A Polícia Federal, em relatório sobre a investigação das joias recebidas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, concluiu que o ex-presidente e outras 11 pessoas se associaram para praticar os crimes de peculato e lavagem de capitais. Ao todo, o grupo teria desviado R$ 6,8 milhões em joias para o patrimônio de Bolsonaro.
No relatório, a Polícia Federal diz ainda que os fatos indicam que o ex-presidente teria usado parte do valor obtido com a venda ilícita das joias para custear as despesas suas e de sua família enquanto permaneceram nos Estados Unidos entre entre os dias 30 de dezembro de 2022 e 30 de março de 2023.
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Isso porque uma análise das movimentações financeiras de Bolsonaro nos EUA e no Brasil mostrou que ele não utilizou os recursos de suas contas bancárias no Banco do Brasil e no BB América para custear seus gastos durante a viagem.
“A utilização de dinheiro em espécie para pagamento de despesas cotidianas uma das formas mais usuais para reintegrar o “dinheiro sujo” à economia formal, com aparência lícita”, escreve a PF no relatório.
Associação criminosa
A PF afirma que a investigação evidencia que houve a atuação de “associação criminosa” especializada em desviar presentes de alto valor recebidos por Bolsonaro ou por comitivas brasileiras, em nome do governo, entregues por autoridades estrangeiras.
O grupo vendia os bens no exterior, convertendo o valor das vendas em dinheiro em espécie, que depois era agregado ao patrimônio do ex-presidente da República sem utilizar o sistema bancário formal, ocultando, assim, a origem, localização e propriedade dos valores.
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Segundo o relatório da PF, o grupo utilizou a estrutura do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) para “legalizar” a incorporação desses presentes de alto valor ao acervo privado do ex-presidente da República.
Foram indiciados pela prática do crime de associação criminosa Mauro Cesar Barbosa Cid, Jair Messias Bolsonaro, Marcelo Da Silva Vieira, Julio Cesar Vieira, Marcelo Costa Camara, Bento Costa Lima Leite De Albuquerque Junior, Osmar Crivelatti, Fabio Wajngarten, Frederick Wassef, Mauro Cesar Lourena Cid, José Roberto Bueno Junior e Marcos Andre Dos Santos Soeiro.
Segundo a polícia, eles se associaram desde outubro de 2019 até dezembro de 2022 para praticar os crimes de peculato e lavagem de capitais, com o objetivo de propiciar o enriquecimento ilícito do então presidente da República Jair Bolsonaro, que também foi indiciado pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro.
Ordens de Bolsonaro
A PF identificou mensagens trocadas por Jair Bolsonaro com seu antigo ajudante de ordens, Mauro Cesar Cid, que evidenciam que o ex-presidente ordenou que ele levasse aos Estados Unidos um conjunto de esculturas douradas de um barco e uma palmeira, que foram presentes recebidos em novembro de 2021 das autoridades dos Emirados Árabes Unidos e do Bahrein.
“As declarações prestadas por Osmar Crivelatti, Mauro Cesar Cid e pelo colaborador Mauro Cesar Barbosa Cid corroboram os demais elementos de prova colhidos demonstrando, de forma inequívoca, que as esculturas douradas de um barco e uma palmeira, presentes entregues por autoridades estrangeiras, ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro foram, intencionalmente, subtraídas do acervo público brasileiro, por determinação do ex-presidente, para serem vendidas ilegalmente nos Estados Unidos”, lê-se no relatório da polícia.
No dia 29 de dezembro de 2022, às vésperas da viagem da comitiva presidencial para os EUA, Mauro Cid encaminha mensagens para Bolsonaro perguntando sobre a viagem. Em uma delas, ele pergunta “O senhor vai trazer a árvore e o barco?”. Em resposta, Bolsonaro enviou duas mensagens que depois foram apagadas. Demonstrando ter recebido uma ordem, Cid responde “Sim senhor”.
No relatório, a PF diz que, no dia 30 de dezembro de 2022, seguindo ordens de Bolsonaro, Mauro Cid levou a mala com as esculturas douradas para os Estados Unidos, utilizando o avião da Força Aérea brasileira, para posteriormente tentar vendê-las.
Leilão nos EUA
A polícia também afirma que algumas mensagens trocadas entre Cid e Bolsonaro evidenciam que o ex-presidente tinha ciência de que um conjunto de joias de ouro rosé seria leiloado nos Estados Unidos.
“No dia 04 de fevereiro de 2023, Mauro Cid envia o link do leilão do KIT ROSE da loja Fortuna Auctions, que iria ocorrer no dia 08 de fevereiro, para o contato “Pr Bolsonaro 2023 – 556191738108”, telefone utilizado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Este responde com o jargão “Selva””, lê-se no relatório.
Para a PF, o envio do link do leilão por Mauro Cid seguido do acesso à página por Jair Bolsonaro (confirmado por meio do histórico de cookies do celular do ex-presidente) e do envio da mensagem “Selva” mostram quem Bolsonaro sabia que o conjunto de joias estava em leilão.
Como as joias não foram arrematadas e reportagens começaram a ser publicadas no Brasil sobre o caso, Mauro Cid entrou em contato com a casa de leilões e pediu que o conjunto fosse devolvido porque o proprietário teria mudado de ideia. A polícia descreve que o grupo precisou fazer uma “operação resgate” para transportar os kits de joias e relógios para o Brasil.