Não é de hoje que as mudanças climáticas são uma preocupação global: há anos, cientistas vêm apontando para as alterações meteorológicas em todo o mundo. Com o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, medidas têm sido implementadas com o intuito de conter ou evitar o avanço de um cenário que, até então, previa um aquecimento do planeta de até 1,5°C.
Mas no último ano essas alterações têm sido mais notáveis, de ondas de calor extremo a períodos de secas severas e megaincêndios em vários países.
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Infelizmente, essa já é a realidade no Brasil, que vem sendo castigado pelas altas temperaturas. Das tempestades no Rio Grande do Sul às queimadas pelo país que, segundo dados do Monitor do Fogo Mapbiomas[1], já atingiram 11,39 milhões de hectares do nosso território e resultaram em uma fumaça tóxica que cobriu a nação, temos visto cada vez mais de perto os impactos das mudanças do clima.
E, a passos largos, essas mudanças vêm influenciando na saúde da população. Algo que tenho dito repetidamente, em minha função profissional, é que a crise climática é também, atualmente, a maior crise da saúde no planeta. São os mais frágeis que ficam vulneráveis a desenvolverem problemas em decorrência da baixa qualidade do ar e das altas temperaturas.
Isso porque o aquecimento global reflete diretamente em um aumento de doenças crônicas e infecciosas, além de tornar o ambiente propício ao surgimento de vetores[2].
Pessoas com doença pulmonar pré-existente, como asma, por exemplo, tendem a desenvolver piora de sintomas. Bebês e crianças, por terem menor defesa contra infecções virais e respiratórias, e idosos, também estão mais suscetíveis a complicações devido ao aumento da poluição do ar. Além disso, outras condições crônicas, como alguns tipos de cânceres, também podem surgir em decorrência dessas alterações do clima.
Por mais que para alguns essa pareça uma realidade distante, os sistemas de saúde já têm sentido um aumento da necessidade de leitos em decorrência da situação. Especialistas ainda preveem um aumento de 10% a 15% na demanda hospitalar relacionada às queimadas, com o agravamento de doenças respiratórias e cardiovasculares[3].
No mês de setembro deste ano, a ONU, por meio do relatório Unidos na Ciência, divulgou um novo alerta para o agravamento das mudanças climáticas, prevendo que a temperatura média global aumente não mais 1,5°C, mas 3°C, até o fim do século, isso se os países não seguirem os objetivos de combate ao aquecimento do planeta[4].
Diante disso, apesar de metas, de lideranças nacionais e globais trabalhando em conjunto para combater o avanço da devastação, me pergunto se estamos fazendo o suficiente. Me pergunto se todas as pessoas têm consciência do mínimo: do dever de todo cidadão em respeitar o meio ambiente, de entender que só temos este planeta e que, se não por nós, pelas gerações futuras, precisamos preservá-lo.
Longe de problemáticas que envolvem outras esferas, precisamos entender que as mudanças climáticas já chegaram. E isso precisa estar claro, bem elucidado, e em mente, na pauta governamental, social, educacional e das indústrias.
Como presidente da subsidiária brasileira de uma das maiores farmacêuticas do mundo tenho acompanhado de perto o tema das mudanças climáticas e vejo diversos exemplos em vários patamares de companhias comprometidas com uma agenda sustentável.
Por aqui, temos contribuído com relevantes projetos de preservação da Mata Atlântica, sendo o mais expressivo deles o investimento de US$ 350 milhões, cujo objetivo é plantar mais de 200 milhões de árvores em todo o mundo, até o final de 2030, como forma de ajudar no combate ao aquecimento global, melhorando a saúde das pessoas, da sociedade e do planeta.
Precisamos intensificar os diálogos sobre o clima e o meio ambiente para entendermos, de forma coletiva, que combater o avanço do aquecimento global é papel de todos. Que isso deixe de ser apenas parte de um discurso, de metas e de reuniões, ou de fóruns globais, e se converta em efetivas ações que nos levem a um futuro saudável e sustentável.
Encerro essa reflexão chamando outros líderes de grandes corporações a refletirem comigo sobre o que estamos fazendo e aonde queremos chegar, não só como executivos, mas como cidadãos.
Convido meus colegas a inserirem em suas pautas centrais o tópico da conscientização sobre o clima, para que seus parceiros e colaboradores tenham total clareza de uma mudança de pensamento e de atitude em prol do planeta. É algo que deve andar junto, em nossas ações e em nosso discurso, é algo que devemos comunicar.
[1] MapBiomas. Monitor do Fogo. https://plataforma.brasil.mapbiomas.org/monitor-do-fogo. Acesso em outubro/ 2024.
[2] Observatório do clima e saúde. Fiocruz. https://climaesaude.icict.fiocruz.br/doencas/ar. Acesso em outubro/ 2024.
[3] Jornal da Usp. Aumento das temperaturas anuncia sobrecarga hospitalar. https://jornal.usp.br/radio-usp/aumento-das-temperaturas-anuncia-sobrecarga-hospitalar/. Acesso em outubro/2024.
[4] World Meteorological Organization. United in Science 2024. https://wmo.int/publication-series/united-science-2024. Acesso em outubro/ 2024.