O que o dia 19/4 será para você? O que é 19 de abril para o Brasil? 5 milhões era a quantidade e hoje um pouco mais de um milhão é a verdade. Os números para um matemático é poesia, para “mim” acadêmico indígena é a mais triste melodia, melodia ressignificada com som de nossa voz, abafada∕emudecida com o toque dos maracás e revigorada com a força de nosso canto, encanto e do cantar.
Existir e resistir um dia foi uma escolha, hoje é uma grande necessidade. Hoje abraçados no seio familiar, para aqueles que as tem, o legítimo brasileiro reavalia seu palácio e pensa em seu reinado. É notório que o colonizador já saiu desse lugar, entretanto o Brasil não saiu de seu colonizador, idolatra-o, exalta-o e, mais uma vez suas naus encontram-se à deriva na dependência da hipocrisia real e ainda não vê que o maior castelo imperial é a essência de seu povo.
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Ah se você Brasil, conhecesse nossa Pindorama (nome dado a este chão antes dos portugueses) e pudesse enxergar com nossos olhos a chama que arde em cada guerreiro e guerreira. Ah querido Brasil, se você soubesse que um guerreiro faz aquilo que é necessário fazer, você ensinaria de maneira direta e coerente quem foi e quem é Davi Ianomamy, Raoni, Daniel Munduruku, Ailton Krenak, Celia Xacriaba, Sonia Guajajara, Pajé Jassanã, Tururim, Manuel Santana, Pajé Itambé e tanto outros heróis e heroínas de carne de carne e osso. E hoje, estando neste lugar, talvez dessa maneira, entenderia e só assim faria sentido cantar “verás que um filho teu não foge a luta” e “nem teme quem te adora a própria morte”, ajudaria a compreender que deve ter algo de errado quando meu herói veste a armadura da chuteira.
Querido Brasil, a cada dia 19 de abril cantamos a saudade dos mortos, mas também celebramos a existência dos vivos; nosso desejo é colocar-te no colo, linda criança, ao redor de uma fogueira e contar-lhe sua verdadeira história para que lhe salte o brilho nos olhos e percebas que sua grandeza não está nos tesouros já embarcados nos mares, que somos sim “gigantes pela própria natureza”, que nossos bosques ainda têm mais vidas, que nossa vida, em teu seio há existência de amores.
Descobrir, desdenhar, desenvolver, desqualificar, desacreditar, desconfiar, são verbos, ações, palavras iniciadas com um prefixo de negação (des), ideias trazidas por inquilinos que não foram convidados, descobriram-te Pindorama e ao tirar sua cobertura deixaram-te a lama. Era pra existir ordem, porém, não vemos outra coisa senão a desordem, ainda existe o progresso, esse rolo compressor é a prova cabal da mais fina herança cabralina dos “cabraiszinhos” da colonização moderna. Nossos espíritos sentem saudades do último e mais festivo “dia do índio”, comemorado em 19 de abril de 1500, três dias antes da famosa chegada. E nessa “chegança” você comemora o dia do soldado e tenta nos fazer sentir imigrantes ainda no útero de nossa mãe, sem se dar conta de que o maior e melhor exército deste solo, atira diariamente flechas flamejantes de espiritualidade, amor e respeito ao que tanto vende e quer comprar.
Para você fiel autêntico brasileiro europeu comedor de carne, que adora açaí, apreciador de milho, pipoca, tapioca, chocolate entre outras especiarias, eu sou sobrinho, irmão, neto, filho e pai descendente desta nação, somos o suprassumo da resistência e a diversidade da existência, porque PINDORAMA VIVE em cada um de nós, inclusive em você.