Desde o último conclave, encerrado na quinta-feira (8/5), circulam nas redes sociais tanto memes quanto análises mais aprofundadas, sugerindo que o Vaticano estaria passando por um processo de renovação etária. A hipótese é simples: os cardeais estariam elegendo progressivamente papas mais jovens. Mas será que os dados confirmam essa percepção?
A ideia não é nova, e ganhou força sobretudo após a eleição de João Paulo II, que assumiu o papado aos 58 anos, e foi reforçada pela breve passagem de João Paulo I, eleito anos antes aos 65. Esses dois episódios marcaram o imaginário coletivo e alimentaram a percepção de uma Igreja em busca de renovação geracional — algo que também dialoga como uma resposta à tendência de afastamento do público jovem.
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No entanto, uma análise dos dados históricos mais ampla revela um quadro bem diferente. Mesmo casos emblemáticos como João Paulo II e Pio IX são exceções ao longo dos últimos 200 anos. A regra geral continua sendo a de líderes mais experientes e, frequentemente, em idade avançada — muitos deles já na casa dos 70 ou até 80 anos no momento da eleição.
O gráfico a seguir apresenta a idade dos papas no início e no fim de seus pontificados, cobrindo o intervalo do século XV (1404) até os dias atuais. Considerando os dados disponíveis ao longo desses mais de 600 anos de história, a idade média no momento da eleição é de 62,8 anos, enquanto a média ao final do papado é de 72,4 anos.
Comparar idades ao longo de vários séculos pode distorcer a análise, já que a expectativa de vida mudou consideravelmente nesse período. Para reduzir esse viés, recalculamos as médias considerando apenas os papas eleitos nos últimos 100 anos (de Pio XI em diante). Nesse recorte mais recente, a idade média no momento da eleição é de 68,2 anos, e a média ao final do pontificado é de 80,8 anos.
Portanto, embora a ideia de um papado progressivamente mais jovem seja atraente — especialmente para uma Igreja que, no Brasil, envelhece e perde fiéis em ritmo acelerado para denominações evangélicas — os dados mostram que essa renovação etária não é real. A escolha de pontífices mais jovens continua sendo exceção, não uma virada de tendência. Ao contrário: os papas têm sido eleitos em idades cada vez mais avançadas, acompanhando também o aumento da longevidade. A inclinação da curva de tendência da média de idade dos papas ao serem eleitos deixa isso claro.
Uma tendência evidente nos dados é a busca por maior representatividade global na liderança da Igreja — um esforço para refletir a diversidade da fé católica e romper com a tradição eurocêntrica. Essa mudança se expressa, sobretudo, na escolha de papas não italianos: nos últimos 47 anos, nenhum pontífice da Itália foi eleito, e o número de cardeais de fora da Europa tem crescido de forma constante. No último conclave, essa tendência se acentuou ainda mais: o Colégio Cardinalício passou a incluir representantes de 18 novos países, elevando para 71 o total de nações representadas — um recorde histórico.
Sobre os dados
Os dados utilizados neste levantamento foram originalmente coletados e organizados pelo The Guardian (link para a base), e foram atualizados com as informações mais recentes, incluindo o novo pontificado do Papa Leão XIV (2025).