8 de janeiro de 2023, um ano depois

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Na semana passada completou-se um ano da tentativa de um golpe de Estado no Brasil. Ainda que tenha fracassado, esse episódio não pode ser esquecido para que não se repita. Além disso, é também necessário considerar se suas causas ainda permanecem ativas, pois neste caso, podem criar as mesmas condições para que algo semelhante ocorra.

Inicialmente, parte das pessoas envolvidas nas manifestações que invadiram os prédios dos Três Poderes em Brasília foram detidas ou respondem a processo. Isto é relevante para coibir futuras tentativas, mesmo que todo o andamento jurídico não tenha chegado ao final. A população precisa reconhecer que as instituições formais atuarão em casos como esse e quanto mais célere o processo todo for, quanto mais claro em termos procedimentais e dentro dos ditames do Estado democrático de Direito, tanto melhor.

Por outro lado, apenas as pessoas que estavam presencialmente nos atos foram envolvidas de forma mais clara e direta. Os julgamentos de políticos ou membros do governo, sejam civis ou militares, ainda não cumpriram seu ritual. Isso não quer dizer que haja algum equívoco, mas é claro também que se há demora considerável entre os eventos e a punição de grandes figuras envolvidas, transmite-se um sinal de impunidade.

Não se pode antecipar o resultado do julgamento, mas é preciso que a apuração do caso indique que houve uma investigação extensa e adequada. Se apenas os peixes pequenos envolvidos forem investigados e punidos, repete-se o entendimento corriqueiro de impunidade para pessoas importantes.

Neste mesmo sentido há ainda que se voltar para os financiadores de toda a manifestação. Não só para o evento específico do 8/1, mas também para os acampamentos na porta dos quartéis de onde partiu uma parcela significativa dos manifestantes. Afinal, a origem do recurso que sustentou estas pessoas ao longo do tempo em que ficaram ali também é parte do movimento e precisa ser incluída nas investigações, ainda que muitos tenham aberto mão de seus empregos na esperança de “salvar o país” de uma “ameaça comunista”. Ou seja, não importa que estavam nos acampamentos por livre e expressa vontade, os financiadores dessa decisão devem ser considerados também.

O julgamento deste episódio não pode ser avaliado, em suas consequências, sem perdemos de vista a maneira com que os brasileiros entendem o que ocorreu. Assim, é interessante notar o resultado trazido por pesquisa da Quaest: neste mês, 89% da população ainda desaprova o episódio. A porcentagem diminuiu – era 94% em fevereiro do ano passado, mas ainda sugere uma expressiva oposição ao ocorrido. Isto é relevante.

E é interessante também destacar o fracasso na tentativa de grupos à esquerda de realizar movimentos “pró-democracia” para celebrar o insucesso do golpe. Uma manifestação deste tipo abriria a possibilidade de partidarização do ocorrido, o que pode ser perigoso. Um eventual uso partidário da tentativa de golpe permite uma disputa de narrativas em torno do que ocorreu. Já vimos esse filme antes e o resultado não é bom. No caso, a democracia brasileira precisa ser preservada e não se justifica um uso partidário do evento.

Diante disto tudo, o momento em que estamos é delicado. Ainda não está desarmada uma parte significativa das causas daquele fatídico atentado contra a democracia brasileira. Os próximos passos continuam fundamentais para que nada parecido com o 8 de janeiro de 2023 ocorra novamente.