As empresas brasileiras precisam avançar para uma atuação mais sistêmica e estratégica em seus investimentos sociais, não só focar em ampliar os volumes aplicados. A visão é de Patricia Loyola e João Morais, ambos da Comunitas, organização da sociedade civil que estimula parcerias entre o setor privado e público e que organiza o relatório anual BISC (Benchmark do Investimento Social Corporativo).
“Nosso advocacy é não só que as empresas doem mais, mas que seja de forma mais estratégica, fazendo a melhor gestão dos seus investimentos. Doar por doar, sem olhar para o impacto, a gente não vê grande impacto”, diz Loyola, que é diretora de Gestão e Investimento Social da Comunitas, defendendo também que as empresas avancem em mensuração e avaliação dessa aplicação dos recursos.
Morais, por sua vez, aponta que já tem se percebido melhora qualitativa nesses investimentos, inclusive impulsionado pela pandemia, por meio de maior aproximação com o setor público. Um exemplo é o que tem ocorrido na área de saúde.
“A gente vê cada vez mais um investimento social privado sendo feito para fortalecer o SUS nos territórios, para fortalecer atenção primária do SUS nos municípios, especialmente onde empresas industriais estão colocados”, afirma o coordenador da pesquisa BISC, que teve seus dados preliminares divulgados em setembro e o relatório completo publicado no fim do mês passado.
O documento mostra que o volume de investimentos sociais em 2022 foi de R$ 4 bilhões, abaixo dos R$ 4,3 bilhões de 2021. Em relação ao lucro bruto, porém, os aportes das empresas em ações sociais de 0,69% para 0,80% entre 2021 e 2022. Apesar da ligeira alta em termos relativos, o montante está bem abaixo dos praticados nos melhores anos da série, entre 2010 e 2013.
A pesquisa mostra também que as empresas consultadas apontavam que operariam em 2023 com relativa estabilidade na comparação com 2022. Outro ponto que ela traz é que tem havido crescente alinhamento do investimento social corporativo aos negócios. “Esta tendência, que ganhou bastante força nos últimos anos, foi interpretada pelos participantes como consolidada, tendo vencido uma espécie de tabu anterior que preconizava pelo distanciamento entre as agendas sociais e o negócio. De todo modo, a trajetória desta consolidação, assim como seus efeitos e desafios, variam bastante”, diz o material.
Com a aproximação do Natal e do Ano Novo é natural que se fale em mais solidariedade. Que esses ventos ajudem também as empresas a ampliarem sua generosidade em 2024, mas, ainda mais importante, que elas sejam mais efetivas em transformar realidades locais, sem prejuízo das ações paliativas. Um feliz ano novo a todos.