O cenário de emergência climática requer que lideranças políticas, empresários, cientistas e sociedade civil sejam criativos e busquem soluções inovadoras para transformar rapidamente o setor de energia. Dentre os debates que temos acompanhado, o mais promissor se dá em torno dos chamados “5Ds”. Esta abordagem elege a descarbonização, a descentralização, a diminuição do uso, a digitalização e a democratização do mercado de energia como pilares na busca por um mundo mais verde, resiliente e justo.
A descarbonização, o primeiro “D”, envolve projetos com emissões de carbono menores ou negativas para combater as mudanças climáticas. Este empreendimento requer uma mudança fundamental na produção e consumo. Um dos caminhos é a migração dos combustíveis fósseis para fontes renováveis como energia solar, eólica, hidrelétrica e biogás. Ao abraçar tecnologias de energia limpa e eletrificar frotas e processos industriais, as nações podem mitigar sua pegada de carbono ao mesmo tempo que promovem o crescimento econômico e a independência energética.
Acompanhando a descarbonização está o princípio da descentralização, que defende uma infraestrutura energética diversificada que coloque o consumidor como agente tomador de decisão. Assim, além da coordenação centralizada do Sistema Interligado Nacional (SIN) , sistemas descentralizados capacitam comunidades a gerar e gerenciar sua energia.
localmente através da Micro e Minigeração Distribuída (MMGD), sistemas de armazenamento de energia em baterias (BESS), mecanismos de resposta da demanda, produção de biogás a partir de resíduos, entre outros. No caso do setor elétrico, esta abordagem aumenta a resiliência contra interrupções, combate a pobreza energética, promovendo em muitos casos autonomia, além de estimular inovação em soluções de energia renovável.
Já o conceito de diminuição do uso destaca a importância da eficiência energética. Perspectivas de eletrificação de transportes públicos, o crescimento vertiginoso dos data centers e o incremento da temperatura média nas cidades tendem a aumentar a demanda por energia elétrica em todo o mundo. Para fazer frente a esse desafio, considerando a descarbonização da economia como rota de desenvolvimento, é necessário identificar as oportunidades de substituição de equipamento, trocas de combustíveis, otimização de processos e mudanças de hábitos para investir pesadamente em eficiência energética.
Uma grande aliada da eficiência energética é a digitalização. Aproveitando o poder de tecnologias avançadas como aparelhos equipados com internet das coisas e machine learning, a digitalização permite monitoramento e gestão mais inteligente da energia consumida. O acompanhamento em tempo real do consumo de energia empodera os usuários e abre portas para uma revolução na forma como lidamos com a energia, facilitando os caminhos dos outros Ds.
Alguns países, como Reino Unido e Austrália, têm conseguido reduzir o custo da energia, aumentar a eficiência energética e acelerar a transição para a economia de baixo carbono. Uma das principais molas propulsoras desse processo é o desenvolvimento de um mercado livre de energia altamente competitivo e bem regulado, que propicia um ambiente de inovação e busca pela excelência nos serviços.
Não é para menos que a democratização do mercado de energia pode ser incluída como o quinto D da transição energética. A concorrência permite oferta de diferentes serviços e produtos para que o consumidor escolha o pacote que melhor lhe encaixa, podendo decidir a fonte de energia, negociar condições contratuais e muito mais. A abertura do mercado livre de energia será um fator decisivo no processo de descarbonização da economia brasileira, complementando e fortalecendo nos outros 4Ds, assim como aconteceu nos países desenvolvidos.