Afinal, inexiste democracia e ordem constitucional de fato sem soberania.