Terceiro painel aborda os desafios do uso da tecnologia no trabalho rural
anasiqueira
Sex, 10/11/2023 – 11:38
Mediado pelo advogado trabalhista João Carlos Pereira, conselheiro regional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP), o terceiro painel do Congresso Brasileiro de Direito do Trabalho Rural reuniu na tarde desta quinta-feira, 9/11, no auditório da Unimar, em Marília (SP), o professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Mario Mollo Neto e o juiz Sérgio Polastro Ribeiro, presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 15ª Região (Amatra XV), para discutir o uso da tecnologia no trabalho rural.
Para introduzir a temática da automação e das tecnologias de informação e comunicação aplicadas no campo, o professor Mollo Neto elencou os saltos evolutivos da agricultura ao longo do tempo. Do uso intensivo de mão de obra e baixa produtividade característicos do período anterior a 1950, o setor foi marcado por mudanças significativas, como a revolução verde agrícola, melhoramento genético e uso de maquinário, a agricultura de precisão e biotecnologia dos anos 1990, passando pela computação em nuvem, uso de drones e imagens por satélite adotados a partir de 2015, até chegar aos dias atuais, na chamada agricultura 5.0, com o emprego da inteligência artificial, robótica e biologia sintética.
O painelista assinalou que a transição para a agricultura digital encontra apoio no setor público e privado, com destaque para a atuação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) como um dos principais articuladores na criação de uma política nacional de incentivo à inserção e difusão das novas tecnologias no campo. De acordo com Mollo Neto, da iniciativa privada estão previstos R$ 800 bilhões de investimentos em máquinas autônomas no mundo.
Para o professor, a agricultura de precisão já atua como aliada no atendimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 das Nações Unidas. “Se por um lado, há muitos benefícios como o aumento da produção de alimentos e a precisão na coleta de dados que dispensa velhos processos, de outro, surgem problemas a serem enfrentados, incluindo questões de conectividade, legislação para máquinas autônomas, desemprego e a necessidade de capacitação dos trabalhadores rurais”, afirmou. Segundo ele, há uma mudança que precisa acontecer para evitar um novo tipo de êxodo relativo à negação do uso da tecnologia, e a qualificação profissional é a resposta, com o desenvolvimento de habilidades multifuncionais.
Ao retomar a coordenação do painel, o mediador João Carlos Pereira alertou para a falta de mão de obra no campo e a migração dos jovens para a cidade. “Após a explanação do professor Mollo, fica evidente a necessidade do desenvolvimento de novas habilidades e competências para lidar com as tecnologias emergentes e evitar um novo êxodo rural”, asseverou.
O juiz Sérgio Polastro abordou a questão tecnológica no campo atrelada à prática do capitalismo consciente, baseado no tripé meio ambiente, impactos sociais e governança corporativa, representado pela sigla ESG (Environment, Social and Governance). Reforçou a vocação brasileira para o agronegócio apresentando dados do setor no primeiro semestre de 2023, sobretudo no estado de São Paulo, que lidera a produção sucroalcooleira no país. “Nos sete primeiros meses do ano, o agro paulista registrou superávit de R$ 10 bilhões, as exportações cresceram 6,1% e as importações, 5,3%. A participação do agronegócio no total exportado pelo Estado foi de 38,1%. No Brasil, o agro representa 30% do produto interno bruto”, disse.
Ribeiro afirmou que o Brasil vivencia um crescimento das chamadas “AgTechs”, startups voltadas ao agronegócio inovador, inteligente e sustentável. Destacou os desafios da agricultura como o crescimento populacional, os impactos das mudanças climáticas e a necessidade de adaptação do trabalhador rural ao perfil exigido pela tecnologia. O palestrante também enumerou as vantagens da agricultura digital, como a redução da exposição a agrotóxicos, maior participação feminina e uma relação mais sustentável com o meio ambiente. Entre as desvantagens, segundo ele, estão o aumento da desigualdade tecnológica entre produtores rurais e a redução dos postos de trabalho menos especializados no campo.
Aliado ao investimento em capacitação, o magistrado apontou como possível solução aos desafios que se apresentam, a adoção do conceito ESG ao agronegócio. Idealizado em meados de 2004 pelo ex-secretário geral da ONU e Prêmio Nobel da Paz Kofi Annan, que ao estabelecer a premissa “vence quem se importa”, trouxe a proposta do capitalismo consciente em contraponto ao capitalismo sem propósito. “A agenda 2030 passa pelo ESG”, acrescentou o juiz Polastro. Citando a definição do Papa Francisco para o planeta Terra, “a casa comum”, o painelista reforçou que a adoção do ESG tem amplo impacto, deixando um legado positivo para as gerações vindouras.